O Globo
Conferências que seguem até setembro de 2024
têm como objetivo central colocar a favela no mapa do G20
Cada vez mais, milhões de pessoas se deslocam
para os grandes centros urbanos, fazendo das cidades uma grande arena de
disputas e desafios mundiais. Sem planejamento, esses milhões de pessoas se
acotovelam para conseguir viver mais perto da infraestrutura dos
centros, das áreas comerciais e dos territórios economicamente mais ativos e,
numa corrida desenfreada, se amontoam gerando grandes exércitos de excluídos de
possibilidades de existência digna e de meios básicos de sobrevivência, já que
viver com qualidade é condição apenas para quem pode pagar para permanecer
nessas áreas.
Os desafios têm várias camadas que recortam essa nova configuração e, nesse sentido, a adoção pelo IBGE da nomenclatura e definição de “favelas e comunidades urbanas” ajuda a desinvisibilizar as populações e territórios sobrantes do paraíso da inclusão.
Como efeito colateral, a população das
favelas e comunidades urbanas já soma quase 20 milhões. Caso fosse um estado,
seria o quarto mais populoso da Federação brasileira. Sua potência econômica,
mesmo diante da ausência de serviços públicos de qualidade, chega a mais de R$
200 bilhões em poder de consumo anual. É geração de riqueza.
O debate sobre território está vivo no
planeta todo, já que pessoas cruzam desertos e oceanos para procurar uma
possibilidade de vida em terras de Primeiro Mundo. Milhares de refugiados
sofrem todos os dias vítimas da guerra e da fome. Há aqueles que se deslocam
diariamente das áreas rurais para os grandes centros. Todos procuram se
estabelecer num terreno tranquilo, onde tenham pão, paz e terra.
Diante do desafio de conectar globalmente as
demandas dessas áreas invisibilizadas, a Central Única das Favelas (Cufa), a
Frente Nacional Antirracista e a Frente Parlamentar das Favelas lançam hoje no
Complexo da Penha/Alemão, no Rio de Janeiro, as Conferências Internacionais das
Favelas (CIF20), com chancela do G20 Social e parceria da Unesco. Como não
queremos substituir o poder público, mas ao mesmo tempo queremos o diálogo com
todas as esferas, contamos com a parceria do governo do Estado do Rio, da Prefeitura
do Rio e também da TV Globo e da Trace.
As CIF20 serão encontros que vão mapear e
endereçar as demandas das favelas e periferias, no Brasil e noutros 40 países,
até a cúpula do G20 em novembro. Um documento será entregue a todos os chefes
de Estado presentes, para que as favelas pautem a cúpula, e não sejam apenas
coadjuvantes desse processo decisório mundial.
As conferências serão divididas em fases ao longo dos meses de abril, maio, junho e julho e serão produzidas e realizadas pelas Cufas desses países. A primeira fase começa hoje no Brasil e, ao longo do mês de maio, acontecerá nos seguintes países: Luxemburgo, Suécia, Cazaquistão, Rússia, Uzbequistão, Bélgica, Reino Unido, República Centro-Africana, República Democrática do Congo e Moçambique. Essas conferências, que seguem até setembro de 2024, têm como objetivo central colocar a favela no mapa do G20, trazendo contribuições de todos os continentes, organizando questões sociais, políticas e econômicas específicas desses territórios para endereçá-las aos tomadores de decisão como parte da agenda do G20.
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