Retrocesso na PM de São Paulo deve preocupar o país
O Globo
Outrora exemplo para resto do Brasil,
corporação paulista sofre reviravolta que traz risco a políticas de sucesso
Num momento em que o Brasil enfrenta crise na
segurança pública, a Polícia
Militar de São Paulo — outrora exemplo para o país — vive dias
turbulentos, dentro e fora dos quartéis. Nesta semana, o governador Tarcísio de
Freitas (Republicanos) exonerou, com uma só canetada, o
subcomandante da PM e trocou mais da metade dos coronéis da cúpula da
corporação. As decisões causaram insatisfação na tropa e foram vistas como
reflexo da interferência política do secretário de Segurança Pública, Guilherme
Derrite (PL-SP).
É certo que mudanças na PM, explicadas oficialmente por “conveniência de serviço”, podem até se justificar tecnicamente. Mas reviravoltas dessa natureza trazem risco enorme para uma corporação que se profissionalizou nas últimas décadas, especialmente depois do Massacre do Carandiru, em 1992, com resultados incontestáveis.
Os índices de segurança de São Paulo estão há
muitos anos descolados do resto do Brasil. Em 2022, o estado registrou 8,4
mortes violentas por 100 mil habitantes, número sem paralelo em nenhuma outra
unidade da Federação (Santa Catarina é a que mais se aproxima, com 9,1). Para
efeito de comparação, a taxa no Brasil é 23,4. Na Bahia, 47,1. No Rio de
Janeiro, 27,9.
A conquista paulista foi obtida ao longo de
mais de duas décadas — em 1999, os homicídios passavam de 44 por 100 mil. Um
fator crítico para ela foi a transformação, ainda que imperfeita, da polícia
numa corporação preocupada em obter resultados contra o crime com base em
inteligência e evidências —e não mais em distribuir tiros a esmo, acreditando
que violência indiscriminada
contra bandidos ou operações de vingança a cada policial morto sejam políticas
eficazes.
Desde o ano passado, há sinais de recuo na PM
paulista. Chama a atenção a alta na letalidade policial. A Operação Verão, na
Baixada Santista, já deixou ao menos 32 mortos. Ela foi deflagrada no início do
mês depois do assassinato de um soldado da Rota, unidade de elite.
Evidentemente, o ataque — gravado pela câmera no uniforme do policial — foi um
ato bárbaro, que exige resposta do Estado. Mas não se pode combater violência
com mais violência. A Operação Escudo, realizada no ano passado também depois
da morte de um PM da Rota, já deixara 28 mortos.
A atual gestão paulista ameaça abandonar
práticas bem-sucedidas, como as câmeras nas fardas dos agentes, que enfrentam
inexplicável resistência do atual governo. Entre 2019 e 2022, o uso delas
contribuiu para reduzir a letalidade policial em 76,2% (nos quartéis onde não
foram adotadas, a queda foi de apenas 33,3%). O equipamento protege o agente de
acusações falsas e dá mais transparência às operações, uma vez que as imagens
ficam guardadas e podem ser usadas em investigações. Tarcísio afirmou que cumprirá
os contratos existentes, mas não investirá novos recursos. Para ele, o
equipamento não tem eficácia, embora as evidências científicas mostrem o
contrário.
A insegurança acua a população mesmo nos
estados mais equipados e preparados. Facções criminosas estão em toda parte,
mas em particular nos presídios paulistas, comandados pela maior delas, o PCC.
Por isso a criminalidade precisa ser combatida com base em evidências e
critérios técnicos. A PM de São Paulo, tida como exemplar, não pode sofrer
retrocessos ao sabor de inclinações políticas. Quem padecerá os efeitos de tal
equívoco é a população.
Alta nos casos de Covid em meio à epidemia de
dengue desafia governo
O Globo
Vacinação e combate a focos do mosquito são
principais medidas para evitar sobrecarga na rede de saúde
O boletim InfoGripe, da Fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz), detectou aumento de casos de Covid-19 na região Centro-Sul do país
entre 4 e 10 de fevereiro (no Norte, houve queda). Estados como São Paulo,
Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro registraram mais
internações pela doença, hoje controlada no Brasil. Era um cenário esperado,
devido aos desfiles que começaram mesmo antes do carnaval, e não há motivo para
pânico. A vacina, disponível nos postos de saúde, é a melhor forma de prevenir a
doença.
O mais preocupante é que diferentes regiões
do país vivem hoje uma outra emergência — a dengue.
Nas áreas de maior incidência, a alta simultânea nos casos de Covid-19 e dengue
— que apresentam sintomas parecidos — pode sobrecarregar ainda mais as redes
pública e particular de saúde.
Ontem o Ministério da
Saúde registrava 740.942 casos de dengue e 151 mortes (outras
501 estão sob investigação) neste ano. Os infectados mais que quadruplicaram em
relação ao mesmo período em 2023. As maiores incidências são observadas no
Distrito Federal, em Minas Gerais, no Acre, no Paraná e em Goiás. Pelas
projeções do ministério, o Brasil atingirá neste ano 4,2 milhões de infectados,
mais que o dobro do recorde de 2015 (1,6 milhão).
Até agora, decretaram situação de emergência
o Distrito Federal, os estados de Goiás, Minas, Rio de Janeiro, Santa Catarina,
Espírito Santo, Acre e as capitais Rio, Florianópolis e Belo Horizonte. A
medida reduz a burocracia e permite maior agilidade nas ações de combate à
doença e no atendimento à população. Nesses casos, agentes de saúde podem
entrar em imóveis vazios ou abandonados sem autorização prévia para eliminar os
focos do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue.
Contra a dengue, as autoridades de saúde
ainda não podem contar com a vacinação maciça. Embora já exista uma vacina que
protege contra os quatro tipos da doença, a farmacêutica japonesa Takeda só
poderá entregar 6,5 milhões de doses neste ano, quantidade insuficiente para a
demanda. A campanha de vacinação está em curso, mas, devido à escassez, é
destinada apenas à faixa etária dos pré-adolescentes nas regiões de maior
incidência.
Não há motivo para sobrecarregar as redes de
saúde com pacientes de Covid-19. Basta que a população siga o esquema de
vacinas recomendado pelo Ministério da Saúde, inclusive as doses de reforço.
Elas são seguras e eficazes, como ficou provado no controle da pandemia. Quanto
à dengue, o governo falhou nas ações necessárias para deter o avanço da doença.
Agora que ela transborda, o mais urgente é combater os focos do mosquito —
tarefa em que a população tem papel fundamental, já que 75% dos insetos estão em
residências. Também é importante aumentar os postos de atendimento e oferecer
leitos nos hospitais para os casos graves. Quanto mais ágil for o atendimento,
maiores as chances de evitar mortes.
Guerra da Ucrânia entra no 3º ano longe de um
desfecho
Valor Econômico
Com a perspectiva de que o conflito se
estenderá, o Ocidente precisa repensar como lidar com a Rússia e refletir, para
além do conflito, sobre qual recado será enviado ao mundo se Putin triunfar
O mundo foi surpreendido em 24 de fevereiro
de 2022 com a decisão de Vladimir Putin de lançar um injustificado ataque de
larga escala contra a Ucrânia. Na véspera de completar dois anos, o conflito
parece longe de um desfecho e sem uma solução negociada à vista. Sem grandes
avanços no campo de batalha, a Rússia agora aposta no front político e na
divisão do Ocidente para virar a maré da guerra.
A avaliação de que Kiev seria tomada em
poucos dias, o que daria a Putin a chance de forçar uma rápida rendição do
governo de Volodymyr Zelensky, se mostrou equivocada graças à bravura dos
ucranianos e o apoio sem precedentes do Ocidente. Ao contrário do que se
imaginava, a Rússia obteve poucas conquistas militares relevantes desde a
invasão e se viu obrigada a recuar em parte dos territórios que chegou a
dominar, após uma contraofensiva lançada pela Ucrânia no ano passado.
A situação pouco mudou neste aniversário do
segundo ano de conflito. Com as incontáveis perdas humanas e militares desde
então, nenhum dos dois lados tem força suficiente para mudar o destino da
guerra no curto prazo, segundo analistas. Com isso, está em curso uma
reavaliação de estratégias para o futuro. Os ucranianos passaram a adotar uma
“defesa ativa”, lógica que permite reconstituir e reequipar suas forças, sem
deixar de lançar ataques de alto perfil dentro da própria Rússia e nos
territórios ocupados. Já Moscou acelera a produção de sua indústria bélica e
corre para incorporar novas tecnologias ao conflito. Sinal disso foi o
lançamento do míssil hipersônico Zircon, capaz de superar os sistemas de defesa
mais avançados, como o americano Patriot, disponibilizado à Ucrânia pelo
governo Joe Biden.
Ao entrar no terceiro ano, o front político
deve ganhar protagonismo. A sequência da resistência ucraniana depende dos
humores eleitorais nos Estados Unidos, que elegem um novo presidente este ano,
e na Europa, que vota a composição do novo Parlamento Europeu. Com muitos
céticos em relação a uma vitória definitiva da Ucrânia, cresce a visão de que
os pacotes de ajuda a Kiev são um desperdício de dinheiro. A “fadiga da guerra”
é explorada por grupos de extrema direita, simpatizantes do autoritarismo de Putin,
e atrapalha a liberação de mais recursos.
Visto como principal aliado de Putin entre os
líderes europeus, Viktor Orbán, o premiê da Hungria, fez jogo duro antes de
ceder na votação da última rodada de ajuda à Ucrânia, de €50 bilhões, enquanto
buscava liberação de fundos bloqueados por afrontar os padrões democráticos do
bloco. Nos EUA, o Senado aprovou um novo pacote de apoio de US$ 61 bilhões, mas
a tramitação na Câmara dos Deputados ameaça ser muito mais conturbada graças a
Donald Trump. O virtual candidato do Partido Republicano à Casa Branca vem
pressionando correligionários a rejeitá-lo e, recentemente, chocou o Ocidente
com uma ameaça de não proteger os membros da Otan em caso de uma invasão
promovida pela Rússia, em um ataque ao pilar que sustenta a aliança militar.
A eventual perda do apoio americano seria um
desastre para o esforço de guerra da Ucrânia, que atualmente investe metade de
seu orçamento na defesa contra a Rússia e já enfrenta grandes dificuldades,
como a falta de munição. Segundo relatório do Instituto para a Economia Mundial
de Kiel (Alemanha), a União Europeia precisaria dobrar a ajuda a Kiev para
compensar a lacuna aberta por Washington. Desde a invasão até janeiro deste
ano, juntos, europeus e americanos desembolsaram €155,3 bilhões em apoio militar,
financeiro e humanitário à Ucrânia.
Putin sabe que o veredicto das urnas dos dois
lados do Atlântico, especialmente nos EUA, será crucial para o futuro da guerra
e que talvez possa conquistar politicamente as vitórias que não conseguiu no
campo de batalha. Em entrevista a Tucker Carlson, ex-âncora da Fox escolhido a
dedo para a ocasião por ter grande audiência entre eleitores trumpistas, o
líder russo falou diretamente aos republicanos, dizendo que o Congresso
americano deve primeiro lidar com problemas domésticos, como a imigração -- uma
das bandeiras de Trump -, antes de aprovar um novo pacote de ajuda à Ucrânia.
Também propôs a Washington um acordo para encerrar a guerra em que a Ucrânia
cederia territórios à Rússia, uma linha vermelha que Kiev não está disposta a
cruzar.
Com a perspectiva de que o conflito se
estenderá, o Ocidente precisa repensar como lidar com a Rússia e refletir, para
além do conflito, sobre qual recado será enviado ao mundo se Putin triunfar. As
sanções comerciais impostas desde o início da invasão, embora tenham reduzido
as receitas e prejudicado a economia russa, não surtiram o efeito desejado.
Vários países seguem comprando petróleo e outros produtos de Moscou,
alimentando a máquina de guerra. O Kremlin também se aproveitou do momento de
disputa geopolítica entre EUA e China para se alinhar à esfera de influência de
Pequim, que pode se sentir mais disposta a agir contra Taiwan se a Ucrânia for
derrotada.
É preciso também um esforço diplomático para convencer países que se mantiveram neutros, como o próprio Brasil, a repensarem suas posições em relação à Rússia. A morte em condições no mínimo duvidosas do opositor Alexei Navalny e a intenção de que a guerra continue até que a Ucrânia seja subjugada mostram que Putin está cada vez mais distante de valores que o Palácio do Planalto diz defender.
É Lula quem responde por yanomamis agora
Folha de S. Paulo
Mesmo que tenha havido subnotificação
anterior, mortes de indígenas em 2023 põem em xeque efetividade de ações na
região
Uma das primeiras ações de grande
visibilidade do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em janeiro do ano
passado, foi a operação deflagrada para enfrentar a emergência de saúde na
Terra Indígena Yanomami. Dados recém-noticiados, porém, põem em xeque a
efetividade das medidas adotadas.
Descobriu-se que houve 363
mortes de yanomamis e outras etnias presentes no território em 2023.
A cifra macabra —que ultrapassa as de 2022 (343) e de anos anteriores sob Jair
Bolsonaro (PL)— veio à tona após uma reportagem da revista Oeste, que se valeu
da Lei de Acesso à Informação (LAI).
Autoridades de saúde dizem considerar
inadequada uma comparação direta das estatísticas, e superficial a conclusão de
que a situação piorou —haveria, apontam, uma subnotificação de casos e mortes
no período anterior.
Por esse raciocínio, operam hoje naquela
região 40% mais equipes de saúde. Casos e vítimas que passaram ou passariam
despercebidos terminaram registrados, inflando o cômputo. A tese pode ser
plausível, mas o governo continua tendo muito a explicar.
O garimpo ilegal de ouro e cassiterita,
principal motor da tragédia yanomami, recrudesceu antes mesmo de completar-se
um ano das iniciativas de Brasília.
Estima-se que continuem em ação no território
cerca de 3.000 garimpeiros. Bem menos que os 20 mil antes da troca de governo,
mas o suficiente para dificultar ou impedir de vez a ação de agentes de
fiscalização ambiental e atenção de saúde em áreas mais remotas, como Surucucu
e Auaris.
A presença de invasores e a devastação de
florestas e igarapés favorecem a
proliferação de malária. Já desnutridas pela falta de assistência,
crianças indígenas vão sucumbindo a doenças antes que se cumpra sua remoção
para centros de tratamento adequados.
Segundo apuração deste jornal, as Forças
Armadas passaram a encolher o apoio logístico a equipes do Ibama e do
Ministério da Saúde. A desativação
de um entreposto de combustível na região do Palimiú, por exemplo,
impediu helicópteros do Ibama de alcançar Auaris, na fronteira com a Venezuela.
A presença efetiva do Estado num território
tão vasto quanto o dos yanomamis, do tamanho de Portugal, não é empreendimento
trivial. Os retrocessos que ora se constatam são evidências de que o
planejamento do combate ao garimpo e da atenção de saúde, ali, carece de
coordenação e sustentação.
Não há dúvida de que Bolsonaro tratou o tema
com descaso, se não hostilidade. Agora, entretanto, enfrentar esse déficit
civilizacional é responsabilidade de Lula.
PM sangrenta
Folha de S. Paulo
Em meio a mudança na cúpula, ação em SP
mancha trajetória de queda da letalidade
Em apenas 18 dias, 31 pessoas
foram mortas em supostos confrontos com a Polícia Militar de São Paulo.
Esse foi o resultado aterrador, contabilizado até quarta (21), da Operação
Verão, deflagrada no dia 3 na Baixada Santista.
Trata-se da segunda ação mais mortífera da
corporação paulista, superada apenas pelo massacre do Carandiru em 1992, que
vitimou 111 presos. Outra operação recente fica em terceiro lugar. Nos 40 dias
da Operação Escudo, realizada entre julho e setembro de 2023 na mesma região,
foram 28 mortos.
Assim como na ação do ano passado, reportagem
da Folha ouviu relatos de moradores que indicariam possíveis abusos
de força.
Dado os números exorbitantes, a Operação
Verão precisa ser monitorada pela Corregedoria da PM e pelo Ministério Público
—que encontrou
violações na ação de 2023.
As duas mancham a trajetória paulista de
queda da letalidade policial, em parte impulsionada pela implantação de câmeras
nas fardas dos agentes.
Entre junho e dezembro de 2020, foram 110
mortes em ações dos 18 batalhões que utilizavam a tecnologia. Já no mesmo
período de 2021, foram só 17 —queda de 85%.
Segundo levantamento de dados da Secretaria
de Segurança Pública de São Paulo feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança
Pública, em 2020 o estado registrou 659 mortes em intervenções policiais. Em
2021, foram 423; em 2022, 256. Contudo, no primeiro ano de gestão de Tarcísio
de Freitas (Republicanos), o número subiu para 353.
A letalidade torna-se tema ainda mais
preocupante diante da recente
reformulação na cúpula da PM, implementada por Guilherme Derrite,
secretário de Segurança.
O coronel José Alexander Freixo,
sub-comandante da corporoação, foi exonerado na quarta (21). Freixo era
conhecido pela defesa das câmeras e por suas críticas às operações na Baixada
Santista.
Trata-se de violência e balbúrdia demasiadas para tão pouco tempo de governo —e, pelo que se noticia, há risco de crise grave na PM paulista. Tarcísio deveria reavaliar as consequências de ceder ao obscurantismo truculento na gestão de uma área tão vital.
Só falta combinar com os companheiros
O Estado de S. Paulo
Alckmin diz que o País precisa reduzir o custo Brasil e melhorar a produtividade aprofundando reformas – as mesmas às quais o PT sempre se opôs e tenta, quando pode, reverter
“O Brasil ficou caro antes de ficar rico”,
constatou o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento,
Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, em reunião na Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo. “É um país caro, e é caro exportar, tem
dificuldade para exportar, a não ser produto primário. Tem de reduzir o Custo
Brasil, melhorar a produtividade e a competitividade. Não tem bala de prata. É
fazer a lição todo dia: reforma trabalhista, tributária, previdenciária,
administrativa.”
Com efeito, segundo levantamento do Movimento
Brasil Competitivo, em comparação com a média de custos dos países da OCDE – um
grupo das democracias ricas –, as empresas brasileiras desembolsam todos os
anos, em despesas adicionais, algo em torno de R$ 1,7 trilhão, cerca de 20% do
PIB. As causas são várias: mão de obra pouco qualificada, excesso de encargos
trabalhistas, tributação complexa e onerosa, infraestrutura precária, crédito
escasso e caro, complexidade regulatória e insegurança jurídica.
Muita coisa foi feita nos últimos anos. A
reforma da Previdência aliviou a pressão fiscal e reduziu a discriminação entre
servidores públicos e trabalhadores privados. O marco do saneamento está
viabilizando investimentos privados. A autonomia do Banco Central foi um avanço
no controle da inflação. A reforma trabalhista colaborou com a queda no
desemprego. A reforma tributária, ainda que desfigurada e desidratada,
eliminará distorções competitivas e simplificará procedimentos custosos. O
elemento comum dessas reformas foi reduzir o peso e as arbitrariedades do
Estado que freavam o potencial de crescimento e perpetuavam desigualdades de
renda e de oportunidades.
Além de aprofundar essas reformas, outras
medidas nesse sentido seriam importantes para aliviar o custo Brasil, como a
redução de tarifas de máquinas e insumos ou mais privatizações para acabar com
feudos políticos. É a “lição de casa de todo dia” a que Alckmin se refere. Só
tem um problema: faltou combinar com os companheiros.
Como se sabe, o lulopetismo foi ferrenho
opositor de medidas como essas, da autonomia do BC e do marco do saneamento às
reformas trabalhista e da Previdência. Se a atual gestão não as revogou, não
foi por falta de vontade, e sim de base parlamentar. Mas brechas foram abertas
aqui e ali, muitas vezes com a ajuda de uma caneta companheira no Judiciário,
como a flexibilização das regras que restringiam indicações políticas a cargos
em autarquias e empresas estatais ou de economia mista. Agora mesmo o governo tenta
reverter na Justiça a privatização da Eletrobras, e busca interferir nela e
noutras empresas privadas nas quais tem participação, como a Vale. A política
de preços da Petrobras voltou a ser opaca, e a intenção de utilizá-la como
instrumento de políticas públicas é manifesta. Sobre a segurança jurídica, a
lição de casa ficou para as calendas.
De quando em vez um ministro ou secretário
faz jogo de cena anunciando “estudos” para uma reforma administrativa, mas quem
se lembra da última vez em que o presidente da República tocou no assunto?
Ao invés de reformas, o governo anuncia com
fanfarra “novas” políticas industriais com toda sorte de estímulos de curto
prazo, isenções, subsídios e reservas de mercado que fazem grupos de pressão
oligopolistas salivarem.
Quanto à redução dos juros, a principal
política do governo é demonizar o Banco Central. No mais, flerta com o
desrespeito às metas fiscais que ele mesmo estabeleceu e contrata despesas
permanentes com receitas provisórias.
“O único item para controlar a inflação são
os juros. Não pode ser assim. Tem de ter melhor política fiscal”, disse Alckmin
– em 2005. À época, ele recriminou o “modo petista de governar” por arrecadar
muito e gastar mal – “é o custo PT” –, deixando no ar uma pergunta retórica que
continua a ecoar: “Qual medida o governo tomou para fechar a torneira do
desperdício de dinheiro público?”. Será que, em 2024, o neossocialista Geraldo
Alckmin, alçado a vicepresidente e ministro do Desenvolvimento do governo lulopetista,
tem uma resposta?
Fracasso na terra yanomami
O Estado de S. Paulo
Embora o governo Lula tente transferir a
culpa pelo problema, não há justificativa aceitável para que a crise
humanitária que atinge o povo yanomami esteja maior do que um ano atrás
O Ministério da Saúde registrou 363 mortes de
indígenas yanomamis em 2023, numa quantidade de óbitos superior ao número
oficial do ano anterior, quando foram apontadas 343 mortes. A divulgação foi
acompanhada por três relativizações: técnicos do ministério alegam que os
números na gestão de Jair Bolsonaro estavam subnotificados; o governo ainda
credita parte das deficiências atuais à herança deixada pelo antecessor; e um
inquérito em curso pode vir a identificar mortes e doenças não notificadas em
anos anteriores e corrigir dissonâncias. Com ou sem tais ressalvas, o número
divulgado agora reafirma uma certeza já deixada em janeiro, quando a tragédia
humanitária dos yanomamis completou um ano: o governo Lula fracassou até agora
na tentativa de salvar os indígenas da emergência sanitária. E, mais grave, não
há qualquer indício de que os erros cometidos até aqui estejam sendo corrigidos
de fato.
Ao apagão na estatística e no combate aos
crimes ambientais do governo anterior, a gestão de Lula respondeu com apagão de
eficiência. Não há justificativa aceitável para que a crise humanitária que
atinge o povo yanomami esteja maior, e não menor, do que um ano atrás – mesmo
que se reconheçam os limites de uma resposta de curto prazo a anos acumulados
de problemas naquela região, que envolve o envenenamento das águas e do solo, a
intoxicação de pessoas, a propagação da malária, a proliferação de casos crônicos
de desnutrição e as invasões e assassinatos promovidos por criminosos
vinculados ao garimpo ilegal, que fez aumentar os índices de violência,
degradação ambiental e doenças por contaminação do mercúrio nos rios. Sua
solução exigiria muito mais.
Em janeiro de 2023, poucos dias depois de
tomar posse como presidente, Lula da Silva foi surpreendido com a notícia
daquilo que organizações já alertavam havia uma década: os yanomamis sofriam
com desassistência sanitária, malária, pneumonia, desnutrição severa, doenças
sexualmente transmissíveis e mortes, resultado de anos e anos de interferência
indevida de não indígenas em seu território, localizado entre os Estados de
Roraima e Amazonas, e no sul da Venezuela. Tudo isso agravado por um local de
difícil acesso e pelo abandono do Estado numa terra dominada pelo ecossistema
de crimes ambientais.
À época, foi decretada emergência em saúde
pública e montou-se uma força-tarefa envolvendo seis ministérios, as Forças
Armadas e a Polícia Federal, além de órgãos como a Funai, o Ibama e a
Secretaria Especial de Saúde Indígena. Seguindo o DNA palanqueiro do
lulopetismo, o presidente não hesitou em apontar culpados externos do passado e
fazer promessas de redenção para o futuro próximo. Há cerca de um mês, no
aniversário do primeiro ano da crise, Lula da Silva reafirmou intenções, enviou
uma equipe de ministros ao local e apresentou denúncias como se estivesse
iniciando a tarefa.
O tamanho da tragédia em curso, porém, não
aceita a conjugação entre oportunismo político e soberba. A soma de equívocos
do governo começou com a ausência de uma instância de coordenação das ações
emergenciais com real poder sobre as diferentes pastas e órgãos envolvidos no
trabalho. Também faltou estudo logístico eficiente para planejar o envio de
insumos e profissionais de saúde, e milhões de reais foram consumidos em cestas
básicas lançadas sobre aldeias e clareiras sem muito critério. O resultado se
vê nos números e na tentativa de transferência de culpa e responsabilidade. O
esvaziado Ministério dos Povos Indígenas, por exemplo, divulgou em janeiro uma
resolução na qual culpa a “negligência” do Ministério da Defesa pela situação
dos yanomamis. Também afirmou que o problema é o garimpo ilegal, e não mais a
fome. Já militares têm evitado responder, ao mesmo tempo que são acusados de
omissão na segurança diante da proliferação do garimpo ilegal.
A conta tem sido paga com a vida e com os
direitos mais elementares dos indígenas, historicamente tratados como cidadãos
de segunda classe. Uma trágica ironia para aqueles cujo nome, na origem,
segundo a expressão yanõmami thëpë, significa “seres humanos”.
O Estado de S. Paulo
O impacto da cautela do Fed
Força do mercado de trabalho e resiliência da
inflação nos EUA podem afetar taxas de juros no Brasil
A ata da última reunião de política monetária
do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) deixou claro que a
instituição não tem pressa para reduzir os juros norte-americanos. Atualmente
na faixa entre 5,25% e 5,50% ao ano, nível mais alto dos últimos 22 anos, os
membros da instituição avaliam que ainda não há confiança suficiente de que a
inflação esteja caminhando para a meta de 2%.
A avaliação sobre a evolução de alguns dos
principais indicadores acompanhados pela autoridade monetária norte-americana
veio acompanhada de conjunções adversativas: o ritmo de geração de empregos
está mais moderado, mas continua forte; a inflação desacelerou, mas segue
elevada; os diretores consideram que os riscos inflacionários têm diminuído,
mas alguns veem risco de que o processo desinflacionário tenha estagnado.
De positivo, os dirigentes do Fed
consideraram que os juros provavelmente tenham atingido o pico do atual ciclo
de aperto. Porém, muitos indicadores divulgados após a reunião dos dias 30 e 31
de janeiro mostram que o receio do Fed não é desarrazoado.
Os pedidos de seguro-desemprego vieram abaixo
das estimativas do mercado, o que explica a resiliência dos gastos do
consumidor. Os núcleos da inflação de janeiro, por sua vez, mostraram mais
resiliência que o esperado, muito puxados pelos serviços.
Fato é que a economia norte-americana está
rodando a níveis mais elevados do que se imaginava, o que reforçou as
expectativas de que os juros só devem começar a cair em junho. Questionada
sobre quando o corte deve ser iniciado, a diretora do Fed Michelle Bowman
afirmou, em um evento em Washington, que “certamente não é agora”.
Isso não interrompe o ciclo de cortes de
juros que está em marcha no Brasil, mas certamente influencia seu ritmo e sua
linha de chegada. O Banco Central (BC) tampouco tem pressa para reduzir a
Selic, e instituições financeiras que esperam que ela chegue a 8,5% ao fim
deste ano, como a Bradesco Asset Management, admitem que tal projeção depende
de o Fed iniciar o afrouxamento monetário em maio.
Assim como no exterior, a dinâmica do setor
de serviços no Brasil ainda preocupa o BC e parece puxar o crescimento do
Produto Interno Bruto (PIB). O mercado continua cético quanto às chances de o
governo conseguir zerar o déficit fiscal neste ano. O Executivo continua a
apostar todas as suas fichas na recuperação de receitas para atingir a meta, ao
mesmo tempo que a pressão por ampliar gastos públicos em ano de eleições
municipais tende a aumentar.
Seja em maio ou em junho, o início do corte
de juros norte-americanos pode favorecer a entrada de investidores interessados
em retornos mais elevados, mas o País ainda terá de enfrentar suas
vulnerabilidades internas para se mostrar atrativo, sobretudo para o capital de
médio e longo prazos.
Como argumentou o Boletim Macro da Fundação Getulio Vargas (FGV), o comportamento dos bancos centrais nas economias desenvolvidas, sobretudo a norte-americana, influencia diretamente os preços dos ativos nos países emergentes, como o Brasil. Talvez, portanto, seja hora de dosar o otimismo.
O Pix e outros meios de pagamento
Correio Braziliense
De janeiro a novembro de 2023, nada menos que
143 milhões de brasileiros (pessoas físicas) estavam cadastrados no Pix,
chegando a um recorde de R$ 15,3 trilhões movimentados no acumulado do ano
Ninguém pode negar que, em apenas três anos
de existência, o Pix se tornou o maior sucesso da história dos meios de
pagamentos do Brasil. Quem imaginou que pessoas de todas as classes sociais (ou
quase todas) se curvariam à facilidade de dar alguns poucos cliques para
transferir dinheiro de uma conta para outra?
De acordo com a Associação das Empresas de
Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), os próximos anos serão de crescimento em
se tratando de transações financeiras e, consequentemente, de cartões de
crédito, débito e pré-pagos, com destaque para esse último. Os números mais
recentes (2022) mostram um aumento de 7,4% em operações de cartões de débito,
29,5% em cartões de crédito e um crescimento surpreendente de mais de 94% dos
pré-pagos.
De janeiro a novembro de 2023, nada menos que
143 milhões de brasileiros (pessoas físicas) estavam cadastrados no Pix,
chegando a um recorde de R$ 15,3 trilhões movimentados no acumulado do ano.
Essa quantia assombrosa foi três vezes maior que o valor movimentado em 2021
(R$ 5,2 trilhões) e 40% maior que os quase R$ 11 trilhões de 2022.
Quem também se beneficiou com o sucesso do
Pix foram as instituições de pagamentos, que obtiveram um crescimento próximo a
25%. Até o momento, o Banco Central tem 111 na lista de autorizadas, sendo que
23 operam diretamente com o Pix. A expectativa dos especialistas é que esse
contingente cresça tanto no que se refere a parceiros diretos como indiretos.
Para este ano, estão previstas novas
alterações com relação à automatização dos processos. O Pix Automático, que
estava sendo aguardado para o segundo semestre do ano passado, deveria ser
lançado em maio, mas o Banco Central, pelo menos por enquanto, confirmou
somente para outubro. O que se espera é que a novidade facilite pagamentos
recorrentes, de forma programada e segura, desde que com autorização prévia do
pagador. A ferramenta promete permitir o agendamento de contas de luz,
condomínio, escola, água, plano de saúde e outras despesas que chegam às nossas
casas todos os meses.
As facilidades são muitas, mas as
desconfianças também. Apesar de o Banco Central ter implementado mecanismos de
segurança para validação e finalização das transações via Pix, muita gente
prefere continuar com meios de pagamento tradicionais. Como todo cuidado é
pouco, vale manter o alerta para não cair em golpes. Levantamento da fintech de
proteção financeira Silverguard aponta que quatro em cada 10 brasileiros já
foram vítimas de alguma tentativa de fraude com o Pix. Desses, um em cada cinco
caiu no golpe.
A Serasa lista pelo menos quatro situações que culminam com prejuízo para o titular da conta, desde a clonagem de Whatsapp, com a falsificação de cadastro, atendimento bancário falso e bug do PIX até QR Code fraudado. A empresa destaca que "os aplicativos estão cada vez mais simples de usar e os usuários, mais desatentos". Antes de clicar para confirmar uma operação, é preciso conferir todos os dados. A comodidade pode custar caro demais.
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