Folha de S. Paulo
Quase ninguém em Lula 3 entende rudimentos
de finança e, assim, joga dinheiro pela janela
O presidente da República deve ter
facilidades para demitir o
presidente do Banco Central. Tal poder é tão mais justo quando se trata
de Luiz Inácio
Lula da Silva e de um presidente do BC nomeado por Jair
Bolsonaro, que fica no cargo até 2024, se quiser, pois tem mandato legal.
É o que disse o ministro Rui Costa, da
Casa Civil, em um almoço com parlamentares. A Selic e outras taxas de juros
ainda estão nas alturas em parte por declarações como estas, de Costa ou de
Lula.
O país "legitimou" um novo projeto econômico por meio da eleição de Lula, o que se sobrepõe à ideologia de uma pessoa, Roberto Campos, que preside o BC, segue o ministro.
Para começar, essa conversa revela que
Costa tem escassa compreensão de como funciona o Banco Central. Além disso,
sugere a primazia de políticas de governo sobre políticas de Estado (se muda o
governo, tudo pode ser virado do avesso). Pode ser o caso, mas onde está a
proposta de mudança institucional?
Até agora, o governo ladra, mas não morde,
em parte porque a derrubada da autonomia do BC não vai passar no Congresso. Se
passasse, qual o plano de reforma do BC? Apenas nomear
um amigo, como Lula acaba de fazer no STF ou como diz que quer
fazer na Eletrobras, por exemplo? Isso é República?
Sim, a política, o funcionamento e o grau
de subordinação do BC a diretrizes do governo podem ser objeto de debate e
mudança. Aliás, o governo já pode decidir, por exemplo, qual a meta de inflação
ou como e quando a alcançar.
Desde a eleição, o
governo apenas xinga o BC e sugere que vai mudar a meta de inflação. Essa
conversa, além dos ataques de Lula à ideia de controle da dívida pública,
provocou uma alta de juros no atacadão do mercado de dinheiro onde se definem
as taxas de financiamento da dívida do governo, que são os pisos do custo do
crédito em geral.
Foi apenas quando surgiu algum plano de
contenção de gastos ("arcabouço
fiscal") e quando melhoraram algumas condições financeiras
determinadas lá fora (como o dólar), por exemplo, que os juros no mercado
voltaram ao nível de novembro, do "Lula Day", baixa que ocorreu a
partir de maio.
O ruído sobre a mudança (aumento) da meta
de inflação ainda impede a queda mais rápida de expectativas e juros. Se o
governo já tivesse dito que não vai mexer na meta, a ser decidida no final do
mês, estaria ganhando dinheiro. Mas, com esse rumor ignaro tem dado dezenas de
bilhões aos rentistas que diz execrar.
Quase ninguém no governo Lula entende os
rudimentos do funcionamento do mercado financeiro.
Entende-se por lá, na verdade, que
"tudo é político" ou politiqueiro, mesmo. Que preços, condições
financeiras, investimento produtivo ou consumo se decidem por canetada, o que
fica evidente na palermice vexatória desse
programa "Mais Carros". É a mentalidade de deputado decidindo o
uso de emenda parlamentar ou ministros disputando a nomeação para uma superintendência
da Codevasf no interior da Bahia.
Se o governo tem outra ideia além de nomear
amigos do rei para os postos-chaves do Estado, qual é? Ainda que morra no
Congresso, qual é a sua teoria monetária moderna, por assim dizer? Apenas
baixar a Selic na marra, colocando um sultão amigo no BC, com outra
"concepção ideológica"?
Então, o que o governo vai fazer com
expectativas de inflação, juros futuros e dólar? São os indícios da disposição
dos donos do dinheiro grosso a emprestar ao governo ou a manter seu dinheiro em
reais. Em suma, o preço que cobram. Vai tabelar preços e juros, controlar saída
de capital?
É bom dar um jeito de que os endinheirados
cobrem menos. Mas qual é o plano de Lula 3 além dessas queixinhas desinformadas
e contraproducentes?
Um comentário:
Sei.
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