Valor Econômico
A informação de que vários nomes cogitados
têm vínculo próximo com o secretário criou preocupações entre analistas do
mercado
Quase todos os nomes que apareceram
ultimamente como fortes candidatos a sucessor do diretor de política Monetária
do Banco Central, Bruno Serra, têm algo comum: são próximos, ou até amigos, do
secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo. A escolha, a
ser feita nos próximos dias, poderá moldar as relações entre a Fazenda e o BC.
É vista, também, como uma peça no xadrez na escolha do substituto do presidente
do BC, Roberto Campos Neto, cujo mandato termina no fim de 2024.
Rodolfo Fróes foi diretor da corretora do
Fator, cujo conglomerado financeiro era presidido por Galípolo. Foi por
indicação do atual secretário-executivo da Fazenda que se tornou membro do
conselho do Fator. Na semana passada, chegou a ser considerado o favorito, e
sua indicação foi tornada pública. Sua vantagem na disputa era justamente ter
alguma experiência no mercado financeiro, ainda que não tenha comandado uma
grande tesouraria nem tenha construído uma reputação de grande operador no
mercado. Mas perdeu força depois de ficar exposto ao sereno, recebendo ataques
de setores petistas por ter criticado a ex-presidente Dilma nas mídias sociais,
por ter dado declarações e apoiado candidato do Partido Novo e por suas
relações com a JBS.
Marcello Negro, que comandou a tesouraria do Fator e, mais recentemente, era diretor da administradora de recursos do banco, é outro cotado com experiência no mercado financeiro. Apesar de comentários de que ele não está mais no páreo, depois de assumir o cargo de assessor especial de Galípolo, algumas fontes insistem em dizer que ele é uma hipótese na mesa.
Outro nome considerado é o economista-chefe
da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Igor Rocha, que é amigo
pessoal de Galípolo. Pessoas muito próximas dele dizem que Rocha é um
economista não ortodoxo competente e preparado, mas sem expertise em política
monetária. Sua linha econômica e o fato de ser assertivo podem trazer alguns
aliados entre as alas petistas mais à esquerda, que defendem um nome que possa
confrontar publicamente a política monetária mais austera de Campos Neto.
Falta, porém, conhecimento das pessoas e engrenagens do mercado financeiro,
requisito fundamental para quem será responsável pelas mesas de câmbio e juros
do Banco Central e teria que atuar para garantir a estabilidade financeira num
ambiente internacional tão perigoso.
Por fim, outro nome que está sendo cogitado
é o do professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e economista-chefe do Banco
Master, Paulo Gala. Ele tem alguma experiência no mercado financeiro, como
estrategista da corretora do Fator e gestor de fundos multimercado. Também tem
uma proximidade de longa data com Galípolo, com quem escreveu o trabalho
acadêmico intitulado “Notas para uma avaliação do discurso marxista em Douglass
North”, publicado em 2008. Galípolo, Gala e Rocha se aproximaram em grupos de
estudo do professor da PUC-SP e da FGV-SP José Marcio Rego. Em entrevista a
repórter Larissa Garcia, do Valor,
Gala negou que tenha sido sondado, mas fontes confirmam que o nome dele também
está sobre a mesa.
As indicações de Galípolo são relevantes
porque, além de ser o segundo na hierarquia do Ministério da Fazenda, ele tem
contato direto com o presidente Lula. Sua aproximação foi feita por meio do
economista Luiz Gonzaga Belluzzo, que nos dois primeiros mandatos de Lula foi
um influente conselheiro informal. Bellluzzo, inclusive, quase se tornou ele
próprio presidente do Banco Central, em 2008, em uma operação fracassada de
substituição de Henrique Meirelles.
Ainda assim, Galípolo não tem superpoderes
para fazer sozinho o futuro diretor do BC. Na formação do governo, por exemplo,
ele queria comandar o BNDES, mas ele foi preterido por Aloizio Mercadante.
Também não teve força para emplacar Rocha no ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio. Teve barrados pela deputada paranaense e presidente do
PT, Gleisi Hoffmann, nomes que queria na equipe da Fazenda.
A interlocutores, Galípolo nega que esteja
se movimentando para fazer o novo diretor do Banco Central. Seu argumento é que
cumpre o papel de assessoramento do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que
por sua vez é um dos ouvidos pelo presidente Lula nesse processo de escolha.
Uma fonte ouvida pelo Valor pontua
que, nesse processo, foram cogitados outros nomes, como os economistas Sergio
Goldenstein, da Warren, e o ex-BC Tony Volpon.
Galípolo, entre todos os membros do governo
Lula, é um dos mais cuidadosos nas suas declarações sobre a política de juros
altos pelo Banco Central, e tem mantido um bom diálogo técnico com a autoridade
monetária.
Ainda assim, a informação de que vários
nomes cogitados têm um vínculo tão próximo com ele criou preocupações entre
analistas do mercado. Todos estão preparados para que o Copom tenha um membro
de linha diferente da equipe atual, que é muito homogênea e raramente tem
dissidências em suas votações. Mas seria diferente alguém que tenha tanta
proximidade, e possivelmente uma falta de independência, a um membro da equipe
econômica.
Campos Neto fez parte da equipe que
formulou o plano de governo de Bolsonaro, mas no cargo ele se manteve
independente do ministro da Economia, Paulo Guedes, que chegou a criticar a
execução da política monetária.
O quadro é um pouco mais complexo porque, entre os quadros ligados ao PT, Galípolo costuma ser lembrado como um possível sucessor de Campos Neto. Ele próprio, a interlocutores, vem negando que esteja se cacifando a alguma outra posição e costuma repetir que está satisfeito em trabalhar com o Haddad e a equipe da Fazenda. Mas uma eventual indicação para presidente do BC independe de sua vontade própria - e será inevitável que um diretor indicado por ele seja visto como o início da transição para a nova administração.
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