Nos últimos dias participei de debates sobre o futuro da economia brasileira, recebi um trabalho da Macroplan Prospectiva, Estratégia & Gestão com os cenários para o país e o mundo depois da crise, e outro, do exministro João Paulo dos Reis Veloso, apresentado no seminário do GLOBO sobre os últimos 40 anos de economia brasileira. Há uma unanimidade entre os analistas: o Brasil se saiu muito bem da crise internacional e está preparado para assumir um lugar de destaque no novo mundo que está se desenhando.
Paulo Vieira da Cunha, exdiretor do Banco Central e atualmente na Tandem Global Partners, Nova York, que fez uma palestra na reunião do Instituto Brasileiro de Siderurgia em São Paulo, prevê que as economias emergentes, “notadamente os BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China) e especialmente a China”, num cenário mais otimista, continuariam a alavancar o crescimento global, que voltaria a ter uma velocidade de cruzeiro de 3,5% a 4% ao ano em 20112012 — puxada pela China (8,5% a 9%) Índia (6,5% a 7%) e Brasil (4% a 4,5%).
As projeções indicam que, se em 2006 o G-7 representava aproximadamente 45% do PIB mundial, e os BRICs, 25%, em 2012, possivelmente, o G-7 some 39% e os BRICs, 30%.
Vieira da Cunha acredita que, a médio prazo, a dinâmica de crescimento dos BRICs poderá substituir a do G-7. Mas ele vê o cenário externo menos benigno, com forte redução do ritmo de expansão do comércio internacional; aumento da concorrência por mercados, especialmente em manufaturas (todos querem crescer exportando) e protecionismo.
No campo interno, Vieira da Cunha ressalta alguns problemas: investimento privado deprimido e investimento público atrasado, com forte deterioração das contas públicas; expansão do tamanho do Estado na economia e redução da taxa de crescimento do PIB potencial.
Para ele, “a redução brusca do superávit primário é em parte cíclica — mas a tendência terá que ser corrigida, depois das eleições”.
Já o economista Armando Castelar, do Ipea e do Gávea Investimentos, em palestra na Federação das Indústrias de Minas Gerais, diz que o Brasil saiu bem na foto da crise e que houve uma “surpresa positiva” com o tamanho da resposta da política econômica à crise, já havendo um “otimismo com a retomada do crescimento”.
Para isso, ajudou a percepção de que “um cenário de catástrofe no sistema financeiro se tornou improvável, dada a melhora na situação dos bancos, com mais lucros e capital, a partir de captações de mercado ou de infusões pelos governos”.
A menor deterioração no mercado de trabalho do que se projetava, a partir da queda na produção na virada do ano, deveu-se à recuperação relativamente rápida do nível de atividade da indústria, com a conclusão do processo de ajuste de estoques.
O mercado de trabalho reagiu bem, com aumento apenas marginal do desemprego e sustentação do rendimento real. Na análise de Castelar, a recessão foi “suave e breve” porque o Banco Central “soube aproveitar espaço na política monetária para baixar juros e irrigar o mercado de liquidez”.
A expansão fiscal já estava parcialmente contratada “e foi importante em alguns setores, ainda que de baixa qualidade”.
A desvalorização cambial não repercutiu na inflação, o consumo reagiu bem, apesar da queda nas concessões de crédito e “há razões para otimismo”, com duas ressalvas importantes: ajustes continuam necessários e o risco político retorna com eleições e transição política.
O ex-ministro João Paulo dos Reis Velloso deu algumas indicações do que deveria ser feito para que o Brasil aproveite o ambiente pós-crise: — Usar o pré-sal para transformar a economia e o desenvolvimento do Brasil; — Usar o “Modelo Escandinavo” para construir grandes complexos industriais em torno dos principais setores integrados intensivos em recursos naturais; — Nova matriz energética para o país; — O Futuro é Agora – Projeto de desenvolvimento de modelo de carro elétrico brasileiro; — Nova etapa no desenvolvimento da bioenergia (e desenvolvimento da bioquímica); — Transformar o Brasil em terceiro centro global de tecnologias de informação e comunicações (TICs); — Nova Era – Estratégia de desenvolvimento das indústrias elétrica e eletrônica (até 2020); — Nova oportunidade para a indústria de bens de capital, aproveitando o desenvolvimento de várias oportunidades estratégicas (e a infraestrutura).
— Transformar potencial em oportunidade, biotecnologia à base da biodiversidade.
— Universalizar a inovação nas empresas brasileiras, para dotar o país de um dos principais motores do desenvolvimento moderno (“Inovação como a Estratégia da Empresa”).
— Arma Secreta do Brasil: espírito empresarial, transformar a pequena (moderna) empresa em uma das bases do desenvolvimento.
— Programa de apoio à criação de novos Clusters (Aglomerados) de inovação, parques tecnológicos.
— Desenvolvimento das “Indústrias” Criativas (cultura, artes, entretenimento).
Claudio Porto e Rodrigo Ventura, da Macroplan Prospectiva, Estratégia & Gestão, consideram que o Brasil tem “boas chances de acelerar o crescimento nos próximos trimestres”. Para eles, o país sofreu menos e sairá mais cedo da recessão por três motivos principais: a solidez do setor financeiro, que evitou uma crise bancária e a redução do crédito; a força do mercado interno, que permitiu a compensação da queda da demanda externa pela sustentação da demanda doméstica; e a estratégia do governo para enfrentamento da crise (sustentação do consumo doméstico), que tem se mostrado eficaz, pelo menos a curto prazo.
Para 2010, eles veem dois cenários. Um, de ajustes estruturais, e outro, de adaptações incrementais, que pressupõe a continuidade, com ajustes eventuais, da estratégia de travessia atualmente em curso. (Continua amanhã)
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