Folha de S. Paulo
Não é cedo para pensar na eleição do ano
que vem, já que hoje a campanha é constante
Imagino que o MST não
queria piorar as chances da esquerda na maior cidade do país nas eleições de
2024, mas até agora é isso que a retomada de
invasões tem conseguido: servir de plataforma para a direita.
Toda a CPI do MST parece
um evento sob medida para lançar a candidatura de Ricardo
Salles e prejudicar Guilherme
Boulos. Ele já anunciou que colocará sob holofote não apenas o
MST como também o MTST, o movimento pela moradia urbana que, até onde se sabe,
não tem absolutamente nada a ver com as invasões ou ocupações rurais recentes.
O único motivo para isso é tentar jogar Guilherme Boulos —líder do MTST— na pior luz possível; mostrá-lo como um radical que patrocina a invasão de casas, os protestos violentos e a depredação da propriedade.
Ao mesmo tempo, sinalizou também que deve
pegar leve com o governo
Lula, adotando um tom conciliador e moderado, imagem que será
necessária se quiser conquistar o eleitorado paulistano de centro num possível
segundo turno.
Estamos ainda em 2023; não é cedo demais
para pensar na campanha do ano que vem? Não. Hoje mais do que nunca, a campanha
é constante. A comunicação do governo e da oposição, ou de diferentes
candidatos a um cargo, não pode parar um segundo. Quem para dá espaço para seu
adversário falar sozinho e monopolizar os ouvidos da multidão.
Para Guilherme Boulos, enfrentar Salles não
é nada ruim. Ele também é bom de mobilizar o eleitorado mais aguerrido e de
engajamento nas redes. No ano passado, Bolsonaro perdeu na capital. Uma
reedição de Lula e Bolsonaro tende a favorecê-lo.
O único que pode quebrar essa lógica
é Ricardo
Nunes, o prefeito, que assumiu a prefeitura desde a morte
de Bruno Covas em
maio de 2021. Mas é pouco conhecido da população e ainda não tem uma marca
clara para seu mandato. Tudo o que se pode dizer até agora é que ele não está
em nenhum dos extremos.
Se Nunes chegar ao segundo turno com um dos
dois radicais, tem boas chances de vencer. O problema é chegar lá.
A cada eleição, temos visto o conflito de
duas formas de se fazer política: a aposta no sistema —acordos com caciques
partidários e lideranças sociais, aposta no uso da máquina administrativa,
campanha de rádio e TV— e a aposta no contato direto com o eleitor —um discurso
que empolgue grande parte do eleitorado, presença forte nas redes, ainda que
sem muita estrutura de campanha.
Nenhum dos dois tem a palavra final, claro,
e imagino que seja possível encontrar exemplos para ambos os lados, mas o apelo
popular direto tem tido mais força e quem aposta todas as suas fichas na
"máquina" tem saído decepcionado. Basta lembrar da candidatura de Alckmin
em 2018 e Rodrigo
Garcia em 2022. Apoio de lideranças não se traduz
necessariamente em votos.
O velho sistema tem um trunfo. Até agora,
líderes do PL não
parecem apoiar a candidatura de Salles. Ele é deputado pelo PL e não pode sair
do partido sem perder o mandato. Assim, optar por uma legenda menor para
concorrer contra os desígnios do PL seria um risco grande demais. Então, ele
fica mesmo na pendência de negociar com o PL e agradar as lideranças certas
para conseguir a candidatura. E não haverá moeda melhor nessa negociação do que
intenções de voto favoráveis; mais motivo para ele aparecer o quanto puder
desde já. Quem não fizer o mesmo, corre o sério risco de se afogar.
Um comentário:
Cruzes!
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