Por Lauriberto Pompeu e Camila Turtelli / O Globo
Legenda prevê lançar nomes próprios a
prefeito em apenas 16 dos 26 estados onde haverá disputa; no restante, vai
apoiar aliados. Mesmo com concessão, sigla não deve escapar de saias-justas
A mudança de estratégia ocorre após um resultado pífio há quatro anos, quando o partido concorreu em 21 capitais, mas não conquistou nenhuma. O desempenho das últimas eleições foi considerado como o “fundo do poço” por dirigentes petistas, que agora preferem concentrar esforços onde há chance de vitória.
— A estratégia (em 2020) era ter candidatura
onde fosse possível para denunciar a perseguição ao PT, ao presidente Lula,
para reafirmar o projeto do partido que estava sofrendo um ataque muito forte.
Cada eleição há uma estratégia diferente — disse o senador Humberto Costa
(PT-PE), que coordena o grupo montado pela legenda para discutir o pleito.
Entre as capitais em que o partido abriu mão
de aparecer como cabeça de chapa nas urnas estão três dos quatro maiores
colégios eleitorais do país: São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador. Na capital
paulista, será a primeira vez que o PT não terá um nome desde a sua fundação,
na década de 1980.
No Nordeste, onde o partido de Lula costuma
ter uma base de apoio forte, também haverá redução. Em 2020, o partido só não
disputou a prefeitura de São Luís. Agora, estará fora em Salvador, onde deve
apoiar a candidatura de Geraldo Junior (MDB), além da capital maranhense e de
Recife, cidades nas quais estará na chapa de nomes do PSB. Por outro lado, deve
lançar nomes em Maceió e Natal, e ainda discute qual será o candidato em João
Pessoa e Fortaleza.
Choque com a base
Mesmo entre as 16 cidades em que o PT
pretende ter candidato há possibilidades de composição. Em Curitiba, o PSB
pressiona os petistas a abdicar da candidatura para seguir com o deputado
Luciano Ducci (PSB-PR). A presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), pondera que o
partido ainda não bateu o martelo sobre as candidaturas e o número das disputas
de 2024 pode se alterar até a data das convenções, a partir de julho.
Gleisi admite, porém, que há uma preocupação
do PT em dialogar com partidos que fazem parte da aliança com o governo
federal.
— Temos uma orientação para apoiar as
candidaturas do nosso campo, onde essas candidaturas sejam mais fortes que a
candidatura do PT, que tenham mais chances, mais condições, mas o quadro ainda
não está fechado — diz Gleisi. — Nossa preocupação tem sido de uma participação
mais qualificada, com mais chance de vitória, de resultado positivo, de bom
desempenho para os candidatos.
Apesar dessa preocupação de compor chapa com
aliados, em algumas capitais o PT deverá ser adversário de partidos que
integram a base. Em Belo Horizonte, por exemplo, o deputado Rogério Correia
anunciou sua pré-candidatura contra o atual prefeito, Fuad Noman (PSD). Além
disso, em nenhuma capital há acordo para apoio ao União Brasil — resultado da
fusão entre DEM e PSL, de histórico de rivalidade com petistas —, que comanda
três ministérios.
O número de 16 candidatos em capitais, caso
confirmado, ficará próximo da disputa de 2012, quando 17 petistas disputaram
prefeituras de capitais. Na ocasião, a então presidente Dilma Rousseff estava
em seu início de mandato e o PT optou também pelo apoio a candidatos de siglas
aliadas, como Eduardo Paes (então no MDB), no Rio, e o ex-deputado Gustavo
Fruet (PDT-PR), em Curitiba. Já o maior número foi em 2004, com 23 petistas. Há
20 anos, o PT estava em ascensão após eleger Lula presidente pela primeira vez.
A decisão de abrir mão de candidaturas,
porém, enfrenta resistências. Em São Paulo, por exemplo, o apoio à candidatura
do deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP), ainda que não seja ideologicamente
distante do PT, sofreu rejeição do diretório municipal.
Candidato em 2020, o deputado Jilmar Tatto
(PT-SP) é um dos que preferiam ter candidatura própria. Apesar disso, Boulos
tem relação próxima com Lula e o presidente deve se empenhar pessoalmente pela
sua eleição. Foi Lula, por exemplo, quem selou o acordo para o retorno da
ex-ministra Marta Suplicy à sigla para ser a vice na chapa.
Ex-presidente do PT e ex-ministro da Casa
Civil, José Dirceu é um dos que foram convencidos que o melhor caminho seria se
aliar ao PSOL.
— Como militante e eleitor em São Paulo,
votarei e farei campanha para o Boulos — disse Dirceu.
Lula articula
Lula tem feito movimentos a favor de aliados
em outras capitais. No início do mês, o presidente se reuniu com o ministro da
Agricultura, Carlos Fávaro, presidente do PSD em Mato Grosso. Depois da
conversa, Fávaro confirmou que o PSD desistiu de ter candidato em Cuiabá e vai
indicar a vice do candidato do PT, cujo nome não foi definido.
Em Salvador, há o consenso de que o PT
embarcará na candidatura do emedebista Geraldo Júnior, vice do governador
Jerônimo Rodrigues (PT) e ligado ao ex-ministro Geddel Vieira Lima (MDB). Na
quinta-feira, Lula esteve na capital baiana e levou Geraldo Junior para o
palanque. Na ocasião, o emedebista foi aclamado como “meu prefeito” pela claque
que acompanhava a cerimônia oficial. Já o candidato à reeleição, Bruno Reis, do
União Brasil, não participou do evento.
No Rio, uma ala do PT apoia a candidatura do
deputado Tarcísio Motta (PSOL-RJ) contra Eduardo Paes. Ainda assim, a maior
parte planeja embarcar com Paes. Mesmo apoiadores de Tarcísio, como o deputado
Lindbergh Farias (PT-RJ), reconhecem o favoritismo por Paes.
Lula com Geraldo Junior (MDB-BA)
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