O Globo
Aposta em inovação tecnológica, transformação
digital e transição energética são pontos altos, enquanto ênfase no BNDES gera
ceticismo
O Nova Indústria Brasil, nome pelo qual foi
batizada a política industrial anunciada nesta segunda-feira pelo governo Lula,
acerta ao apostar nos vetores certos em termos de setores que merecem
investimento para se desenvolver, mas desperta ceticismo de analistas ao
reafirmar velhas máximas de governos petistas que não tiveram êxito no passado,
como a crença de que as cotas de chamado "conteúdo nacional" em
compras e obras públicas vão alavancar determinados setores da economia, ou que
o BNDES pode ser um grande impulsionador do crescimento econômico.
Os méritos da política vêm, portanto, do que ela tem de novo em relação aos governos anteriores. Diferentemente de muitos programas que são meras reedições dos mandatos anteriores de Lula e Dilma Rousseff, este focou em questões cruciais para o desenvolvimento econômico de qualquer país hoje, como inovação tecnológica, transformação digital e bioeconomia, com ênfase na transição energética.
Também é benvinda a fixação de metas para
2033, embora algumas sejam de difícil aferição e outras não dependam do
governo. Estabelecer parâmetros do que se pretende alcançar com qualquer
política pública é um marco essencial para depois medir sua eficácia para além
das narrativas políticas pró e contra.
Também é uma boa notícia que não se tenha
recorrido a novos incentivos fiscais setoriais, cuja concessão sempre depende
mais de lobby político do que de critérios técnicos de resultados que se deseja
atingir. Além do mais, esse recurso iria na contramão da ideia de reforma
tributária que se começou a fazer com os impostos sobre o consumo.
Mas há alguns pontos que remetem, ainda, a
antigas obsessões petistas que não têm um êxito inequívoco. Essa ideia de que o
BNDES é um grande indutor do desenvolvimento, que não se ampara no sucesso de
nenhuma das políticas que o banco lançou nos governos Lula e Dilma, é uma
delas.
A prioridade a fornecedores nacionais em
obras e compras estatais, por exemplo, não necessariamente vai alavancar a
indústria (sua competitividade depende de "n" fatores além dessa
"forcinha") e pode ser um foco de corrupção e gerar uma reserva de
mercado que encareça os preços e prejudique os setores da própria indústria
forçados a apostar no tal conteúdo local.
Falei a respeito do projeto e de como ele se insere na preocupação de Lula com a possível perda de tração do crescimento econômico no Viva Voz, meu quadro diário em duas edições na CBN.
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