Folha de S. Paulo
Nenhum sistema de votação é perfeito, mas
alguns são melhores do que outros
Uma das coisas mais difíceis na democracia é
contar os votos. Não me refiro obviamente ao delírio bolsonarista segundo o
qual as urnas
eletrônicas seriam manipuladas. O sistema eleitoral brasileiro
só melhorou depois que elas foram adotadas. Tenho em mente aqui um problema que
é a um só tempo mais sutil e mais profundo.
Ao menos desde de Condorcet, no século 18, e de Arrow, no 20, sabemos das dificuldades para transformar somas de preferências individuais em decisão coletiva sem gerar paradoxos.
Daí não decorre que devamos desistir da
democracia. Até sistemas notoriamente ruins, como o colégio
eleitoral que existe para eleições presidenciais
nos EUA, são preferíveis a métodos não democráticos de exercício do poder, que
invariavelmente geram violência.
Meu ponto é que existe um amplo cardápio de
sistemas de votação e alguns são melhores do que outros. Tomemos o caso do
pleito municipal paulistano. Pelos números do Datafolha, é possível que
tenhamos um segundo turno entre Boulos e Marçal que
são, pelo mesmo Datafolha, os candidatos
mais rejeitados pela população. Tabata,
que derrotaria todos os outros postulantes num segundo turno, amarga um
distante quarto lugar nas intenções de voto para o primeiro.
Penso que seria interessante pensarmos em
adotar um sistema de votação que dê um pouco mais de peso às rejeições, como o
do voto valorativo, em que cada eleitor atribui pontos a todos os concorrentes.
A democracia no Ocidente viveu uma era de
ouro entre o fim da 2ª Guerra e o início deste século porque, por uma série de
razões, prevaleciam cenários em que os votos mais radicais à esquerda e à
direita meio que se anulavam, abrindo espaço para que os eleitores moderados
definissem os pleitos.
Sei das dificuldades para implementar uma
mudança dessa magnitude. Sistemas valorativos são mais opacos do que o atual e
vendê-los à população não seria tão simples. De toda maneira, acho que essa é
uma meta de longo prazo da qual não deveríamos desistir. A democracia é uma
obra em constante aperfeiçoamento.
2 comentários:
Concordo,por esse método,Tabata seria eleita.
Verdade. Há muitos como eu cansados de votar tapando o nariz, mais por rejeição dos demais do que escolha.
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