sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Luiz Sérgio Henriques* - A morte de Luiz Werneck Vianna

A morte de Luiz Werneck Viana (1938-1924) interrompe a trajetória de um dos mais brilhantes intelectuais da sua geração. Sua obra tem característica ímpar por vários aspectos, entre os quais o de aliar rigor teórico e empenho político em alto grau.

Um segundo aspecto é que o primeiro livro de Werneck Vianna já nasce como obra-prima inconteste e ponto de referência dos estudos que viriam depois: trata-se de "Liberalismo e sindicato no Brasil", publicado originalmente em 1976.

A rigor, embora o autor fosse enveredar por temas distintos no correr dos anos, "Liberalismo e sindicato" é um primeiro movimento que seria retomado sucessivamente em outros livros, sempre em torno dos caminhos da modernização brasileira, do papel do liberalismo e do corporativismo na nossa "revolução burguesa pelo alto" e, muito especialmente, da posição nela havida pelo movimento sindical e político dos "subalternos".

Em 1997, publica uma segunda obra-prima, "A revolução passiva: iberismo e americanismo no Brasil", poderosa reflexão sobre os caminhos e descaminhos da civilização brasileira a partir de um uso absolutamente criativo e nada dogmático do seu amplo conhecimento da obra de Antonio Gramsci.

Neste livro, além disso, há poderosas sugestões para o entendimento da mudança social em todo e qualquer contexto "ocidental", no sentido gramsciano. Mais uma vez, domínio dos conceitos e preocupação com a esfera pública se dão as mãos de uma forma difícil de encontrar em outros autores do marxismo brasileiro. 

A face propriamente política da produção de Werneck Vianna é também surpreendente. Militante do antigo PCB (Partido Comunista Brasileiro), participou ativamente da elaboração de programas do Movimento Democrático Brasileiro e foi autor de inúmeros ensaios sobre conjuntura política.

Werneck Vianna, neste sentido, terá sido o teórico mais fecundo, coerente e decisivo da "frente democrática" que levaria ao fim da ditadura de 1964. Na juventude Werneck Vianna fez parte da última grande geração de artistas e intelectuais do PCB, reunidos em torno do Centro Popular de Cultura, da UNE. 

Era comum ouvir da boca do nosso autor, com lealdade e fidelidade, os nomes de Vianninha, Paulo Pontes, Ferreira Gullar, Leon Hirschman, Carlos Estevam Martins, alguns dos quais precocemente desaparecidos. Saber teórico e intervenção prática também estão presentes na série de estudos que liderou sobre a institucionalização da ciência social, bem como a magistratura e o poder judiciário no Brasil. Ou seja, novamente a questão dos intelectuais, registro da formação gramsciana.

A registrar, ainda, o fato de que a maior parte desta atividade aconteceu no antigo Iuperj. Nos últimos anos foi professor do Departamento de Sociologia da PUC-Rio e presença constante no debate público através de artigos na imprensa, em particular O Estado de S. Paulo.

*Tradutor, ensaísta, é um dos organizadores das Obras de Gramsci no Brasil

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