Um segundo aspecto é que o primeiro livro de
Werneck Vianna já nasce como obra-prima inconteste e ponto de referência dos
estudos que viriam depois: trata-se de "Liberalismo e sindicato no
Brasil", publicado originalmente em 1976.
A rigor, embora o autor fosse enveredar por temas distintos no correr dos anos, "Liberalismo e sindicato" é um primeiro movimento que seria retomado sucessivamente em outros livros, sempre em torno dos caminhos da modernização brasileira, do papel do liberalismo e do corporativismo na nossa "revolução burguesa pelo alto" e, muito especialmente, da posição nela havida pelo movimento sindical e político dos "subalternos".
Em 1997, publica uma segunda obra-prima,
"A revolução passiva: iberismo e americanismo no Brasil", poderosa
reflexão sobre os caminhos e descaminhos da civilização brasileira a partir de
um uso absolutamente criativo e nada dogmático do seu amplo conhecimento da
obra de Antonio Gramsci.
Neste livro, além disso, há poderosas sugestões para o entendimento da mudança social em todo e qualquer contexto "ocidental", no sentido gramsciano. Mais uma vez, domínio dos conceitos e preocupação com a esfera pública se dão as mãos de uma forma difícil de encontrar em outros autores do marxismo brasileiro.
A face propriamente política da produção de Werneck Vianna é também surpreendente. Militante do antigo PCB (Partido Comunista Brasileiro), participou ativamente da elaboração de programas do Movimento Democrático Brasileiro e foi autor de inúmeros ensaios sobre conjuntura política.
Werneck Vianna, neste sentido, terá sido o teórico mais fecundo, coerente e decisivo da "frente democrática" que levaria ao fim da ditadura de 1964. Na juventude Werneck Vianna fez parte da última grande geração de artistas e intelectuais do PCB, reunidos em torno do Centro Popular de Cultura, da UNE.
Era comum ouvir da boca do nosso autor, com
lealdade e fidelidade, os nomes de Vianninha, Paulo Pontes, Ferreira Gullar,
Leon Hirschman, Carlos Estevam Martins, alguns dos quais precocemente desaparecidos.
Saber teórico e intervenção prática também estão presentes na série de estudos
que liderou sobre a institucionalização da ciência social, bem como a
magistratura e o poder judiciário no Brasil. Ou seja, novamente a questão dos
intelectuais, registro da formação gramsciana.
A registrar, ainda, o fato de que a maior
parte desta atividade aconteceu no antigo Iuperj. Nos últimos anos foi
professor do Departamento de Sociologia da PUC-Rio e presença constante no
debate público através de artigos na imprensa, em particular O Estado de S.
Paulo.
*Tradutor, ensaísta, é um dos organizadores das Obras de Gramsci no Brasil
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