quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Hélio Schwartsman - Indulgência como dever

Folha de S. Paulo

Marina Silva superou desavenças com PT; Ciro Gomes, não

Dizem que a ingratidão é dever dos políticos. A indulgência, também. Quem tem a espinha muito dura e não consegue superar desavenças pretéritas tende a ter problemas nesse meio. Marina Silva parece ter sido capaz de deixar o passado para trás; Ciro Gomes, não.

Ambos têm motivos para guardar mágoas do PT. Marina militou por três décadas no partido. No governo Lula, foi ministra do Meio Ambiente, cargo do qual pediu demissão após um processo de fritura explícita. Em 2014, já fora do PT, quando disputava a Presidência e aparecia bem nas pesquisas, sofreu, da campanha de Dilma Rousseff, ataques abaixo da linha da cintura. Há quem identifique no episódio o início do processo de deterioração da política brasileira.

Ciro nunca pertenceu ao PT, mas foi um aliado fiel tanto de Lula como de Dilma. Na campanha presidencial de 2018, porém, viu as alianças que tentava construir sabotadas pelo PT, o que provavelmente era desnecessário já que a eleição seria em dois turnos.

Não há dúvida de que o PT é fominha e nem sempre generoso com aliados de outras legendas. Creio, porém, que esse comportamento seja mais fruto de uma virtude do que de um defeito da sigla. Os partidos brasileiros são, em geral, amontoados de letras aos quais os políticos precisam se filiar para disputar cargos, sem nada que os una ideologicamente. O MDB é de esquerda ou de direita? O PT está entre as exceções, já que tem uma linha programática identificável a unir seus integrantes, que atuam como um grupo. Embora essas sejam características desejáveis num partido, elas também tendem a produzir algumas das chamadas patologias do pensamento de grupo, como a radicalização.

Não estou, com essas observações, chancelando as sacanagens perpetradas. Caberia às lideranças identificar limites éticos que não poderiam ser ultrapassados e manter o partido dentro deles. Ao fim do dia, somos a soma das nossas escolhas morais.

4 comentários:

Anônimo disse...

O jornalista falar em escolha moral e falar em PT e Lula são incompatíveis, sinto muito isso tudo parece um teatro do horror

Anônimo disse...

As lideranças petistas não parecem ter condição de "identificar limites éticos". Elas seguidamente os ultrapassaram, atacando Marina, Ciro, desrespeitando Cristovam Buarque e outros que as desagradavam momentaneamente. Além disso, muitas delas estavam mais preocupadas em se defender das acusações da Justiça do que com a ética propriamente.

Anônimo disse...

Mas reconheço que tais lideranças petistas, comparadas a Bolsonaro e seus comparsas, são seres celestiais!

ADEMAR AMANCIO disse...

Disse tudo o último comentário,qualquer atrocidade petista diante do bolsonarismo é briga de criança - Sem contar que a Marina revidou muito bem,apoiando Aécio no segundo turno e,também,apoiando o impeachment da Dilma,ninguém é santo nessa história.