terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Mercadante nega a volta da política de campeões nacionais com o plano para a indústria: 'Não escolhemos parceiro'

Por Alvaro Gribel e Karolini Bandeira / O Globo

Presidente do BNDES diz que nova política industrial terá editais públicos e transparentes com 'rigor nas garantias'

O presidente do BNDESAloizio Mercadante, negou que a nova política industrial lançada nesta segunda-feira pelo governo Lula represente a volta da política de "campeões nacionais" que começou nos primeiros governos Lula e vigorou principalmente durante o mandato de Dilma Rousseff.

Por essa política, o governo concedia crédito direcionado a empresas consideradas competitivas em determinados segmentos para que elas liderassem o desenvolvimento industrial do país. Em alguns casos, o banco se tornou sócio de empresas que escolheu incentivar para que adquirissem outras empresas e se internacionalizassem.

Mercadante diz que o banco não vai escolher parceiros:

— O que é importante vocês registrarem nesta discussão: As consultas ao BNDES, em relação a 2022, cresceram 88%, temos R$ 270 bilhões em projetos tramitando. Essa é a esteira, o projeto entra, a gente analisa e aprova. E é aberto a qualquer empresa. A gente trabalha por demanda, não escolhemos parceiro. Temos editais, são transparentes, as linhas de crédito são públicas e estamos recebendo os projetos - afirmou.

Segundo o economista, apesar de a política de "campeões nacionais" não ter dado certo, o BNDES não teve prejuízo com as operações.

— Algumas empresas que foram priorizadas no crédito do BNDES não deram certo. Exemplo da OI, a gente tinha R$ 4 bilhões de crédito. Mas não perdemos nada, zero, porque tínhamos carta de fiança. Por sinal, o mercado inteiro perdeu R$ 23 bilhões nas Americanas. Nós tínhamos R$ 1 bilhão na empresa e perdemos zero, porque somos banco prudente e altamente qualificado. O BNDES tinha R$ 1,7 bilhão na Light. Sabe o quanto perdemos? Zero. Nossa inadimplência é 0,01% — afirmou.

Mercadante: tendência global

Na visão do presidente do BNDES, o governo Lula segue uma tendência mundial de maior participação do Estado na economia, para que a transição energética seja acelerada.

O risco, nesse caso, é que o país fique para trás caso dependa apenas da iniciativa privada. Ele lembrou que o própio presidente americano, Joe Biden, apresentou um plano que chega ao trilhão de dólares, e tem atraído até empresas brasileiras para o país.

Mercadante explicou que dos R$ 300 bilhões previstos pelo programa, R$ 271 bilhões são financiamentos, R$ 21 bilhões são créditos não reembolsáveis e R$ 8 bilhões em aportes diretos nas empresas, para compra de ações.

— O equity (compra de ações) é casamento, financiamento é namoro. Esse dinheiro será usado para setores muito importantes, como de minerais críticos para bateriais elétricas. Temos que ter controle estratégico de alguns segmentos. Nesse caso, queremos ser sócios, mas tudo com edital e transparência — afirmou.

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