Valor Econômico
Para conseguir ter juros mais baixos é
preciso ter uma situação fiscal mais arrumada
O Brasil está conseguindo um pouso suave
(“soft landing”), uma substancial desinflação com algum crescimento econômico,
observa o economista do Insper Marco Bonomo. Esse é um fato notável, dado que a
taxa de inflação, que atingiu 10,06% em 2021, caiu para menos da metade, está
abaixo de 5%, e a expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB)
para este ano é em torno de 3%.
“Em termos de política monetária, o Banco
Central está fazendo o seu trabalho”, disse o economista, em linha com o que
tem mencionado o presidente do BC, Roberto Campos Neto, a respeito do pouso
suave.
Nem tudo é arte, acredita Bonomo, que vê também um pouco de “sorte”, o que não compromete o resultado “espetacular” que não se restringe ao Brasil, mas que o mundo tem experimentado, de combater a inflação sem se afundar em uma recessão.
“O efeito dos juros sobre o crescimento
econômico, na política anticíclica, é temporário. Por isso que baixar as taxas
de juros artificialmente pode te dar um efeito provisório sobre a atividade e
termina com uma inflação permanentemente mais alta”, avalia Bonomo.
O Brasil tem taxas de juros estruturalmente
altas, com spreads bancários (taxas de risco) também mais altos do que os
outros países e isso pode ter efeito sobre o crescimento de longo prazo.
Para conseguir ter juros mais baixos é
preciso ter uma situação fiscal mais arrumada. E, nesse aspecto, é importante
notar que, apesar das dificuldades que se colocam para o governo zerar o
déficit primário no próximo ano, a meta é zerar o déficit no seu conceito mais
restrito, que não contabiliza a conta de juros que incide sobre a dívida
pública.
Ao considerar os juros que atingiram o
montante de R$ 720,1 bilhões, equivalentes a 6,80% do PIB, no acumulado de 12
meses até outubro, o resultado nominal - conceito mais amplo das contas
públicas que inclui o primário mais o pagamento de juros - foi deficitário em
R$ 834,3 bilhões (que corresponde a 7,88% do PIB).
Isso sem contar que o governo cobra IOF
(Imposto sobre Operações Financeiras), que penaliza ainda mais a taxa de juros,
além dos depósitos compulsórios sobre depósitos à vista e a prazo, cita ele.
O sistema financeiro, no país, não é
competitivo, segundo o economista do Insper, para quem o open banking criado
pelo BC renova a esperança de se aumentar a competição. O open banking vai
permitir o compartilhamento de dados e serviços de clientes entre instituições
financeiras mediante a integração de seus sistemas.
O que gera crescimento estrutural de longo
prazo é a produtividade. E, na agenda da eficiência econômica, a parte
financeira é a que está andando mais rapidamente.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), divulgados nesta semana, o PIB do terceiro
trimestre teve um módico crescimento, de 0,1%. Na próxima semana, dia 14, o
Instituto Brasileiro de Economia (FGV Ibre) deverá divulgar um par de setores
que tiveram ganhos de produtividade.
Os cálculos ainda estavam sendo feitos, à luz
dos dados das contas nacionais, mas esses devem ter sido a agropecuária e a
construção civil.
Houve uma queda, no terceiro trimestre, de
2,5% na Formação Bruta de Capital Fixo frente ao segundo trimestre. Trata-se de
um reflexo da política monetária contracionista. Em uma visão empírica, os
juros elevados afetam mais diretamente o investimento do que o consumo, indica
Bonomo.
O consumo das famílias aumentou 1,1%, a
despeito do aperto monetário. Tal crescimento é explicado pelos programas de
transferência de renda, a continuação de melhora do mercado de trabalho e pela
queda da inflação.
Para investirem no país, as pessoas precisam
ter confiança. “E temos uma longa história de instabilidade macroeconômica”,
analisa Bonomo.
E, mais uma vez, o enfrentamento do
desequilíbrio fiscal, assim como o cuidado com o meio ambiente, é muito
importante para inspirar confiança.
Afinal, a questão fiscal está relacionada à
capacidade de solvência, e da ambiental depende a própria existência do país.
Nenhum comentário:
Postar um comentário