Folha de S. Paulo
Ex-presidente só se livrará da cadeia se
centrão pegar carona em anistia
Para que Deltan
Dallagnol conseguisse tantas provas contra Lula quanto
as que a Polícia
Federal descobriu contra Bolsonaro, teria que ter encontrado uma
gravação em que o atual presidente da República discursasse ao PT em 2004
dizendo: "Companheiros, vamos roubar a grana da Petrobras!"; teria
que ter achado um cofre secreto no sítio de Atibaia com uma placa dizendo
"grana que ganhei como suborno"; e teria que ter ouvido de Fidel Castro que
Lula lhe propôs roubar "mucha plata" para poder distribuir
"biberones de carajo" nas creches brasileiras.
Nada disso existe. O que existe é o seguinte:
Os comandantes do Exército e da Aeronáutica disseram à polícia que Jair Bolsonaro lhes propôs um golpe. A minuta de declaração de golpe apresentada aos militares foi encontrada na casa do ministro da Justiça de Bolsonaro, Anderson Torres. Torres deixou o ministério no final do ano e tornou-se secretário de segurança de Brasília, sendo, portanto, responsável pela completa inação da polícia no dia 8 de janeiro.
Os celulares de Mauro Cid e
Braga Netto mostram, para além de qualquer dúvida, que os dois conspiravam, em
nome de Bolsonaro, para que os militares aderissem ao golpe. A polícia
encontrou mensagens de Braga Netto ordenando uma campanha para derrubar o chefe
do Exército que não aderiu ao golpe.
Um plano de assassinato de
Lula foi impresso no Palácio do Planalto, e seu autor encontrou-se com
Bolsonaro logo depois, no Palácio da Alvorada. A polícia encontrou mensagem de
Mauro Cid dizendo a um oficial golpista, dias antes do 8 de janeiro, que a
tentativa de golpe ainda estava em curso. Um manifesto de oficiais golpistas
foi lido na Jovem Pan por Paulo Figueiredo, o nepobaby do golpe.
As mensagens de Cid, a auditoria dos
militares e a auditoria do PL mostraram
claramente que Bolsonaro e seus cúmplices sabiam que as urnas não haviam sido
fraudadas. Continuaram a mentir como forma de garantir apoio popular ao golpe.
A lamentar na denúncia da PGR, só a ausência,
entre os denunciados, da bancada bolsonarista que se reuniu no Congresso em 30
de novembro de 2022 para organizar o golpe. Essa gente continuará infectando a
política brasileira, travando nosso progresso econômico, conspirando com outros
representantes da Internacional Fascista para destruir nossa democracia.
Bolsonaro nunca fez mistério sobre suas
intenções. No cuspe
no busto de Rubens Paiva e no voto do impeachment, em live de quinta
após live de quinta, em cercadinho após cercadinho, em Ustrapalooza na Paulista
após Ustrapalooza, Jair sempre deixou claro que tentaria um golpe. Qualquer um
que não fosse burro o suficiente para comprar criptomoeda do Milei sabia que o
golpe viria.
Para escapar da cana dura, Bolsonaro conta
com uma anistia do
Congresso. Sua esperança reside em outra de suas criações, o orçamento secreto.
O centrão ameaça o governo Lula com anistia aos golpistas na esperança de que
Lula peça a Flávio Dino que pare de investigar a roubalheira das emendas
parlamentares dos últimos anos.
Diante da avalanche de provas, o candidato
antissistema de 2018 só vai se livrar da cadeia se a turma mais violentamente
ladra do sistema político brasileiro descobrir um jeito de pegar carona em sua
anistia.
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