O Globo
Pasta continua infestada de bolsonaristas;
tática de esvaziá-la aos poucos não funcionou
No primeiro dia à frente do Gabinete de
Segurança Institucional, o ministro interino Ricardo Cappelli brincou com
aliados sobre a própria nomeação: “Quando o pessoal não sabe o que fazer com um
abacaxi verde e cheio de espinhos, manda entregar na minha sala...”.
O número dois do Ministério da Justiça
virou o bombeiro do governo Lula. Em janeiro, foi encarregado de apagar o
incêndio na segurança do Distrito Federal. Agora terá que debelar a crise que
derrubou o general Gonçalves Dias.
Entre muitos abacaxis que Lula herdou do
antecessor, o GSI é um dos mais difíceis de descascar. Nos últimos quatro anos,
o órgão foi comandado por Augusto Heleno, decano da extrema direita militar.
O general voltou a vestir o pijama, mas
deixou como legado uma pasta infestada de radicais. O novo governo demorou a
afastá-los, o que ajuda a explicar a facilidade com que os golpistas invadiram
e depredaram o Planalto.
Em vez de desbolsonarizar o órgão de uma vez, Lula escolheu esvaziá-lo em doses homeopáticas. Transferiu sua segurança para a Polícia Federal e deslocou a Abin para a Casa Civil. O GSI foi reduzido a um órgão zumbi, com poucas atribuições e sem razão clara de existir.
Quando voltar da viagem a Portugal e
Espanha, o presidente terá que definir o futuro da pasta. Uma das opções é
extingui-la. Isso já foi tentado por Dilma Rousseff, mas a medida só aumentou a
animosidade dos quartéis contra o PT.
Outra alternativa é reestruturar a pasta e
entregá-la a um civil. Seria algo inédito desde 1938, quando Getúlio Vargas
mudou a estrutura da Presidência e criou o Gabinete Militar. Ele havia acabado
de enfrentar o putsch dos integralistas, cujo lema “Deus, pátria e família”
seria ressuscitado depois de oito décadas por Bolsonaro.
Horas antes de demitir o ex-chefe do GSI,
Lula tentou vender a ideia de que havia recuperado a confiança nos militares.
“Esse Exército não é mais o Exército de Bolsonaro. É o Exército de Caxias”,
disse, em solenidade no Planalto. A frase soou tão sincera quanto as desculpas
de G. Dias para sua inação diante dos extremistas que vandalizaram o palácio.
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