DEU NO VALOR ECONÔMICO
Minas Gerais é uma província. E nunca uma eleição presidencial esteve tão dependente de seus rumos. A província que conta foi o enredo da inauguração da nova sede do governo de Minas.
O editorial de primeira página do principal jornal do Estado - "A reboque não!" - já prenunciava o tom do evento mais esplendoroso dos oito anos do governo Aécio Neves. O governador que conduz, mas não é conduzido não pode alegar que não sabia o que encontraria no dia seguinte em Belo Horizonte.
Os gritos eram de "Aécio Presidente", mas o evento não era um lançamento do anfitrião. Depois de três meses insistindo em ter o candidato a vice definido antes da cabeça de chapa, o PSDB assistiu ao governador José Serra ser submetido a uma constrangedora apoteose da mineiridade.
Aos conterrâneos que saudou, Aécio tratou por "extraordinários". Entre os governadores, a saudação apenas foi extensiva ao irmão de Ciro, Cid Gomes (CE). A quem não estivesse informado, ali se soube que o governador Sérgio Cabral (PMDB) foi casado com Suzana, prima do anfitrião, e que muito os orgulha os três descendentes Neves-Cabral.
A governadora gaúcha Yeda Crusius (PSDB), que esteve prestes a ser cassada, foi tratada como "companheira lutadora e guerreira", o de Santa Catarina, Luiz Henrique (PMDB), como "companheiro de todas as horas, de angústias e de vitórias".
Serra, que abriu a lista dos governadores saudados por Aécio, foi tratado com respeito - "um grande companheiro desta e de outras lutas", - recebeu as boas-vindas a Minas Gerais, mas não ouviu nenhuma menção à disputa presidencial. Talvez porque ainda não seja candidato.
O governador paulista até que vinha se esforçando nos últimos dias. Fez, no Senado, um discurso lapidar na homenagem ao centenário do avô de Aécio. Reconciliou seu PSDB com a matriz da Nova República que o partido rompera na sua fundação.
É improvável que Serra tenha partido para Belo Horizonte na expectativa de que Aécio transformaria o evento num lançamento da chapa tucana. Mas é possível que tenha saído de lá com a impressão de que, pior do que enfrentar a candidata do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é depender de Minas para ganhar a eleição.
É claro que Aécio vai pedir votos para o candidato do PSDB. Quem quer que ele seja. Não poderia fazer diferente. Mas se a mineiridade ferida é um sentimento antes da elite política que lotou o evento de ontem que do eleitor do Vale do Jequitinhonha, as limitações da transferência de voto são reais.
É um fenômeno que funciona para o mesmo cargo. Precisou que Marta Suplicy (PT) fosse derrotada com o apoio do presidente na disputa pela Prefeitura de São Paulo e Dilma encostasse em Serra com o mesmo cabo eleitoral para o óbvio finalmente se fazer ouvir.
Em 2008, Aécio suou para, junto com o então titular, Fernando Pimentel (PT), eleger o prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB). Perdeu prefeituras importantes que agora terá que correr atrás para fazer o sucessor.
Serra começa a enfrentar a disseminação, em sua base, da tese de que a única maneira de Aécio comandar os votos em Minas seria na cabeça de chapa. E que a chance de o governador paulista ganhar em Minas é menor do que a de Aécio Neves em São Paulo. Face à ausência de racionalidade da recalcitrante montagem da chapa presidencial do PSDB recorre-se ao comportamento eleitoral.
Somados, Norte e Nordeste têm um terço do eleitorado que, nas duas últimas eleições, deu ampla margem de vitória a Lula. Nessas regiões, a ministra Dilma Rousseff já passou à frente de Serra. É nessa fatia do eleitorado que a candidata governista pode colocar sua maior dianteira. A oposição trabalha com uma desvantagem que pode chegar a 10 milhões de votos nesse pedaço.
No Sul e Centro-Oeste, regiões que somam um quinto do eleitorado, o PSDB tem um acumulado de vitórias nas duas últimas eleições e pode levar vantagem. A se confirmarem as boas perspectivas da safra agrícola, cenário distinto das últimas eleições, o voto de protesto não deve colocar os tucanos em ampla dianteira.
Resta o Sudeste onde moram quatro em cada 10 eleitores. No Espírito Santo, Dilma tem o governador e o prefeito da capital em seu palanque. No Rio, idem, além de Anthony Garotinho e Marcelo Crivella a puxar votos no Estado mais permeável ao apelo evangélico. O partido de Fernando Gabeira (PV) tem uma candidata na disputa presidencial e não é um vice tucano que vai dissociar seu palanque do de Marina Silva.
São Paulo é PSDB. Nem quando teve em José Genoino (2002) uma candidatura competitiva ao governo do Estado Lula ganhou o voto paulista, dirá agora que nem candidato tem. Dos três tucanos que já disputaram a Presidência da República, Serra é o que teve a pior votação (28%), mas agora a boa avaliação de sua gestão deve alavancar seu desempenho. É mais do que provável que ganhe, mas nas contas mais otimistas da oposição a vantagem não ultrapassa os 5 milhões de votos, muito aquém do que o necessário para contrabalancear Norte e Nordeste.
É aí que entra Minas. O segundo maior colégio eleitoral do país que votou em Lula e Aécio em 2002 e 2006 soma 14 milhões de votos. O governo tem uma candidata lá nascida. A oposição ainda não tem candidato. Aécio foi taxativo ontem: não estará na cabeça de chapa. Nem puxando nem a reboque. E o governador de São Paulo, numa cerimônia que reuniu a maioria dos prefeitos do Estado, principais cabos eleitorais de qualquer eleição, lá não fez sucesso.
Maria Cristina Fernandes é editora de Política. Escreve às sextas-feiras
Minas Gerais é uma província. E nunca uma eleição presidencial esteve tão dependente de seus rumos. A província que conta foi o enredo da inauguração da nova sede do governo de Minas.
O editorial de primeira página do principal jornal do Estado - "A reboque não!" - já prenunciava o tom do evento mais esplendoroso dos oito anos do governo Aécio Neves. O governador que conduz, mas não é conduzido não pode alegar que não sabia o que encontraria no dia seguinte em Belo Horizonte.
Os gritos eram de "Aécio Presidente", mas o evento não era um lançamento do anfitrião. Depois de três meses insistindo em ter o candidato a vice definido antes da cabeça de chapa, o PSDB assistiu ao governador José Serra ser submetido a uma constrangedora apoteose da mineiridade.
Aos conterrâneos que saudou, Aécio tratou por "extraordinários". Entre os governadores, a saudação apenas foi extensiva ao irmão de Ciro, Cid Gomes (CE). A quem não estivesse informado, ali se soube que o governador Sérgio Cabral (PMDB) foi casado com Suzana, prima do anfitrião, e que muito os orgulha os três descendentes Neves-Cabral.
A governadora gaúcha Yeda Crusius (PSDB), que esteve prestes a ser cassada, foi tratada como "companheira lutadora e guerreira", o de Santa Catarina, Luiz Henrique (PMDB), como "companheiro de todas as horas, de angústias e de vitórias".
Serra, que abriu a lista dos governadores saudados por Aécio, foi tratado com respeito - "um grande companheiro desta e de outras lutas", - recebeu as boas-vindas a Minas Gerais, mas não ouviu nenhuma menção à disputa presidencial. Talvez porque ainda não seja candidato.
O governador paulista até que vinha se esforçando nos últimos dias. Fez, no Senado, um discurso lapidar na homenagem ao centenário do avô de Aécio. Reconciliou seu PSDB com a matriz da Nova República que o partido rompera na sua fundação.
É improvável que Serra tenha partido para Belo Horizonte na expectativa de que Aécio transformaria o evento num lançamento da chapa tucana. Mas é possível que tenha saído de lá com a impressão de que, pior do que enfrentar a candidata do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é depender de Minas para ganhar a eleição.
É claro que Aécio vai pedir votos para o candidato do PSDB. Quem quer que ele seja. Não poderia fazer diferente. Mas se a mineiridade ferida é um sentimento antes da elite política que lotou o evento de ontem que do eleitor do Vale do Jequitinhonha, as limitações da transferência de voto são reais.
É um fenômeno que funciona para o mesmo cargo. Precisou que Marta Suplicy (PT) fosse derrotada com o apoio do presidente na disputa pela Prefeitura de São Paulo e Dilma encostasse em Serra com o mesmo cabo eleitoral para o óbvio finalmente se fazer ouvir.
Em 2008, Aécio suou para, junto com o então titular, Fernando Pimentel (PT), eleger o prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB). Perdeu prefeituras importantes que agora terá que correr atrás para fazer o sucessor.
Serra começa a enfrentar a disseminação, em sua base, da tese de que a única maneira de Aécio comandar os votos em Minas seria na cabeça de chapa. E que a chance de o governador paulista ganhar em Minas é menor do que a de Aécio Neves em São Paulo. Face à ausência de racionalidade da recalcitrante montagem da chapa presidencial do PSDB recorre-se ao comportamento eleitoral.
Somados, Norte e Nordeste têm um terço do eleitorado que, nas duas últimas eleições, deu ampla margem de vitória a Lula. Nessas regiões, a ministra Dilma Rousseff já passou à frente de Serra. É nessa fatia do eleitorado que a candidata governista pode colocar sua maior dianteira. A oposição trabalha com uma desvantagem que pode chegar a 10 milhões de votos nesse pedaço.
No Sul e Centro-Oeste, regiões que somam um quinto do eleitorado, o PSDB tem um acumulado de vitórias nas duas últimas eleições e pode levar vantagem. A se confirmarem as boas perspectivas da safra agrícola, cenário distinto das últimas eleições, o voto de protesto não deve colocar os tucanos em ampla dianteira.
Resta o Sudeste onde moram quatro em cada 10 eleitores. No Espírito Santo, Dilma tem o governador e o prefeito da capital em seu palanque. No Rio, idem, além de Anthony Garotinho e Marcelo Crivella a puxar votos no Estado mais permeável ao apelo evangélico. O partido de Fernando Gabeira (PV) tem uma candidata na disputa presidencial e não é um vice tucano que vai dissociar seu palanque do de Marina Silva.
São Paulo é PSDB. Nem quando teve em José Genoino (2002) uma candidatura competitiva ao governo do Estado Lula ganhou o voto paulista, dirá agora que nem candidato tem. Dos três tucanos que já disputaram a Presidência da República, Serra é o que teve a pior votação (28%), mas agora a boa avaliação de sua gestão deve alavancar seu desempenho. É mais do que provável que ganhe, mas nas contas mais otimistas da oposição a vantagem não ultrapassa os 5 milhões de votos, muito aquém do que o necessário para contrabalancear Norte e Nordeste.
É aí que entra Minas. O segundo maior colégio eleitoral do país que votou em Lula e Aécio em 2002 e 2006 soma 14 milhões de votos. O governo tem uma candidata lá nascida. A oposição ainda não tem candidato. Aécio foi taxativo ontem: não estará na cabeça de chapa. Nem puxando nem a reboque. E o governador de São Paulo, numa cerimônia que reuniu a maioria dos prefeitos do Estado, principais cabos eleitorais de qualquer eleição, lá não fez sucesso.
Maria Cristina Fernandes é editora de Política. Escreve às sextas-feiras
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