O Globo
Como incluir umas 25 composições em umas duas horas e meia de espetáculo sem deixar de fora canções belíssimas assinadas pelo maestro soberano?
Muito animado com o início da produção de
“Tom Jobim, o musical”, que escrevi junto com Pedro Brício e será dirigida por
João Fonseca, parceiro do megassucesso “Vale tudo, o som e a fúria de Tim
Maia”, que ficou três anos em cartaz.
Já temos um texto “final”, que na verdade não é final nunca e vai sendo transformado até a estreia e mesmo depois da estreia vai sendo ajustado, e em breve começarão os testes de elenco, de atores, cantores, bailarinos, músicos, que viverão Tom, Vinicius de Moraes, que será uma espécie de narrador, Teresa Hermanny, a primeira mulher, Ana Jobim, a musa eterna até o fim, a filha Maria Luisa, João Gilberto, Elis Regina, e muitos personagens que contam a história gloriosa de Tom Jobim, “o” musical, o maestro soberano, e suas músicas maravilhosas.
Um dos grandes problemas de escrever um
musical sobre Tom Jobim é a qualidade das músicas. Como conseguir incluir umas
25 músicas em umas duas horas e meia de espetáculo sem deixar de fora canções
belíssimas? Sempre vão faltar várias que não poderiam faltar, que vão reclamar,
com razão, mas exigiriam um espetáculo de quatro ou cinco horas.
Um grande personagem, pela beleza, pelo
estilo, pela fala, pelo charme e o poder de sedução, Tom, no entanto, teve uma
vida “medíocre” em seus 67 anos entre nós, no sentido dramatúrgico, sem grandes
acontecimentos ou traumas ou romances turbulentos na sua vida pessoal, com
poucos eventos além de suas conquistas artísticas, casou duas vezes, teve dois
filhos artistas, um neto grande músico, mas isso não dá um espetáculo teatral,
não tem drama, suspense, conflitos, seria pouco além de um score musical insuperável.
É verdade, é mesmo muito difícil qualquer musical ter músicas melhores, aqui ou
na Broadway, no East End de Londres ou em qualquer lugar. E isso é o coração de
um musical. Mas é pouco: não é um show, é uma peça de teatro.
Sim, a vida de Tom não tem grandes episódios
dramáticos, mas teve muitas cenas e situações hilariantes, além de grandes
frases e conceitos marcados por seu fino humor. Alta comédia. Mas conseguimos,
depois de muita luta, escrever a história gloriosa de Tom Jobim, e de como
criou suas obras-primas e suas músicas imortais, reconstruindo a Ipanema
paradisíaca dos anos 1960 com seus bares e suas garotas, o lendário Beco das
Garrafas de Copacabana, com seus inferninhos onde se ouvia a melhor música do
Rio, suas aventuras com Frank Sinatra e com as maiores estrelas da música
brasileira, sua paixão pela ecologia muito antes de a palavra existir.
Os lorpas e os pascácios, como os chamava
Nelson Rodrigues, vão babar a sua inveja e ressentimento nas redes sociais,
“que cara de pau esse Nelson Motta promover o seu próprio trabalho em um espaço
para entretenimento e informação do leitor”, e respondo que, se não for de
interesse geral a gênese de um grande espetáculo contando a vida e obra de
nosso maior músico, o que seria?
Estreia em agosto, no Teatro Oi Casa Grande.
Um comentário:
Adoro ler sobre músicas e músicos.
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