Folha de S. Paulo
Dúvida agora é saber se governo vai ficar
na crítica retórica ou vai mexer na economia
Se a Selic ficar em 13,75% até bem entrado
o ano de 2024, a inflação baixa até a meta de 3%. É a mensagem do Banco Central no
comunicado em explicou a decisão
de manter a taxa básica de juros nas alturas. Sem novidade.
Agora, o mais interessante ou menos
desinteressante é saber se o governo Lula vai
reagir com alguma atitude descabelada, como alterar a meta de inflação em
junho, por exemplo. Ou se o presidente da República vai contar com mais
empresários aliados nos ataques ao BC.
Sim, o BC pode vir a mudar de ideia. A Selic pode baixar se:
O preço de commodities (petróleo, minérios,
grãos etc.) cair em reais (o que depende também de dólar, claro);
Se a economia mundial esfriar, em especial
por causa de uma crise de crédito, derivada do rolo nos bancos no exterior;
Se o Congresso aprovar um arcabouço fiscal
que caia nas graças dos donos do dinheiro grosso. Isto é, se o teto de Lula-Haddad
levar o povo do dinheiro a acreditar que a dívida pública vai crescer bem
menos;
Se houver tombo feio no crédito no Brasil.
Como de costume, só vai ser bom se for
ruim, quanto ao mais provável: a Selic
será menor apenas se a economia brasileira e mundial estiver sem crédito
e fôlego.
A alternativa é os donos do dinheiro
acreditarem que o dito arcabouço
fiscal vai resultar em superávits primários (gaste menos do que
arrecada, sem contar juros) e conter o crescimento da dívida pública.
É bem improvável que a finança e seus
porta-vozes acreditem nisso, em superávits primários bastantes. Ou que o
Congresso vá dar uma apertada geral no arcabouço a ponto de aumentar a possibilidade
de que as contas do governo fiquem no azul —não vai acontecer. O arcabouço tira
um bode da sala, mas outros ainda estão mastigando o tapete e o sofá.
De mais imediato, a perspectiva para a
Selic pode mudar se houver logo um tombaço ora inesperado nos salários e,
talvez, por tabela, na inflação de serviços. Ou um acidente como uma crise
financeira aflitiva no mundo rico.
Isto posto, o que Lula vai fazer?
Mexer na meta de inflação de 2024 ou de
anos seguintes não faria efeito relevante, mesmo acreditando que tal mudança
não provocasse efeitos colaterais (provoca). Essa é a crença juvenil da maior
parte do governo, do PT e da esquerda.
No que diz respeito à influência da Selic
na atividade econômica, metade ou mais de 2024 já foi para o vinagre. Poderia
até haver, por sorte, melhora nas condições financeiras em geral (melhora em
juros futuros, juros no exterior, dólar, risco de crédito do Brasil, preço de
petróleo e outras commodities, no mercado de capitais etc.). Mas a Selic não
vai cair com rapidez bastante para aquecer 2024.
Uma alternativa é Lula e companheiros
continuarem a bater no BC e na Selic sem tomar outra atitude quanto ao BC e
metas. Neste caso, apenas mantêm o discurso, a saudação à bandeira
anti-neoliberal, e aumentam seu estoque de "eu avisei!", em caso de
fracasso econômico, que será colocado na conda do BC.
Uma opção mais arriscada é recorrer a
"políticas anticíclicas" mais ou menos doidivanas. Por exemplo, fazer
com que bancos públicos, em especial o BNDES, concedam empréstimos maciços a
juros camaradas. É um recurso que, além de desesperado, terá efeitos colaterais
imediatos.
Por fim, já no universo dos contos de fada,
o governo poderia se render e promover um aperto duro nos gastos. Já não está
acontecendo.
Por fim, a previsão de inflação do BC para 2024 caiu um tico, um fio de cabelo (isto em um cenário em que a Selic fica na mesma até fins do ano que vem). A dureza da política monetária deve ajudar outro tanto, contendo um pouco de expectativas de inflação e o dólar. O refresco é mínimo, porém.
Um comentário:
Bagunça...
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