Folha de S. Paulo
Argentino tem boas chances de contar com o
apoio de republicano na Casa Branca
A posse de Javier Milei,
programada para este
domingo (10), marca o início de mais um governo ultra qualquer coisa
que chega
ao poder com apelo antissistema, sem enraizamento na política
institucional e partidária.
Como não é possível governar no vácuo, a
tendência, que já se desenha, é o novo presidente argentino recuar,
em parte, de radicalismos de campanha. Permanece no ar, ainda assim, um
risco considerável de instabilidade, como se viu em outras aventuras
semelhantes, como a de Jair
Bolsonaro no Brasil, e a de Donald Trump nos Estados
Unidos.
Não é improvável, aliás, que o anarcocapitalista portenho venha a ganhar no ano que vem o respaldo de um novo ciclo presidencial do magnata populista americano, que deverá ser o escolhido pelo Partido Republicano para enfrentar o declinante Joe Biden –caso se confirme a opção dos democratas pela reeleição do atual mandatário.
Biden enfrenta no momento enormes
dificuldades para projetar-se como um candidato competitivo, embora tenha a
vantagem de estar na Casa Branca. Trump, contudo, também estava lá quando
perdeu –e promoveu, a seguir, a patética invasão do Capitólio.
O democrata chegou ao poder mais elogiado por
representar uma volta à normalidade institucional do que por despertar
expectativas promissoras. Não tem conseguido criar a impressão de que
terá energia
e capacidade para fazer um grande segundo mandato.
Às voltas com um país e um mundo em mudança,
Biden investiu na velha lógica da política externa americana de respaldar
ativamente confrontos com a Rússia e
apoiar incondicionalmente Israel. Tem
destinado uma montanha de dinheiro para municiar a Ucrânia, país
invadido unilateralmente por Putin, e
apoiar militarmente Israel, depois do ataque
terrorista do Hamas. Ao mesmo tempo, preocupa-se com a expansão geopolítica
e diplomática da China, sob as
nuvens cinzentas que rondam as relações da potência asiática com Taiwan.
A população americana, enquanto isso, tem
dado sinais de desinteresse e impaciência com a gastança de dinheiro e o
envolvimento dos EUA em conflitos longínquos, enquanto problemas internos se
avolumam. O
lema de Trump "America First" surfa também nesse sentimento
já conhecido de que o mundo até importa, mas já não importa tanto.
Há crescente apreensão nos próprios círculos
democratas, segundo se lê, a respeito da evolução desses conflitos. O dinheiro
desembolsado pelo governo americano será bem gasto?
O cenário na
Ucrânia é desanimador. As chances de uma derrota
militar e da retirada da Rússia das posições que reivindica são nulas. No
caso de Israel, as preocupações humanitárias com o rolo compressor sobre Gaza e
o pessimismo quanto a um acordo de paz razoável geram resistências ao apoio
incondicional, que talvez prevalecesse, com menos questionamentos, tempos
atrás. Agora estão em cena novas movimentações e estratégias no rearranjo das
relações Norte-Sul e Leste-Oeste, além da percepção crítica sobre as supostas
vantagens da globalização.
Internamente, os republicanos, já de olho na
campanha, jogam
duro na aprovação de mais um grande pacote de ajudas, desta vez no valor de
US$ 100 bilhões (aproximados R$ 500 bilhões), para beneficiar sobretudo Ucrânia
e Israel. A pergunta é: por que tem tanto dinheiro para esse pessoal de fora
enquanto estamos aqui enfrentando dificuldades para superar problemas agudos
como a crise na fronteira com o México?
Biden não tem muito tempo para demonstrar que
sua política está no caminho certo. A probabilidade de que se enrole com a
situação não é pequena. Enquanto isso, Trump
esfrega as mãos e prepara-se para mais um giro pela Casa Branca. No
que contará com o brinde efusivo de seu amiguito argentino.
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