sexta-feira, 7 de julho de 2023

Bruno Boghossian - Bolsonaro escolheu Bolsonaro

Folha de S. Paulo

Ex-presidente aposta em oposição obsessiva para preservar monopólio do antipetismo

Tarcísio de Freitas mostrou aos súditos de Jair Bolsonaro que o rei estava nu. "Eu acho arriscado para a direita abrir mão da reforma tributária", disse o governador numa reunião do PL, ao lado do ex-presidente.

Os dois buscaram rotas distintas no debate da reforma tributária. Fiel ao próprio personagem, Bolsonaro escolheu o caminho da oposição sistemática para atravessar os quatro anos de Lula. Tarcísio optou por algum verniz ideológico, até para fabricar uma marca que o diferenciasse, aos poucos, do antigo chefe.

Se a colisão era inevitável, é revelador que ela tenha ocorrido menos de uma semana depois que Bolsonaro foi declarado inelegível. A celeridade da trombada pública entre padrinho e afilhado expõe um campo político tomado por desconfianças patológicas e ambições particulares.

Bolsonaro não precisava partir para o ataque contra a reforma tributária, uma proposta que nasceu sem o carimbo da esquerda e que provavelmente seria aprovada com votos de partidos que eram de sua base aliada pouco mais de seis meses antes.

O ex-presidente, porém, agarrou a primeira oportunidade que surgiu depois da derrota no TSE para tentar exibir algum poder de fogo. O objetivo inicial era demonstrar liderança sobre a direita bolsonarista, evitando um vácuo que poderia ser ocupado por nomes como Tarcísio.

Bolsonaro também tenta usar o que chama de "reforma do PT" para preservar um certo monopólio do antipetismo. Enquanto parte da direita vota com o governo em algumas pautas (por convicção ou barganha), ele ensaia uma oposição obsessiva, em busca da credencial de única alternativa genuína a Lula.

Aliados graúdos afirmam que Bolsonaro alimenta uma ilusão de voltar às urnas e vende a tese sebastianista de que os tribunais podem rever sua inelegibilidade caso Lula conduza o país a um desastre. É por isso, dizem esses políticos, que ele quer trabalhar contra o governo, evitar a nomeação de um sucessor e fechar portas para potenciais concorrentes. Bolsonaro escolheu Bolsonaro.

 

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