Folha de S. Paulo
STF deve requalificar seus processos para
julgar trama golpista
O Supremo Tribunal Federal terá
o enorme desafio de decidir sobre o destino dos envolvidos na bizarra trama
golpista, descortinada pela Polícia Federal. Os prováveis réus são militares
radicalizados de alta patente, além do ex-capitão Jair
Bolsonaro que, ao longo de todo o seu mandato como presidente,
nunca perdeu uma oportunidade para atacar o Supremo e os seus ministros, assim
como incitar os militares e os seus apoiadores contra o tribunal.
Embora um tribunal jamais deva temer ou se
curvar à opinião pública ou a dos poderosos, o exercício da pesada tarefa de
aplicar a lei depende do reconhecimento de sua autoridade por parcela
significativa da sociedade, especialmente por parte daqueles atores políticos e
institucionais que interagem com os tribunais. A autoridade judicial está
diretamente associada à sua capacidade de demonstrar imparcialidade,
honestidade, objetividade, eficiência, coerência e consistência na aplicação da
lei. Mas, também, à sua disposição de não se curvar aos poderosos.
Nesse contexto, penso que a melhor maneira do Supremo enfrentar esse novo desafio que lhe está sendo apresentado, seja requalificar seu processo decisório. Aliás, isso seria fundamental não apenas para o julgamento de eventuais golpistas, mas também para o exercício ordinário de sua jurisdição, num ambiente em que parece não haver questão relevante da vida nacional que não passe pelos gabinetes do Supremo.
Cito abaixo algumas ideias - que vêm se
tornando consensuais entre muitos que acompanham a vida do Supremo - voltadas a
fortalecer a autoridade do Supremo, deixando-o menos vulnerável às ameaças
apresentadas pelos inimigos da Constituição, mas também às críticas honestas
daqueles imbuídos em qualificar a sua missão de guardião da Constituição:
1. Colocar fim a decisões monocráticas. O
Supremo recebeu a enorme responsabilidade de dar a última palavra sobre
importantes questões de natureza constitucional. Esses poderes foram atribuídos
ao tribunal, por meio de seus colegiados, para reduzir o risco de vieses e
preferências nos julgamentos. A jurisdição conferida ao tribunal não pode ser
apropriada individualmente pelos ministros, sob qualquer pretexto. Não é
verdadeiro o argumento de que isso paralisaria o Supremo. Tribunais funcionais
ao redor do mundo exercem suas funções sem transferir seus poderes aos seus
membros;
2. Ampliar segurança jurídica. O Supremo
precisa ser capaz de estabilizar sua jurisprudência e fazer com que ela sirva
de guia para as demais instâncias judiciais e para os jurisdicionados. Para
isso, seria importante que suas decisões (além de colegiadas) representassem
não apenas uma somatória de votos individuais, mas uma autêntica opinião da
corte ou de sua maioria. Mais do que isso, essas decisões deveriam demonstrar
estrita congruência à legislação e consistência com os precedentes do próprio
tribunal. A falta de objetividade e inconsistência gera a percepção de uma
justiça arbitrária, o que é uma contradição em termos;
3. Por fim, é necessário que o Supremo adote
um código de conduta, que auxilie os ministros a transmitir uma imagem de
imparcialidade e comedimento, indispensáveis ao exercício da função que lhes
foi atribuída.
Embora as maiores ameaças ao Supremo venham
dos inimigos da Constituição, suas maiores fragilidades vêm de seu próprio
processo decisório, sobretudo, da fragmentação de sua jurisdição.
2 comentários:
Mais uma daquelas colunas cheias de boas intenções, onde o escritores parece que vive numa realidade paralela, onde até parece que os 11 supremos irão baixar a bola, só ver ontem Gilmar Mendes dando entrevista falando sobre a política econômica do Lula, sim um ministro do supremo se metendo em análises econômicas....
Concordo com o anônimo acima
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