Por Alvaro Gribel e Karolini Bandeira / O Globo
Presidente do BNDES diz que nova política
industrial terá editais públicos e transparentes com 'rigor nas garantias'
O presidente do BNDES, Aloizio
Mercadante, negou que a nova
política industrial lançada nesta segunda-feira pelo governo Lula
represente a volta da política de "campeões nacionais" que começou
nos primeiros governos Lula e vigorou principalmente durante o mandato de Dilma
Rousseff.
Por essa política, o governo concedia crédito
direcionado a empresas consideradas competitivas em determinados segmentos para
que elas liderassem o desenvolvimento industrial do país. Em alguns casos, o
banco se tornou sócio de empresas que escolheu incentivar para que adquirissem
outras empresas e se internacionalizassem.
Mercadante diz que o banco não vai escolher
parceiros:
— O que é importante vocês registrarem nesta discussão: As consultas ao BNDES, em relação a 2022, cresceram 88%, temos R$ 270 bilhões em projetos tramitando. Essa é a esteira, o projeto entra, a gente analisa e aprova. E é aberto a qualquer empresa. A gente trabalha por demanda, não escolhemos parceiro. Temos editais, são transparentes, as linhas de crédito são públicas e estamos recebendo os projetos - afirmou.
Segundo o economista, apesar de a política de
"campeões nacionais" não ter dado certo, o BNDES não teve prejuízo
com as operações.
— Algumas empresas que foram priorizadas no
crédito do BNDES não deram certo. Exemplo da OI, a gente tinha R$ 4 bilhões de
crédito. Mas não perdemos nada, zero, porque tínhamos carta de fiança. Por
sinal, o mercado inteiro perdeu R$ 23 bilhões nas Americanas. Nós tínhamos R$ 1
bilhão na empresa e perdemos zero, porque somos banco prudente e altamente
qualificado. O BNDES tinha R$ 1,7 bilhão na Light. Sabe o quanto perdemos?
Zero. Nossa inadimplência é 0,01% — afirmou.
Mercadante: tendência global
Na visão do presidente do BNDES, o governo
Lula segue uma tendência mundial de maior participação do Estado na economia,
para que a transição energética seja acelerada.
O risco, nesse caso, é que o país fique para
trás caso dependa apenas da iniciativa privada. Ele lembrou que o própio
presidente americano, Joe Biden, apresentou um plano que chega ao trilhão de
dólares, e tem atraído até empresas brasileiras para o país.
Mercadante explicou que dos R$ 300 bilhões
previstos pelo programa, R$ 271 bilhões são financiamentos, R$ 21 bilhões são
créditos não reembolsáveis e R$ 8 bilhões em aportes diretos nas empresas, para
compra de ações.
— O equity (compra de ações) é casamento, financiamento é namoro. Esse dinheiro será usado para setores muito importantes, como de minerais críticos para bateriais elétricas. Temos que ter controle estratégico de alguns segmentos. Nesse caso, queremos ser sócios, mas tudo com edital e transparência — afirmou.
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