O Globo
Foto de palestinas com panelas vazias é novo
retrato da barbárie que parte do mundo finge não ver
As fotos correram o mundo nesta
segunda-feira. Num campo de refugiados ao norte de Gaza, dezenas de palestinos
famintos estendem suas panelas vazias. Tentam receber alguma comida após quase
três meses de bloqueio à entrada de ajuda humanitária.
Em março, o governo de Israel fechou a
passagem de comboios com doações para a população civil. A atitude escancarou o
uso da fome como arma de guerra contra inocentes.
Nesta segunda, o primeiro-ministro Benjamin
Netanyahu finalmente autorizou a entrada dos primeiros caminhões com alimentos.
Fez questão de informar que agia a contragosto, por “razões diplomáticas”.
Depois de um longo silêncio cúmplice, países que apoiavam Israel incondicionalmente enfim começam a se manifestar contra a calamidade em Gaza. Em declaração conjunta, os governos de Reino Unido, França e Canadá afirmaram que o nível de sofrimento humano na região se tornou “intolerável”.
Os três países condenaram a “linguagem
abominável” de autoridades de Tel Aviv que pregam a expulsão dos palestinos de
sua própria terra. “Sempre apoiamos o direito de Israel de defender os
israelenses do terrorismo, mas essa escalada é totalmente desproporcional”,
escreveram.
Até Donald Trump, que já propôs a transformar
Gaza num grande resort de luxo, ensaia mudar de tom. Na sexta passada, o
americano admitiu que “muitas pessoas estão morrendo de fome” no enclave. Ontem
o subsecretário para Assistência Humanitária da ONU, Tom Fletcher, disse que 14
mil bebês podem morrer de desnutrição se a ajuda humanitária não chegar logo.
Desde o início da ofensiva, deflagrada em
outubro de 2023 como reação aos ataques terroristas do Hamas, forças
israelenses já mataram 53 mil palestinos em Gaza. O governo Netanyahu se recusa
a parar a carnificina. Prefere ignorar as leis internacionais e acusar os
críticos de antissemitismo.
Em foto publicada na capa do jornal espanhol
El País, mulheres disputam colheradas de sopa no campo de refugiados de
Jabalia. Uma se espreme na outra, na tentativa de conseguir algum alimento para
os filhos. No centro da imagem, uma jovem mostra a panela vazia e grita por
comida. Seu desespero é um retrato da barbárie que parte da comunidade
internacional ainda finge não ver.
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