Folha de S. Paulo
Por que as escolas não conseguem ensinar o
beabá do pensamento crítico?
Darwinismo
social é o nome que se dá a um conjunto de teses que procuravam
legitimar diferenças raciais e de classe. Evocando a noção de "sobrevivência
dos mais aptos", ideólogos como Herbert Spencer e Francis Galton sugeriam
que os mais ricos e mais poderosos estavam nessa posição porque eram
inerentemente superiores. Baseado mais numa falácia (a do apelo à natureza) do
que na leitura rigorosa dos textos do naturalista inglês, o darwinismo social
teve seu apogeu no final do século 19 e início do 20, caindo em opróbrio após a
2ª Guerra Mundial.
Se ainda fosse necessário buscar dados empíricos para desmentir o darwinismo social, a pesquisa do Sou Ciência (Centro de Estudos Sociedade, Universidade e Ciência), da Unifesp, sobre a vacinação contra Covid no Brasil funcionaria como prova irrefutável. A sondagem mostrou que foram justamente os mais ricos e os mais instruídos, supostamente os mais "aptos", os que menos se imunizaram.
Dos que têm renda superior a seis salários
mínimos, 59% tomaram duas ou mais doses da vacina, contra 86% dos que ganham
até um salário mínimo. Já a proporção de imunizados entre os detentores de
diploma universitário é de 68%, contra 89% entre os que só têm ensino
fundamental.
O mais provável é que considerações
políticas tenham afetado a decisão dos mais ricos e instruídos sobre
vacinar-se. Esse grupo também é mais bolsonarista, e os bolsonaristas se
imunizaram menos.
Sempre insisti aqui que é um mito a ideia de que mais educação e mais
informação fazem com que as pessoas votem melhor. Mas confesso que esperava
que, passando do registro do voto para o da sobrevivência, a análise racional
de evidências, que pode ser ensinada nas escolas, prevalecesse sobre os
aspectos emocionais que afetam o posicionamento político. Aparentemente, não é
o que ocorre.
É o caso de descobrir por que as escolas
não conseguem ensinar o beabá do pensamento crítico.
Um comentário:
Posição política vem mais do caráter da pessoa que de sua formação intelectual.
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