Ondas de calor pressionam o setor elétrico
O Globo
Técnicos temem que oferta de energia não seja
capaz de atender à demanda crescente em 2025
Com os termômetros acima dos 40 °C e a
sensação térmica em patamares superiores a 60 °C, o consumo de energia dispara.
Apagões se sucedem país afora, e o sofrimento dos moradores da região central
de São Paulo, alguns às voltas com mais uma semana de interrupção no
fornecimento, é apenas o drama mais recente. Ao mesmo tempo, surge a
preocupação com a capacidade de o sistema elétrico resistir ao crescimento de
demanda. Neste momento de virada de estação, do verão para o outono, com
temperaturas recordes, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) tem
aumentado a previsão de crescimento da demanda de março, um salto próximo de 6%
ante o mesmo mês do ano passado.
De acordo com o ONS, todas as regiões consumirão mais energia neste mês em relação a março de 2023: Nordeste, 8,8%; Norte, 8,5%; Sudeste/Centro-Oeste, 5,8%; Sul, 1,5%. No último dia 15, o consumo bateu o recorde do ano, com 102.477 megawatts (MW). Na superfície, a situação parece sob controle. As hidrelétricas respondem por mais da metade da produção de energia, e a geração eólica e solar, somadas, mais de 20%. Não se pode esquecer, porém, que a geração no Brasil continua dependendo de chuva no momento certo, na região certa. As oscilações do clima, que vieram para ficar, não dão uma garantia firme de que isso aconteça.
Com a expansão das fontes intermitentes, a
gestão do sistema elétrico brasileiro ficou mais complexa. O risco é o consumo
exigir maior participação das usinas termelétricas, encarecendo a conta de luz.
Os técnicos não se mostram preocupados com 2024, mas temem por 2025. Não
faltará energia, mas é provável que as termelétricas tenham de ser acionadas
com mais frequência para preservar os reservatórios das hidrelétricas.
O nível de chuvas não tem sido o ideal. “A
previsão para março indica a ocorrência de afluências [chuvas] abaixo da média
histórica para os subsistemas Sudeste/Centro-Oeste [o maior do país], Nordeste
e Norte, e acima da média histórica para o subsistema Sul”, informou o ONS. O
sistema interligado da rede de distribuição é capaz de fazer compensações entre
as regiões. Mas há o risco de, no ano que vem, faltar água para produzir no
mínimo o atual volume de energia. Em abril começa o período seco, a temporada
com menos chuvas que acaba em outubro. Até lá o ONS terá um quadro mais preciso
da situação.
“A situação dos reservatórios [das
hidrelétricas] não é confiável, mas os riscos ainda não são grandes. Por
enquanto, a expectativa é de chuva dentro da média, o que não é bom para 2025”,
diz Edvaldo Santana, ex-diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica
(Aneel). De acordo com ele, a temporada chuvosa teria de ser acima da média
para compensar a alta do consumo neste verão. Os reservatórios estariam ainda
mais baixos, diz Santana, se não fosse a geração eólica e solar.
O parque de termelétricas, ampliado a partir
do apagão de 2001, dá segurança ao sistema brasileiro, mas ataca o bolso do
cidadão. Racionalizar o consumo seria uma medida razoável. Mas nenhum governo
gosta de assustar a população com o risco de apagões. Nem por isso eles têm
deixado de acontecer.
Futebol brasileiro ganha com a participação
de jogadores estrangeiros
O Globo
Enquanto país perde craques para Europa,
influxo de sul-americanos contribui para melhorar times locais
Os grandes times de futebol que
disputam os campeonatos europeus têm se tornado seleções multinacionais em que
jogam os maiores craques do planeta. A cada dia também fica evidente que o
Brasil, conhecido mercado exportador de talentos, também tem importado
jogadores para suprir as necessidades locais. Incapazes de reter no país
craques de primeira linha, vários times brasileiros passaram a buscar reforços
no mercado sul-americano. Em 2020, a Série A do Campeonato Brasileiro contava
com 81 jogadores estrangeiros. Em 2021, a pandemia derrubou esse número para
76, segundo reportagem do GLOBO. Mas em 2022 já eram 103 os atletas de fora. No
ano passado, 127.
Os jogadores estrangeiros que atuam no Brasil
representam 30 nacionalidades diferentes. A maioria são argentinos, seguidos
por uruguaios e colombianos. Isso ocorre porque os clubes brasileiros têm
apresentado capacidade financeira para contratar no continente jogadores de
qualidade. Outro fator que explica a tendência é o custo crescente do jogador
brasileiro. “Não é novidade que vivemos um mercado brasileiro inflacionado, e o
fato de termos buscado muitos reforços fora do país é um indicativo dessa viabilidade”,
diz Alessandro Barcellos, presidente do Internacional. O Inter lidera a lista
de estrangeiros em sua formação, com dez atletas. Barcellos defende o aumento
no limite de jogadores de fora permitidos na escalação nos campeonatos
nacionais, que passou de cinco para sete em 2023 e será de nove neste ano.
Nem todos concordam. Quem está preocupado é o
presidente da Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol, Alfredo
Sampaio. Ele teme que a abertura ao exterior sufoque o mercado interno. A crise
do futebol italiano, que não se classificou para a Copa do Mundo por duas vezes
consecutivas, é citada como sinal de alerta para os dirigentes brasileiros. Dos
20 times que atuam na Liga Italiana, em apenas quatro os jogadores estrangeiros
somaram menos da metade do tempo jogado em campo, revelam dados da Federação
Italiana. Na maioria dos jogos, estrangeiros atuaram mais tempo que os
italianos.
Outro temor é que o influxo de jogadores de
fora leve grandes clubes, como Palmeiras, Flamengo, Fluminense, Corinthians,
Vasco ou Atlético Mineiro, a investir menos nas divisões de base.
Tradicionalmente, elas são a forma mais barata de renovar as equipes
principais. Uma atenuante é que essas divisões têm se transformado em fonte de
receita ao produzir novas levas de jovens jogadores vendidos para fora do país.
Receita que com certeza os clubes desejarão preservar.
As cinco últimas edições da Libertadores
foram vencidas por clubes brasileiros, que disputaram entre si três finais do
torneio continental. Isso mostra que os estrangeiros têm contribuído para
elevar a qualidade do nosso futebol e que, tudo considerado, a globalização
fortalece o esporte.
Dado oficial mostra que é preciso conter
gastos
Folha de S. Paulo
Mesmo projeções otimistas do governo deixam
claro que não será possível equilibrar o Orçamento apenas elevando impostos
Com o bom resultado da arrecadação no
primeiro bimestre, o governo ganhou tempo para evitar um expressivo e imediato
bloqueio de gastos orçamentários, rechaçado pelo Planalto. Ainda assim, o
quadro geral não inspira confiança nas chances de que seja mantida e cumprida a
meta de zerar o déficit federal neste ano.
Após várias iniciativas para fechar brechas
tributárias e elevar impostos, a coleta da
Receita atingiu R$ 469,5 bilhões na soma de janeiro e fevereiro,
8,8% acima do contabilizado no período em 2023, já descontada a inflação.
O desempenho da economia até aqui é um fator
positivo, com geração de emprego e renda, além da disseminação de algum
crescimento em comércio e serviços, o que favorece a arrecadação.
Nada disso é suficiente, contudo, quando se
observam os dados do relatório bimestral de acompanhamento do Orçamento,
divulgado na sexta-feira (22), e as simulações para os anos seguintes.
O documento estima déficit primário (sem
incluir despesas com juros) de R$ 9,3 bilhões neste ano, o equivalente a 0,1%
do PIB. Tal patamar é compatível com a meta fiscal, um intervalo de saldo zero
a um déficit de 0,25% do produto.
Por isso o governo não precisou fazer mais do
que um discreto
contingenciamento de R$ 2,9 bilhões para compensar o aumento
dos desembolsos com a Previdência.
Resta, porém, grande incerteza a respeito dos
efeitos das medidas para elevar a arrecadação. Chama a atenção que o relatório
orçamentário tenha reduzido em R$ 31,5 bilhões (para R$ 2,69 trilhões) a
projeção para a receita do ano.
Já as estimativas de despesas parecem
demasiadamente otimistas, sobretudo nas rubricas sociais.
A impressão é que o governo quer adiar ao
máximo o debate sobre contingenciamento e revisão da meta do ano, mesmo que ela
tenha pouca credibilidade. De fato, as projeções mais comuns entre analistas
apontam para déficit de ao menos 0,5% do PIB neste 2024.
O Relatório de Projeções Fiscais, divulgado
em 15 de março, deixa clara a precariedade do ajuste.
Como apontou o economista Marcos Mendes neste jornal, o documento, mesmo
assumindo o cumprimento da meta neste ano, prevê frustração dos objetivos de
2025 e 2026 —em vez de saldos positivos de 0,5% e 1% do PIB, são projetados
déficits de 0,5% e 0,4% do produto interno, respectivamente.
Para tapar o buraco apenas com mais receitas,
seria necessário que a arrecadação líquida chegasse a 19,7% do PIB em 2026—
cerca de 1,5 ponto percentual a mais que neste ano. Em outras palavras, seria
necessário aprofundar a sanha arrecadatória danosa para a economia.
Não há saída
fora de um amplo programa de controle de despesas, o que exige
enfrentar temas politicamente espinhosos, em especial as regras que elevam
continuamente desembolsos obrigatórios. Nada disso parece estar na agenda do
Planalto, que só colherá instabilidade se insistir na rota atual.
SP tateia no escuro
Folha de S. Paulo
Enel tem o dever de esclarecer apagão e
traçar plano para evitar transtornos
Quatro meses depois, ainda que em menor
extensão, a cidade de São Paulo volta a enfrentar um exasperante apagão de
longo prazo, por dias a fio e a provocar um sem-fim de tormentos e prejuízos a
dezenas de milhares de paulistanos.
Se em novembro passado um temporal deixou
mais de 2 milhões de pessoas sem luz, principalmente na zona sul e com o
martírio se arrastando por uma semana para boa parte delas, desta vez a incúria
atingiu moradores e estabelecimentos da região central.
Para piorar, as causas de mais um blecaute
prolongado —que começou na segunda-feira (18), atingiu novas
ruas na quinta (21) e avançou para o fim de semana sem previsão
de restabelecimento total— também seguiam na penumbra.
A concessionária responsável Enel culpou a
estatal Sabesp, que teria atingido acidentalmente cabos da rede subterrânea
durante uma escavação —a empresa de saneamento nega, e o governo federal
determinou que a Agência Nacional de Energia Elétrica investigue.
Já os repiques na queda de energia foram
atribuídos pela Enel à alta no
consumo em razão do forte calor, "o que dificultou a
recomposição da redes subterrâneas".
Enquanto tudo permanece nebuloso, os
transtornos são evidentes: a Santa Casa teve de dispensar pacientes; a comida
estraga e há falta de água em edifícios; moradores não conseguem estudar,
trabalhar, carregar seus celulares ou até alcançar os andares mais altos; geradores se
espalham pelas calçadas; bares, restaurantes e lojistas contabilizam
suas perdas.
A Enel deve urgentes esclarecimentos aos paulistanos sobre os motivos do colapso, sua real capacidade operacional (o enxugamento de 35% dos funcionários levanta dúvidas legítimas) e, não menos importante, se dispõe de um plano de contenção para que crises do tipo não se tornem um pesadelo recorrente na cidade.
Metástases do tumor autoritário
O Estado de S. Paulo
A cada dia surgem novos sintomas de abusos em
nome da defesa da democracia. Ora, não se protege a Constituição violando-a nem
se fortalece o Estado de Direito sem o devido processo legal
Em fevereiro passado, um jornalista português
passou por interrogatório de quatro horas ao desembarcar no Aeroporto de
Guarulhos. Ele havia feito críticas a ministros do Supremo Tribunal Federal
(STF) e às urnas eletrônicas em suas redes sociais. Segundo informou o diretor
de Polícia Administrativa da Polícia Federal (PF), delegado Rodrigo de Melo
Teixeira, à Comissão de Segurança Pública do Senado, na terça-feira passada,
essa foi a razão pela qual o tal jornalista foi tratado pela PF como suspeito –
sabese lá de que crime. Como não há delito de opinião no Brasil, ficou claro
que se tratou de abuso de autoridade – que, nestes tempos estranhos, está longe
de ser isolado. Ao contrário, o caso do jornalista é apenas a mais recente
metástase de um tumor autoritário que se espalha em nome da defesa da
democracia.
É uma célebre alegoria do autoritarismo
difuso. Diz-se que em 1968, às vésperas da instauração do AI-5, o
vicepresidente Pedro Aleixo teria alertado o presidente Costa e Silva:
“Presidente, o problema de uma lei assim não é o senhor, nem os que com o senhor
governam o País; o problema é o guarda da esquina”.
Em 2021, o Congresso aprovou a Lei de Defesa
do Estado Democrático de Direito para extirpar o risco pela raiz e garantir que
todo presidente governará sob leis iguais para todos, criadas pelos
parlamentares eleitos e interpretadas caso a caso com isonomia pelo Judiciário,
tudo conforme a vontade soberana da Nação consagrada na Constituição. Mas não
se defende a Constituição com armas inconstitucionais; não se fortalece o
Estado de Direito atropelando o devido processo legal; e o melhor remédio
contra os inimigos da democracia é mais, e não menos, democracia.
Em tempos normais, essas variações do
princípio segundo o qual os fins não justificam os meios seriam platitudes
ociosas. Mas estes não são tempos normais. A República ainda se recompõe após o
abalo sísmico das invasões bárbaras aos Três Poderes, em janeiro do ano
passado, e prepara-se para julgar um ex-presidente, provavelmente por tentativa
de golpe de Estado.
Na raiz dos reveses impostos pelo Supremo
Tribunal Federal à operação Lava Jato está a autoatribuição da 13.ª Vara
Federal de Curitiba de uma espécie de competência universal contra a corrupção.
Mas agora é o Supremo que parece se atribuir a condição de juízo universal de
defesa da democracia.
Há cinco anos a Corte conduz inquéritos
secretos e elásticos para apurar fake news. Nas mesmas condições, instaurou
inquéritos contra milícias digitais e as manifestações golpistas. Sob a
justificativa da excepcionalidade, hermenêuticas extensivas e fundamentações
heterodoxas motivaram censuras, bloqueios de contas, quebras de sigilos
bancários e telemáticos, multas exorbitantes e indiciamentos e prisões
preventivas no atacado.
Antes mesmo da apuração de um bate-boca
envolvendo o ministro Alexandre de Moraes e seus familiares em Roma, o então
ministro da Justiça, Flávio Dino, hoje ministro do STF, declarou que o assédio
poderia ser tipificado como crime contra o Estado Democrático de Direito. O
presidente Lula sentenciou que o suspeito era um “animal selvagem” e prometeu
“extirpar” essa “gente que renasceu no neofascismo”. O STF assumiu a jurisdição
de um caso típico de primeira instância e despachou mandados de busca e apreensão
na investigação da Polícia Federal por suposta tentativa de “abolição violenta
do Estado Democrático de Direito”. Um óbvio absurdo – que ameaça se normalizar.
Antes do caso do jornalista português, manifestantes contra o aumento da tarifa
de ônibus em São Paulo foram detidos e autuados por “abolição violenta do
Estado Democrático de Direito”. Com a mesma justificativa, um juiz de Carauari
deu voz de prisão a um delegado que o acusou de corrupção.
De tanto martelar que o País está à mercê de
extremistas, magistrados como Alexandre de Moraes forjaram tipos penais
adaptáveis sob medida para o guarda de esquina perseguir “fascistas”.
Inebriados pela síndrome do pequeno poder, esses “superamigos” da democracia se
proliferam. Mas com amigos assim, quem precisa de inimigos?
A infalível Doutrina Lula
O Estado de S. Paulo
Ao bajular Putin e elogiar a eleição
fraudulenta, Lula e o PT ampliam histórico de apoio a ditaduras que hostilizam
os valores ocidentais, rebaixando o Brasil a peão de russos e chineses
OPT do presidente Lula da Silva cumpriu
fielmente o roteiro que se esperava de um partido que hostiliza democracias e
aplaude ditadores só porque estes se opõem aos valores ocidentais: em “nota de
saudação” assinada pelo secretário de Relações Internacionais do partido,
Romênio Pereira, o comissariado petista chamou de “feito histórico” a eleição
do companheiro Vladimir Putin. Dirigindo-se hiperbolicamente a Dmitri Medvedev,
presidente do partido Rússia Unida, vice-presidente do Conselho de Segurança daquele
país e sabujo de Putin, o PT rogou pelo fortalecimento dos “laços de parceria e
amizade” entre ambos e reforçou a tese delirante de que, juntos, trabalham por
“um mundo mais justo, multilateral e plural”. Não há limites para a Doutrina
Lula, a sua política externa ancorada numa coalizão internacional anti
estadunidense, o tal “Sul Global”.
A ampla disseminação da saudação petista
serviu de contraponto curioso ao silêncio do Itamaraty, que até aqui não
divulgou notas obre aeleiçãor ussa, eà cartado presidente Lula, cujo teor se
ignora porque o Palácio do Planalto não lhe deu publicidade. Difícil escolher
oqueé piorem ais vexaminoso, se o silêncio obsequioso da diplomacia brasileira
neste mandato–equivalente, no caso, a uma cumplicidade envergonhada – ou a
saudação tresloucada do dirigente do PT.
Na tal “eleição” que o PT festejou, talvez
com uma ponta de inveja, o vencedor disputou sozinho (os “adversários” foram
escolhidos pelo regime entre os mais leais a Putin). Muitos dos 77% de
eleitores que compareceram às urnas o fizeram porque foram obrigados por
patrões, chefes, forças armadas e vizinhos delatores. Além disso, a
Constituição foi adulterada para permitir a nova reeleição do presidente,
certamente será adulterada de novo sempre que Putin assim o desejar. Por fim,
mas não menos importante, não há imprensa livre na Rússia, as instituições são
todas controladas pelo regime e os principais opositores que poderiam
enfrentá-lo estão todos presos ou foram assassinados.
Se o PT de Lula da Silva aplaudiu Putin, a
parte civilizada do mundo tratou a coisa em seus devidos termos. O presidente
dos Estados Unidos, Joe Biden, disse que as eleições russas não foram nem
livres nem justas, mesma conclusão do chanceler do Reino Unido, David Cameron.
A Alemanha classificou-as de “pseudoeleições”.
Não era possível esperar nada diferente do
PT. Ao bajular o tirano russo, a nomenklatura petista acrescentou mais um
capítulo ao longo enredo de apoio a ditaduras e de convivência com ditadores
sanguinários. A lista é extensa, fruto de uma política externa inconsistente,
como definiu a revista The Economist, e da ideologia rupestre do lulopetismo.
Depois de Putin ter ordem de prisão emitida
pelo Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra na agressão à Ucrânia,
Lula e seu principal conselheiro na área, Celso Amorim, ofereceram-lhe
solidariedade – além de dedicar um providencial silêncio diante da guerra
criminosa. O presidente brasileiro também minimizou a morte do maior rival
político de Putin, Alexei Navalni, provavelmente assassinado enquanto estava
sob custódia do governo de Putin. “Para que pressa de acusar?”, questionou,
numa prudência que raramente adota diante de crimes cometidos por seus
adversários. Lula também disse acreditar nas garantias da ditadura venezuelana
de que a eleição marcada para julho será limpa e livre – uma evidente
impostura, diante do fato de que o ditador companheiro Nicolás Maduro controla
totalmente o processo eleitoral, sufoca a imprensa, obriga eleitores a votar
sob pena de perderem benefícios sociais e impede que opositores com chances de
vitória concorram.
É difícil identificar o que o Brasil ganha se
aproximando desse tipo de parceiro. Enquanto exercita seu conhecido
terceiro-mundismo travestido de um multilateralismo de conveniência, Lula e o
PT servem de peões úteis aos interesses russos e chineses contra os Estados
Unidos e a Europa e fazem o Brasil passar vergonha.
A calúnia de Lula
O Estado de S. Paulo
Os móveis que Lula acusou Bolsonaro de
surrupiar do Alvorada nunca saíram de lá
Com estardalhaço incompatível com a dignidade
da Presidência da República, Lula da Silva acusou Jair Bolsonaro e sua mulher,
Michelle Bolsonaro, de terem “levado tudo” com eles do Palácio da Alvorada
– cerca de 260 móveis e objetos de decoração.
Ou seja, patrimônio público. “Se fosse dele, ele tinha razão de levar mesmo,
mas ali é uma coisa pública. Eu não sei por que tem que levar uma cama embora”,
afirmou Lula durante um café da manhã com jornalistas no dia 12 de janeiro de
2023.
Exatamente uma semana antes do encontro do
petista com a imprensa, a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, havia
conduzido uma equipe de reportagem da GloboNews por uma espécie de tour pela
área privativa da residência oficial. Por meio da imprensa, Janja queria
denunciar ao País o tal “sumiço” dos móveis e exibir o grau da degradação que
Bolsonaro e Michelle teriam promovido no Alvorada.
A suposta rapinagem da residência oficial da
família presidencial ensejou um gasto de quase R$ 200 mil para aquisição de
novo mobiliário, incluindo um sofá reclinável que custou R$ 65 mil. Porém,
muito mais escandalosas que o dispêndio desse montante de recursos públicos –
que, a bem da verdade, caso fosse justificável, não seria excessivo
considerando o local – são a mentira e a dissimulação do atual governo.
Os cerca de 260 móveis e peças de decoração
que teriam sido surrupiados pelo casal Bolsonaro foram encontrados, ora vejam,
nas dependências do próprio Palácio da Alvorada. E o governo Lula da Silva
sabia disso desde ao menos setembro do ano passado, mas nada disse. A
informação foi obtida pelo jornal Folha de S.Paulo por meio da Lei de Acesso à
Informação.
É estarrecedor. O governo Lula da Silva
escondeu da sociedade durante seis meses uma informação de interesse público –
afinal, o presidente havia acusado seu antecessor de ter furtado patrimônio
público, nada menos – apenas e tão somente para encobrir o que se revelou ser
uma calúnia do petista. É disso que se trata. E um governo capaz disso, única e
exclusivamente para sustentar um discurso político de oposição radical a um
adversário político, é capaz de mentir sobre qualquer coisa para os cidadãos.
Ao supremo mandatário do País é imposto o
dever da transparência, salvo casos excepcionalíssimos que envolvem questões
ligadas à segurança nacional, entre outros temas previstos em lei. O sigilo dos
atos da administração pública é exceção em qualquer país democrático. Ademais,
espera-se que quem se dispõe a governar o País não precise exclusivamente de
comandos legais para se comportar de maneira ética e responsável. Mas, nessa
rinha particular entre Lula e Bolsonaro, parece valer tudo.
Fosse mais prudente, Lula aguardaria o inventário feito pela Diretoria Curatorial dos Palácios Presidenciais, além de levantamentos de outros órgãos ligados ao patrimônio público, antes de lançar suas aleivosias. Mas contenção e humildade nunca foram o forte do petista – menos ainda nestes tempos em que os fatos parecem ter pouca importância.
Jovens negros são vítimas da iniquidade
social
Correio Braziliense
Faz todo sentido a prioridade dada pelo
governo federal aos jovens negros, que são uma população em risco permanente
Os Sertões, de Euclides da Cunha (1866-1909),
publicado em 1902, teve grande impacto na elite política, militar e intelectual
da época, que havia apoiado com entusiasmo as expedições do Exército contra o
arraial de Antônio Conselheiro em Canudos, no interior da Bahia, a pretexto de
que o líder messiânico era uma ameaça monarquista à República. A visão
idealista do índio herói e do negro trabalhador do romantismo fora ultrapassada
pelo realismo de Euclides da Cunha.
O último capítulo do livro descreve a forma
como os remanescentes do arraial foram tratados, a mesma que levou ao
extermínio os últimos soldados e familiares de Solano Lopes, na Guerra do
Paraguai, cujos arquivos são mantidos em sigilo até hoje. No final da refrega
da Guerra de Canudos (novembro de 1896 a outubro de 1897), conta o escritor,
“uma dúzia de moribundos, vidas concentradas na última contração dos dedos nos
gatilhos das espingardas, combatiam contra um exército”. No início, eram 20 mil
seguidores.
“Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda
a história, resistiu até o esgotamento completo (...) Eram quatro apenas: um
velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam
raivosamente 5 mil soldados”, conta Euclides. Suas 5.200 palhoças foram
destroçadas.
As mesmas iniquidades sociais e a violência
oficial de Canudos, ao longo desses 120 anos, migraram para as favelas e
periferias das cidades brasileiras, inclusive, médias. O próprio nome favela é
uma herança de Canudos, pois a primeira delas, que surgiu no Morro da
Providência, no Bairro da Saúde, no Rio de Janeiro, abrigava os soldados
remanescentes de Canudos, que foram desmobilizados.
Um estudo do Fórum Brasileiro de Segurança
Pública (FBSP) com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), a partir
das análises dos boletins de ocorrência de todos os estados, constatou que o
Brasil tem uma média de 6,97 mil mortes violentas intencionais de crianças e
adolescentes por ano. Segundo o Panorama da Violência Letal e Sexual contra
Crianças e Adolescentes no Brasil, entre 2016 e 2020 foram ao menos 34,9 mil
mortes violentas intencionais contra pessoas de até 19 anos de idade.
A maior parte das mortes atingiu adolescentes
entre 15 e 19 anos. Essas vítimas têm um perfil predominantemente masculino
(92%) e negro (79%). A maioria dessas mortes foi causada por arma de fogo (85%)
e classificada como homicídio (87%). No entanto, também aparecem como razão das
mortes os feminicídios (1%) e as intervenções policiais (10%). Em 2020, o
índice de mortes causadas por ação policial chegou a 15%, ficando em 44,4% no
estado de São Paulo.
Na faixa entre 10 e 14 anos de idade, o
perfil ainda é parecido com o dos adolescentes mais velhos — 78% são do sexo
masculino, 80% negros e 75% das mortes causadas por arma de fogo. Entre as
crianças, há uma mudança do perfil, das vítimas de 5 a 9 anos de idade, 55% são
meninas, e, de até 4 anos de idade, 35% são do sexo feminino. As armas de fogo
foram usadas em 47% das mortes de 5 a 9 anos de idade, e em 45% das crianças de
até 4 anos de idade.
Faz todo sentido a prioridade dada pelo
governo federal aos jovens negros, que são uma população em risco permanente. O
Plano Juventude Negra Viva, lançado pelo presidente Luiz Inácio lula da Silva
na quinta-feira (21/3), no Ginásio Regional de Ceilândia, a 30 quilômetros do
Centro de Brasília, prevê investimento de mais de R$ 665 milhões nos próximos
anos, em ações transversais de 18 ministérios, para a redução da violência
letal e outras vulnerabilidades sociais que afetam essa parcela da população. Considerando
políticas que englobam os jovens negros, mas não são exclusivas para esse
público, o montante ultrapassa R$ 1,5 bilhão.
Como disse Lula, não é possível “achar normal” o extermínio de nossa juventude negra. Articulado pelo Ministério da Igualdade Racial e pela Presidência da República, cerca de 6 mil jovens negros foram ouvidos na elaboração do plano. Representam aproximadamente 23% da população brasileira.
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