Folha de S. Paulo
Livro destrincha os efeitos psicológicos da
habituação e defende que aprendamos a nos desabituar
A Lava Jato não passa de uma criação da CIA. Essa
asserção e variantes são demonstravelmente falsas, mas petistas as repetem tão
amiúde que já há quem as tome por verdadeiras. O nome do fenômeno é "efeito da verdade ilusória", que pode ser definido
como a tendência de acreditar que informações falsas estão corretas após
exposição repetida. Incrivelmente, funciona.
"Look Again" (olhe de novo), de Tali Sharot e Cass Sunstein, explica essa e outras facetas da habituação, um dos mais fascinantes atributos da psique humana. Tecnicamente, a habituação é uma forma de aprendizado, caracterizada pela diminuição da intensidade com que respondemos a um estímulo à medida que a exposição se prolonga. A habituação é uma bênção e uma maldição.
Sharot e Sunstein explicam as bases
evolutivas e biológicas da habituação e mostram como ela está envolvida em
quase tudo o que fazemos. É ela que permite que nos adaptemos a novas
realidades. Mas também é o mecanismo por trás da própria insatisfação humana:
nós rapidamente nos acostumamos às coisas boas em nossas vidas e deixamos de
valorizá-las.
Os autores sustentam que precisamos aprender
a nos desabituar. Em várias circunstâncias, fazê-lo pode significar extrair
mais prazer de nossas atividades, nos livrar de fatores de estresse e até
inovar mais.
Sharot e Sunstein passam sua mensagem num
texto cheio de boas histórias, muitas delas surpreendentes.
"Högertrafikomläggnigen" é a palavra sueca para designar "desvio
do tráfego para a direita". É como ficou conhecido o dia 3 de setembro de
1967, quando a Suécia trocou a mão inglesa pelo sistema vigente no restante da
Escandinávia. As autoridades esperavam um aumento nos acidentes, mas o que se
constatou foi uma redução.
A explicação? A desabituação levou os
motoristas suecos a ficarem mais atentos. O efeito durou dois anos. Depois
houve nova habituação e os acidentes voltaram às taxas basais.
Um comentário:
Muito bom o artigo.
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