segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Os dez passos da moderação - Diogo Schelp

O Estado de S. Paulo

O antídoto para os radicalismos é a moderação política, não é ficar em cima do muro

O porre da polarização extrema de 2022 foi além das festas de fim de ano e avançou 2023 adentro, culminando nos atos de 8 de janeiro, que quase colocaram o País em coma político. A ressaca que se seguiu foi duradoura. Parecia que os brasileiros iam optar de vez pela abstinência dos radicalismos. Mas 2024 tinha outros planos. A violência política e o discurso maniqueísta reapareceram na eleição municipal, com direito a cadeiradas e troca de sopapos diante das câmeras. Em outra frente, os sentimentos que intoxicaram as mentes dos que participaram da quebradeira em Brasília voltaram a aflorar pouco a pouco, abastecidos pelas fake news de sempre e por arbitrariedades judiciais cometidas em nome do nobre fim de combatê-los.

O antídoto para os radicalismos é a moderação política, que não se deve confundir com ficar em cima do muro ou com deixar de defender aquilo em que se acredita. O cientista político romeno Aurelian Craiutu, da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, um dos raros estudiosos do assunto, sugere uma lista de dez regras ou passos para a moderação política que podemos adaptar para o Brasil de 2025.

Primeiro passo: considere a moderação como uma virtude com múltiplas facetas, em que os limites do que é aceitável definido por um não são os mesmos de outros. Segundo: reconheça as dimensões institucionais da moderação, que incluem valores como separação de Poderes, pesos e contrapesos, federalismo, devido processo legal, etc. Terceiro: não confunda moderação com indecisão, fraqueza ou apatia. Quarto: pense de forma política, não ideológica. Ou seja, com pragmatismo em vez de dogmatismo. Quinto: invista no diálogo com seus oponentes, mesmo que isso seja por vezes desconfortável. Sexto: saia da sua bolha política.

Sétimo: não se ofenda com muita facilidade e não leve discordâncias para o lado pessoal. Oitavo: reconheça que o partidarismo nem sempre é algo ruim, pois há espaço para atitudes moderadas dentro dele. Nono passo: seja humilde e pratique a arte da dúvida. A dose certa de flexibilidade nas discussões dá aos moderados um grande trunfo, que é o de não ser inteiramente previsível. Décimo e último passo: não desista de defender o que é certo e não se cale para injustiças, mas faça isso sem violência e pensando que do outro lado há alguém a ser convencido, não destruído.

Nas festas de fim de ano e no engajamento político, moderação é o que evita as piores ressacas.

 

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