Fica alguma esperança de que seus pares no ofício acadêmico saibam praticar o amor intelectual que ele lhes ensinou a cultivar no debate público e que o Brasil preste atenção e se beneficie da amizade radicalmente humana que sua rara qualidade de homem especialíssimo dedicou ao mundo dos comuns.
Sua memória de sábio e de trabalhador da ciência e da política será tão obcecada quanto foi o seu intelecto vivo na incessante busca de animar a nossa revolução passiva. Interpretando o Brasil por esse critério, Werneck encarnou, em vida, o mister de uma esquerda positiva. Sua pauta segue em aberto: dizer sim à democracia política, aqui e alhures, como valor e sempre também como experiência particular; acionar a política para reformar e transformar a sociedade conservando o país; mobilizar o país para internalizar as luzes e o sentimento do mundo.
A memória de Werneck segue pedindo política. Segue no encalço do "ator" que faça da vontade por um mundo justo e um planeta sustentável mais que consignas de um evento global. Desde já ela fustiga os juízos dos ministros do G20, trazidos ao seu Rio de Janeiro querido para, ainda que involuntariamente, testemunhar o exato momento em que se prepara os seus funerais.
Chamemos isso, ou
não, conforme seja a crença de cada qual, de um desígnio da Providência, é no
mínimo, uma feliz coincidência. Que deve ser convertida na primeira homenagem
que lhe devemos.
*Cientista político e professor
da UFBa
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