quinta-feira, 4 de maio de 2023

Vinicius Torres Freire - Copom não dá sinal de Selic menor

Folha de S. Paulo

Dúvida agora é saber se governo vai ficar na crítica retórica ou vai mexer na economia

Se a Selic ficar em 13,75% até bem entrado o ano de 2024, a inflação baixa até a meta de 3%. É a mensagem do Banco Central no comunicado em explicou a decisão de manter a taxa básica de juros nas alturas. Sem novidade.

Agora, o mais interessante ou menos desinteressante é saber se o governo Lula vai reagir com alguma atitude descabelada, como alterar a meta de inflação em junho, por exemplo. Ou se o presidente da República vai contar com mais empresários aliados nos ataques ao BC.

Sim, o BC pode vir a mudar de ideia. A Selic pode baixar se:

O preço de commodities (petróleo, minérios, grãos etc.) cair em reais (o que depende também de dólar, claro);

Se a economia mundial esfriar, em especial por causa de uma crise de crédito, derivada do rolo nos bancos no exterior;

Se o Congresso aprovar um arcabouço fiscal que caia nas graças dos donos do dinheiro grosso. Isto é, se o teto de Lula-Haddad levar o povo do dinheiro a acreditar que a dívida pública vai crescer bem menos;

Se houver tombo feio no crédito no Brasil.

Como de costume, só vai ser bom se for ruim, quanto ao mais provável: a Selic será menor apenas se a economia brasileira e mundial estiver sem crédito e fôlego.

A alternativa é os donos do dinheiro acreditarem que o dito arcabouço fiscal vai resultar em superávits primários (gaste menos do que arrecada, sem contar juros) e conter o crescimento da dívida pública.

É bem improvável que a finança e seus porta-vozes acreditem nisso, em superávits primários bastantes. Ou que o Congresso vá dar uma apertada geral no arcabouço a ponto de aumentar a possibilidade de que as contas do governo fiquem no azul —não vai acontecer. O arcabouço tira um bode da sala, mas outros ainda estão mastigando o tapete e o sofá.

De mais imediato, a perspectiva para a Selic pode mudar se houver logo um tombaço ora inesperado nos salários e, talvez, por tabela, na inflação de serviços. Ou um acidente como uma crise financeira aflitiva no mundo rico.

Isto posto, o que Lula vai fazer?

Mexer na meta de inflação de 2024 ou de anos seguintes não faria efeito relevante, mesmo acreditando que tal mudança não provocasse efeitos colaterais (provoca). Essa é a crença juvenil da maior parte do governo, do PT e da esquerda.

No que diz respeito à influência da Selic na atividade econômica, metade ou mais de 2024 já foi para o vinagre. Poderia até haver, por sorte, melhora nas condições financeiras em geral (melhora em juros futuros, juros no exterior, dólar, risco de crédito do Brasil, preço de petróleo e outras commodities, no mercado de capitais etc.). Mas a Selic não vai cair com rapidez bastante para aquecer 2024.

Uma alternativa é Lula e companheiros continuarem a bater no BC e na Selic sem tomar outra atitude quanto ao BC e metas. Neste caso, apenas mantêm o discurso, a saudação à bandeira anti-neoliberal, e aumentam seu estoque de "eu avisei!", em caso de fracasso econômico, que será colocado na conda do BC.

Uma opção mais arriscada é recorrer a "políticas anticíclicas" mais ou menos doidivanas. Por exemplo, fazer com que bancos públicos, em especial o BNDES, concedam empréstimos maciços a juros camaradas. É um recurso que, além de desesperado, terá efeitos colaterais imediatos.

Por fim, já no universo dos contos de fada, o governo poderia se render e promover um aperto duro nos gastos. Já não está acontecendo.

Por fim, a previsão de inflação do BC para 2024 caiu um tico, um fio de cabelo (isto em um cenário em que a Selic fica na mesma até fins do ano que vem). A dureza da política monetária deve ajudar outro tanto, contendo um pouco de expectativas de inflação e o dólar. O refresco é mínimo, porém.

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Bagunça...