A COP30 coloca o Brasil na centralidade das discussões ambientais globais e regionais: advogando a consequente redução dos gases de efeito estufa, a preservação dos nossos ecossistemas, particularmente amazônico, da biodiversidade, dos oceanos, da água, ampliação do uso de energias renováveis, assim como a mitigação dos impactos econômicos e sociais causados pelas mudanças climáticas, ora em curso, atingindo toda a humanidade.
A Paz como fundamento da sustentabilidade
humana no planeta
A Paz, nunca foi devidamente considerada nos
Fóruns Ambientais Globais como fundamento da sustentabilidade humana no
Planeta. Portanto, propomos considerar a Paz como princípio nas relações dos
seres humanos entre sí e com a própria natureza.
Os horrores das guerras, acompanhadas em tempo real e espetacularizadas nos meios de comunicação, evidenciam a barbárie do mundo em que vivemos, que nada aprendeu diante das tragédias desencadeadas durante as guerras mundiais do século xx, provocadas pelo nazi-fascismo e o holocausto nuclear liderado pelos EUA contra o Japão.
As atuais guerras em andamento, envolvendo a
Ucrânia e a Rússia, assim como Israel, a Palestina, o Irã e o Líbano, são
pontas do iceberg: persiste a cultura da guerra fria, subordinando a Europa à
política militar da OTAN, diante de um beligerante cenário político
internacional, colocando em risco a existência da própria humanidade no
planeta.
Os gastos militares dos países da OCDE
aumentam significativamente, sobretudo os dos EUA, China, Rússia, Ucrânia,
Israel e da União Européia. Segundo os dados do conceituado Instituto de
Pesquisa para a Paz, de Estocolmo, apenas os EUA e a Rússia totalizam 90% do
arsenal nuclear mundial, perseguidos pela China que vem se modernizando militarmente,
inclusive na área nuclear.
Destaque-se, segundo o referido Instituto, os fabulosos gastos militares dos Estados Unidos no ano de 2023, da ordem 916 bilhões de dólares, vindo em seguida a China com 296 bilhões de dólares e a Rússia, em terceiro lugar, com 109 bilhões de dólares. Na sequência, temos Índia, Arábia Saudita, Reino Unido, Alemanha, Ucrânia, França, Japão. Dos países em guerra, a tragédia maior é da Ucrânia, que investe 37% do seu pib em gastos militares. A Rússia utiliza 5,9 % e Israel, na décima quinta posição, aplica 27,5 bilhões de dólares, correspondente a 5,3 % do PIB nacional.
São valores astronômicos, relacionados
claramente com as tragédias políticas, econômicas, sociais e ambientais de cada
país e as regiões onde as guerras acontecem. Há ainda as tenebrosas transações
envolvendo os complexos industriais militares das potências hegemônicas com os
países asiáticos, africanos e latino-americanos.
Como a Comunidade Internacional está se
posicionando frente a esta trágica realidade?
As guerras e os conflitos regionais colocam
em cheque o anacronismo das atuais organizações multilaterais, principalmente
da ONU, que ainda funcionam com a lógica dos vencedores da segunda guerra
mundial, com o poder de veto da Rússia (substituindo a URSS), os EUA, a Inglaterra,
a França e a China.
Segundo a ONU, existem atualmente no mundo 30
regiões em conflito, a maioria armados. Os conflitos envolvem disputas
territoriais, diferenças étnicas, religiosas e apropriação das fontes naturais:
água, petróleo, gás, biomassa, energia solar, eólica. Portanto, existem no
mundo, há décadas, zonas de tensão geopolítica não resolvidas, a exemplo das
Coreias, do Irã, da Palestina e Israel. Considerem-se ainda os movimentos
separatistas que criam instabilidades políticas e econômicas, como na Irlanda
do Norte, no País Basco e na Catalunha, no Quebec e na Colômbia, entre outros.
Ao mesmo tempo, a humanidade convive com as
questões relacionadas às mudanças climáticas. Os investimentos do Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA-2023) em relação a Adaptação Climática para
o ano de 2023, seriam da ordem de 200 bilhões/ano, sob a responsabilidade,
principalmente do G20, mas não se realizaram. Os investimentos e as ações
mitigadoras em relação às mudanças climáticas estão sempre sendo adiados,
atingindo sobremaneira as populações mais vulneráveis da África, Ásia e América
Latina. Os investimentos anuais seriam da ordem de 200 bilhões para a
minimização dos efeitos climáticos, segundo o referido relatório. No mesmo ano
de 2023, os gastos militares dos EUA, China e Rússia foram acima de 1 trilhão
de dólares!
Portanto, constata-se que as guerras e os
conflitos regionais drenam recursos fabulosos que poderiam estar sendo
empregados para o enfrentamento dos reais problemas da humanidade, inclusive os
relacionados com as mudanças climáticas e as respectivas agendas econômicas,
sociais e ambientais a serem discutidas na COP30, em 2025, no Brasil.
Sob qual perspectiva nos colocamos? O que
temos a dizer como sociedade brasileira e mundial no processo de construção de
novas relações internacionais centradas na vida, no caminho de uma sociedade
mais solidária, tendo a Paz como fundamento da sustentabilidade humana no planeta?
A lógica da guerra, de resolver os conflitos
entre os países manu militari, não interessa à maioria da humanidade. A quem
interessa? Interessa aos complexos industrial-
militar das potências hegemônicas, historicamente construídos,
consolidados nos tempos da guerra fria e que sobrevivem até a atualidade.
Imaginem se os gastos militares, desde a primeira guerra mundial, tivessem sido
investidos para a afirmação de uma Cultura para a Paz? Para o enfrentamento dos
reais problemas políticos, econômicos, sociais e ambientais da sociedade
humana?
As guerras na Ucrânia, na Palestina, em
Israel, no Irã e no Líbano, como outros conflitos regionais em curso, desnudam
as fragilidades da própria ONU e dos sistemas políticos, econômicos e sociais
do mundo em que vivemos, desafiando a humanidade na perspectiva de construção
de novas relações entre sí e com a própria natureza.
As realidades das ruas e das redes sociais,
em qualquer lugar do planeta, trazem em
tempo real para toda a Humanidade os genocídios e as tragédias sociais,
econômicas e ambientais de milhões de pessoas, atingindo principalmente as
crianças e as pessoas mais velhas. A maioria destas populações continuam à
margem das conquistas sociais mais elementares: educação, trabalho,
alimentação, moradia, saúde, saneamento básico, mobilidade, inclusão digital e
uma renda básica, apontados como direitos universais.
Assim, a luta pela Paz é a luta pela Sustentabilidade do Planeta, é a luta pela vida de cada um de nós. A ONU transformada, refletindo a complexidade do mundo em que vivemos, deve ser o espaço privilegiado no caminho da resolução dos conflitos militares entre a Rússia e a Ucrânia, entre Israel, a Palestina, o Irã e o Líbano e de todos os outros conflitos militares em curso no planeta. Devemos afirmar e reafirmar os valores que nos fazem humanidade: a cooperação, a solidariedade, a luta pela igualdade, a liberdade e a fraternidade . Há espaços, inclusive na COP30 a ser realizada no Brasil em 2025, para a construção de novas relações políticas, econômicas e sociais, direcionando o conhecimento humano a favor do enfrentamento dos reais problemas da Humanidade, onde a cultura da Paz coloca-se como fundamento da democracia e da sustentabilidade humana no Planeta. São valores universais para a sociedade contemporânea, no caminho de sermos uma melhor humanidade.
*Membro da UFBA e Diretor do Instituto Politécnico da Bahia.
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