Folha de S. Paulo
As tradicionalistas são muitas, mas não são
poucas as mulheres que querem paridade
Não é novidade que o partido Novo é velho. A votação da igualdade salarial entre homens e mulheres no exercício de mesma função apenas o confirmou. Três deputados Novos ficaram contra. Poucos, mas recobrem a circunferência da bancada. Gilson Marques a vocalizou com argumento figurinha carimbada contra medidas corretivas da desigualdade. É o que começa sem bater de frente: "É óbvio que nós todos aqui queremos a igualdade de direito". Depois, acusa os reformistas de ingenuidade: "Esse projeto bota nas costas do empreendedor uma série de responsabilizações e multas que vão inibir a contratação das mulheres". Em nome da economia, manda os direitos para a cucuia.
O projeto, até Carluxo notou no Twitter, é
uma redundância. A Constituição, artigo 5, dita: "homens e mulheres são
iguais em direitos e obrigações". Quando uma lei precisa do calço de outra
é porque não rege a prática.
Muitos a aplaudiram, não todos. Os 36
parlamentares contrários (afora 3 abstenções) contam com endosso dos
confortáveis com o desbalanço de poder e de dinheiro. As mulheres ocupam 37,4%
das chefias e auferem 77,7% do que homens em mesmíssima função. Isso diz o site
da Câmara, casa de 513 cadeiras, nas quais se
sentam apenas 91 deputadas. Esta realidade empurrou Simone
Tebet a erguer o tema nas eleições e na montagem do governo.
A hierarquia de gênero está aí não é de
hoje, mas ex-presidente e tropa a reavivaram em prosa, verso e voto. O Partido Liberal deu
26 cédulas contrárias ao projeto, do príncipe sem coroa ao 03, passando pelo
ex-ministro da motosserra. Liberais como Stuart Mill, paladino do voto
feminino, se espantariam com tal liberalismo. Incoerência longe de avulsa.
Também o Democratas desonrou o nome no voto de Kim Kataguiri.
De Deltan
Dellagnol, lava-jatista sommelier de laptops, não se esperaria lógica
mesmo.
Esses homens contrários podem produzir
raiva, não surpresa. Mais espécie causou a dezena de deputadas afoitas em
garfar direito alheio —afinal, seus proventos seguem idênticos aos de colegas
homens. Não foi por ignorância. Todas cursaram faculdade, em maioria a de
direito, como a filha de Eduardo Cunha,
Danielle.
Nem foi expressão de uma geração antiquada.
No pacote, há quatro senhoras, mas predominam as moças. As catarinenses
Caroline de Toni e Julia Zanatta estão na casa dos trinta, da qual a gaúcha Any
Ortiz anda perto. A caçula da turma é Chris Tonietto, carioca no esplendor dos
31 anos, ativa no movimento pró-vida, isto é, antiaborto.
Votos que soaram contrassenso para
feministas, não para todas as eleitoras. Desde a legislatura passada, Carla
Zambelli, Bia Kicis e Adriana Ventura representam as que se definem como
ajudantes, seguidoras ou subordinadas a pais, irmãos e maridos. Rosângela Moro
(a do "eu moro com ele") veio integrar o time. Nem tentou voz
própria, repetiu Gilson Marques: "Na forma como o projeto se encontra,
poderá desestimular a contratação de mulheres, causando um efeito contrário à
iniciativa da proposta". Nem educação superior, nem juventude carregaram
essas mulheres para a modernidade.
As tradicionalistas são muitas, mas não são
poucas as mulheres que querem paridade. Talvez por isso a líder das senhoras de
bem na campanha eleitoral se
retratou depois de declaração anticotas para mulheres. A ex-primeira dama,
que de boba não tem nada, sabe o tamanho desse eleitorado.
*Professora de sociologia da USP e pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento
Um comentário:
As deputadas tradicionalistas,para manter a coerência,deviam voltar para os seus lares,quer dizer,tomar conta do lar e não do congresso.
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