A crise dessa velha ordem política está
adotando múltiplas formas. A subversão das instituições democráticas por
caudilhos narcisistas que se apossam das molas do poder a partir da repugnância
das pessoas com a podridão institucional e a injustiça social: a manipulação midiática
das esperanças frustradas por encantadores de serpentes; a renovação aparente e
transitória da representação política através da cooptação dos projetos de
mudanças; a consolidação de máfias no poder e de teocracias fundamentalistas,
aproveitando as estratégias geopolíticas dos poderes mundiais; a pura e simples
volta à brutalidade irrestrita do Estado em boa parte do mundo, da Russia à
China, da África neocolonial aos neofascismos do Leste Europeu e às marés
ditatoriais na América Latina.
E, enfim, o entrincheiramento no cinismo
político, disfarçado de possibilismo realista dos restos da política partidária
como forma de representação. Uma lenta agonia daquilo que foi essa ordem
política.
*Manuel Castells. "Ruptura – A crise da
democracia liberal", p.144. Editora Zahar. Rio de Janeiro, 2017.
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