Cresce entre aliados do pedetista a possibilidade de o partido, oficialmente, se declarar neutro, mas liberando filiados a apoiar o petista
Por Camila Zarur / O Globo
A três semanas do primeiro turno e sem
reação do ex-ministro Ciro Gomes (PDT) nas pesquisas de intenção de voto,
pedetistas já discutem o caminho que tomarão num eventual segundo turno e se
será possível o partido repetir 2018, quando se aliou ao PT contra Jair
Bolsonaro. Ainda não há um martelo batido sobre o assunto, mas integrantes da
sigla concordam que, diante dos frequentes
ataques do ex-ministro ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, está
ficando cada vez mais difícil a legenda engrossar a candidatura petista sem
soar incoerente. A hipótese de Ciro
se aliar a Lula também já é descartada por aliados.
Neste cenário, começa a crescer entre
aliados do pedetista a possibilidade de o partido, oficialmente, declarar
neutralidade, mas liberando filiados a apoiar o petista. Essa possibilidade é
defendida nos bastidores por integrantes dos diretórios do Rio Grande do Sul e
entre alguns membros do partido em São Paulo. O único veto seria o apoio a
Bolsonaro.
— Com Bolsonaro jamais. Mas não dá para falar de segundo turno agora, porque isso seria enfraquecer a nossa candidatura. Tudo pode mudar até lá, e nós faremos o possível para isso — afirma o presidente do PDT, Carlos Lupi.
Ciro aparece em terceiro nas pesquisas de
intenção de voto, mas distante dos dois adversários, com mais de dois dígitos
de diferença. Apesar do discurso otimista de Lupi, uma virada é vista como
difícil de acontecer, visto que uma parcela considerável dos eleitores ciristas
diz que pode ainda mudar de voto.
Hoje, a única definição sobre os rumos do
PDT após o primeiro turno é que a Executiva do partido irá se reunir assim que
sair o resultado da primeira votação, no dia 2 de outubro. É o mesmo que
fizeram em 2018, ocasião que discutiram se apoiavam Fernando Haddad (PT), então
candidato à Presidência, contra Bolsonaro, ou se se abstinham. No final,
optaram pela primeira opção, desde que fosse de forma crítica.
Voto de Ciro
Segundo pedetistas presentes nessa reunião,
o que pesou para o apoio ao PT foi justamente a posição de Ciro e de seu irmão,
o senador Cid Gomes (CE), em prol de Haddad. Os dois defenderam a aliança como
forma de fortalecer o acordo do PDT com petistas no Ceará, berço eleitoral da
família.
Agora, aliados acreditam que dificilmente o
mesmo se repetirá nesta eleição. Já não há mais o acordo com os petistas no
estado, além de haver um ressentimento de Ciro com Lula e o PT. A mágoa vem
desde 2018, quando os petistas não apoiaram a candidatura do ex-ministro à
Presidência, já que o ex-presidente estava impedido de concorrer por questões
judiciais.
Por causa disso, a expectativa é que Ciro
não diminua o tom das críticas nem mude sua conduta em relação a Lula, mesmo
que isso possa ter consequências para o PDT — os ataques causam incômodo entre
petistas. Na avaliação de pedetistas, será difícil para quem hoje vota no
ex-ministro entender a mudança de postura da sigla. Essa avaliação é
compartilhada tanto pelos pedetistas que defendem se aliar a Lula no segundo
turno quanto aqueles que preferem a neutralidade. Eles acreditam que mesmo um
apoio crítico, como o de 2018, seria visto como incoerente e poderia soar até
mesmo oportunista.
Caso o partido opte pela neutralidade, na
prática o que acontecerá é que os membros do PDT estarão liberados a apoiar
Lula. Alguns diretórios estaduais já deixam claro sua preferência pelo petista
no segundo turno. É o caso, por exemplo, do Maranhão, Rio Grande do Norte, Rio
de Janeiro e Santa Catarina — esses dois primeiros, inclusive, já dão apoio ao
ex-presidente, mesmo tendo Ciro na corrida eleitoral.
— Toda eleição que houve até hoje, o
(Leonel) Brizola apoiou o Lula. O que está em jogo é a luta do opressor contra
o oprimido, e o PDT sempre esteve ao lado do oprimido. Acho que deveríamos
apoiar o Lula, mas isso sou eu. Só após a reunião da Executiva vamos saber a
posição do partido, se apoiaremos Lula ou se vamos nos abster — diz o
secretário-geral do PDT, Manoel Dias, presidente do diretório de Santa
Catarina.
Há, por outro lado, os pedetistas que dizem
não ver diferença entre a vitória de Lula e a de Bolsonaro e, por isso,
preferem que o PDT não declare apoio ao petista.
Um comentário:
Tem toda diferença do mundo uma vitória lulista ou bolsonarista,é a civilização e a barbárie,mesmo consciente que não há santidade no planeta terra,lugar de santo é no céu.
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