Folha de S. Paulo
Michelle Bolsonaro, e seu discurso
antissecular, e Tarcísio de Freitas, e seu pragmatismo reacionário, são opções
"Pode ir na ONU, na Liga da Justiça, no
raio que o parta, que eu não tô nem aí".
A frase poderia ser de Jair
Bolsonaro, mas foi
proferida pelo governador de São Paulo. No dia 8 de março, em
Genebra, Tarcísio
de Freitas foi denunciado
ao Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) pela
Comissão Arns e pela ONG Conectas em virtude da escalada de violências
cometidas durante a Operação Verão.
Durante a reunião do Conselho, Camila Asano,
diretora-executiva da Conectas, relatou acusações
de execuções sumárias, tortura e
prisões forjadas, além de apontar a ausência deliberada do uso de câmeras
corporais entre os policiais envolvidos.
A operação já é tida como uma das mais letais da história do estado de São Paulo.
De acordo com dados do Ministério Público de
São Paulo, agentes mataram 57 pessoas em janeiro e fevereiro na região, número
que já ultrapassa mais de cinco vezes o do ano anterior.
Entre as vítimas estão um jovem
cego de 24 anos, que foi assassinado dentro de casa enquanto conversava com
um amigo e um homem que usava muletas. De acordo com a polícia, ambos
teriam reagido à abordagem policial.
A despeito disso, o secretário da Segurança
Pública, Capitão
Derrite, foi poupado pelo governador.
Exonerado
temporariamente do cargo no último dia 12, Derrite voltou ao Congresso
para receber a relatoria de um projeto de lei que propõe o fim da saída
temporária de presos em feriados e datas comemorativas, uma das principais
pautas da bancada bolsonarista.
No dia seguinte à exoneração de Derrite,
Tarcísio de Freitas, que está abrigado no Republicanos, foi extremamente bem
recebido em uma reunião com deputados do PL que, em
coro, entoaram "filia,
filia".
Passados dois dias da reunião, a Revista
Oeste, que abriga nomes como Alexandre Garcia, Guilherme Fiuza e Rodrigo
Constantino, publicou em sua capa uma foto do governador sorrindo acompanhado
da frase: São Paulo contra o crime.
Tarcísio também já explicitou seu alinhamento
com outra pauta cara à extrema direita: a defesa da liberdade irrestrita de
expressão.
Em discurso proferido no ato bolsonarista realizado no
dia 25 de fevereiro, na avenida Paulista, Tarcísio afirmou que: "O desafio
da representatividade só vai ser vencido com liberdade. Liberdade de expressão,
de pensamento, de manifestação. Sem nenhum tipo de censura."
Por fim, na frente econômica, o governador
prometeu um "leilão badalado" no mês de abril para realizar a venda
da Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae), com o objetivo de
viabilizar a privatização da Sabesp, a qual, em suas palavras, será um grande
legado para São Paulo.
À medida que o cerco contra Jair Bolsonaro se
fecha progressivamente, Tarcísio se firma como um de seus principais herdeiros
políticos. A truculência na Baixada Santista, a sanha privatista e a defesa de
golpistas e extremistas o qualificam para tanto.
Agora resta saber quem levará o legado
bolsonarista adiante nas eleições de 2026, Michelle Bolsonaro e seu discurso
antissecular ou Tarcísio de Freitas e seu pragmatismo reacionário.
*Doutora em ciência política pela USP e
pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento
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