O Estado de S. Paulo
Na visão dos investidores, o prêmio de risco do Brasil já não deveria ser tão salgado
Os preços da Bolsa, do câmbio e dos
contratos de juros estão em busca de um novo equilíbrio com a apresentação do
projeto de lei complementar do novo arcabouço fiscal. Ainda não dá para dizer
qual é esse novo equilíbrio, mas o que está claro na visão dos investidores é
que o prêmio de risco do Brasil já não deveria ser tão salgado.
A Bolsa deveria estar num nível maior do
que o atual; o dólar, mais próximo do valor justo ante o real, o que, para
muitos, é bem abaixo de R$ 5,00; e os juros futuros, com taxas menores. Ou
seja, o rali nos preços dos ativos brasileiros tem espaço para continuar, mas a
questão é até onde.
A melhora inicial da percepção do risco fiscal foi sancionada pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, quando disse que a proposta do arcabouço fiscal elimina o chamado “risco de cauda” de uma trajetória explosiva da dívida pública, ou a probabilidade de perdas extremas para os investidores em caso de um aumento desordenado do endividamento se o governo Lula endossasse um descontrole dos gastos públicos.
A recuperação nos preços dos ativos
brasileiros nos últimos dias foi também em razão da melhora externa, com a
aposta de que o aperto monetário nos EUA está perto do fim. Mas o texto final
das regras do arcabouço, com aperfeiçoamentos desde que o seu esboço inicial
foi apresentado, deu um impulso ao otimismo em relação às contas públicas, pois
alguns ajustes tornaram o controle das despesas mais rígido do que o
inicialmente entendido pelo mercado.
Um deles foi o de levar em conta apenas as
receitas recorrentes para fixar o crescimento real das despesas, reduzindo o
risco de transformar ganhos de receitas extraordinárias em aumentos de gastos
permanentes. O outro foi o de limitar em R$ 25 bilhões o bônus para
investimentos adicionais, pois, antes, tudo o que superasse a meta de resultado
primário seria canalizado para investimentos. Agora, parte do excesso será
usada para melhorar as contas do governo.
Foi ainda crucial para o rali dos ativos o
apoio público do presidente Lula ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em
meio a críticas do PT ao arcabouço fiscal. O aspecto político pesou tanto
quanto o ajuste técnico.
A dúvida agora é sobre a execução do arcabouço,
em razão de premissas otimistas, como o crescimento do PIB, e da capacidade de
o governo conseguir fechar as brechas na arrecadação tributária, eliminando
“jabutis” e aumentando receitas. Mas Haddad já foi derrotado na taxação das
compras internacionais entre pessoas físicas até US$ 50.
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