sexta-feira, 8 de março de 2024

Nelson Motta - Tom Jobim, a crônica de um musical

O Globo

Como incluir umas 25 composições em umas duas horas e meia de espetáculo sem deixar de fora canções belíssimas assinadas pelo maestro soberano?

Muito animado com o início da produção de “Tom Jobim, o musical”, que escrevi junto com Pedro Brício e será dirigida por João Fonseca, parceiro do megassucesso “Vale tudo, o som e a fúria de Tim Maia”, que ficou três anos em cartaz.

Já temos um texto “final”, que na verdade não é final nunca e vai sendo transformado até a estreia e mesmo depois da estreia vai sendo ajustado, e em breve começarão os testes de elenco, de atores, cantores, bailarinos, músicos, que viverão Tom, Vinicius de Moraes, que será uma espécie de narrador, Teresa Hermanny, a primeira mulher, Ana Jobim, a musa eterna até o fim, a filha Maria Luisa, João Gilberto, Elis Regina, e muitos personagens que contam a história gloriosa de Tom Jobim, “o” musical, o maestro soberano, e suas músicas maravilhosas.

Um dos grandes problemas de escrever um musical sobre Tom Jobim é a qualidade das músicas. Como conseguir incluir umas 25 músicas em umas duas horas e meia de espetáculo sem deixar de fora canções belíssimas? Sempre vão faltar várias que não poderiam faltar, que vão reclamar, com razão, mas exigiriam um espetáculo de quatro ou cinco horas.

Um grande personagem, pela beleza, pelo estilo, pela fala, pelo charme e o poder de sedução, Tom, no entanto, teve uma vida “medíocre” em seus 67 anos entre nós, no sentido dramatúrgico, sem grandes acontecimentos ou traumas ou romances turbulentos na sua vida pessoal, com poucos eventos além de suas conquistas artísticas, casou duas vezes, teve dois filhos artistas, um neto grande músico, mas isso não dá um espetáculo teatral, não tem drama, suspense, conflitos, seria pouco além de um score musical insuperável. É verdade, é mesmo muito difícil qualquer musical ter músicas melhores, aqui ou na Broadway, no East End de Londres ou em qualquer lugar. E isso é o coração de um musical. Mas é pouco: não é um show, é uma peça de teatro.

Sim, a vida de Tom não tem grandes episódios dramáticos, mas teve muitas cenas e situações hilariantes, além de grandes frases e conceitos marcados por seu fino humor. Alta comédia. Mas conseguimos, depois de muita luta, escrever a história gloriosa de Tom Jobim, e de como criou suas obras-primas e suas músicas imortais, reconstruindo a Ipanema paradisíaca dos anos 1960 com seus bares e suas garotas, o lendário Beco das Garrafas de Copacabana, com seus inferninhos onde se ouvia a melhor música do Rio, suas aventuras com Frank Sinatra e com as maiores estrelas da música brasileira, sua paixão pela ecologia muito antes de a palavra existir.

Os lorpas e os pascácios, como os chamava Nelson Rodrigues, vão babar a sua inveja e ressentimento nas redes sociais, “que cara de pau esse Nelson Motta promover o seu próprio trabalho em um espaço para entretenimento e informação do leitor”, e respondo que, se não for de interesse geral a gênese de um grande espetáculo contando a vida e obra de nosso maior músico, o que seria?

Estreia em agosto, no Teatro Oi Casa Grande.

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Adoro ler sobre músicas e músicos.