sexta-feira, 8 de março de 2024

Maria Cristina Fernandes – Tarcísio contorna cerco jurídico ao bolsonarismo

Valor Econômico

Com projeto para criar programa de escolas cívico-militares, Tarcísio aposta na resiliência dos valores do bolsonarismo

A decisão do governador Tarcísio de Freitas de mandar o projeto de lei que cria o programa de escolas cívico-militares é uma demonstração de como o bolsonarismo investe para contornar, pela política, o cerco jurídico-policial.

Há generais que arriscam a se sentar no banco dos réus pelo envolvimento no golpismo que vandalizou a Praça dos Três Poderes no 8 de janeiro a despeito do batalhão estacionado no subsolo do Palácio do Planalto.

Num momento em que a cúpula legalista das Forças Armadas se esforça para se dissociar do bolsonarismo, eis que o governador paulista pauta um projeto para valorizar a disciplina militar como valor pedagógico.

Desafia a mesma disciplina que não foi capaz de manter a segurança dos Poderes da República a manter o cabelo dos meninos rente e o das meninas, em coque, e que todos cantem o hino nacional no hasteamento da bandeira.

Antes mesmo de se filiar ao partido do ex-presidente, Tarcísio de Freitas já se engajou na estratégia em curso no PL. Ocupar o debate público seja pelo manejo de comissões importantes na Câmara, seja pelas políticas públicas de Estados importantes como São Paulo, para manter a polarização na sociedade e desviá-la das pautas concretas do país.

Ao descontinuar o programa das escolas cívico-militares, o ministro da Educação, Camilo Santana, foi muito claro. O governo federal enviava recursos para as Forças Armadas gerirem escolas públicas mas, por outro lado, deixava de fazer repasses do Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação para despesas da rede escolar de Estados e municípios. A ponto de os governadores terem que ir ao Supremo para receber o dinheiro.

Ou seja, enquanto vigorou na federação, foi um programa elitista, que não havia sido aprovado pelo Congresso nem estava previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação nem no Plano Nacional de Educação. Funcionava por decreto e foi revogado.

Ao levá-lo adiante, Tarcísio aposta na resiliência dos valores do bolsonarismo. Fará do Palácio dos Bandeirantes a caixa de ressonância de pautas que prometem fazer muito barulho nas redes sociais, vide a presidência da Comissão de Educação pelo deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), para ofuscar as pautas da vida real.

O governo terá, por exemplo, que investir numa estratégia de comunicação eficiente para divulgar o programa “Pé de meia” com o qual pretende depositar R$ 200 por mês na conta dos alunos do ensino médio com alta frequência escolar de modo a que, ao final do curso, esses jovens, com uma poupança de R$ 9,2 mil, virem pequenos empreendedores.

O que o governador ainda terá que mostrar é sua capacidade de colocar essas escolas em pé. Renato Feder, o secretário de Educação que conduzirá este programa, é o mesmo que quis tirar São Paulo do plano nacional do livro didático do MEC para inundar o Estado de material didático digital como se acesso à internet e a computadores brotasse de um pé de jabuticaba. Foi obrigado a voltar atrás.

 

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Tem muito jovem que nem ganhando 200 reais por mês vai querer estudar.