sexta-feira, 5 de março de 2010

Na festa de Aécio, festejos para Serra

DEU EM O GLOBO

Ao inaugurar sede administrativa, mineiro trata paulista como candidato

Adriana Vasconcelos* e Marcelo Portela

BELO HORIZONTE. Um dia depois de o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), admitir a possibilidade de concorrer à sucessão presidencial, o clima entre os tucanos e seus aliados mudou. O gesto de Serra ajudou a tranquilizar seus apoiadores, afastando as dúvidas de que ele poderia desistir. Na grande festa de inauguração da Cidade Administrativa Presidente Tancredo Neves, a nova sede do governo mineiro em Belo Horizonte, ontem, o governador Aécio Neves, que recusou o convite para ser vice na chapa tucana, fez questão de demonstrar publicamente seu apoio à candidatura de Serra.

Durante o evento e no almoço que ofereceu a seus convidados, no Palácio da Liberdade, Aécio tratou Serra como candidato:

- O tempo de uma eventual candidatura minha à Presidência da República passou. Não será desta vez - disse Aécio, na saída da cerimônia.

Mas, ao reafirmar sua intenção de concorrer ao Senado, Aécio deixou em aberto outras possibilidades. Apesar de recusar a oferta de ser candidato a vice, o mineiro admitiu que pode mudar de ideia:

- O homem público que não resiste a pressões não merece fazer política. Sou um homem de convicções. Tenho as minhas. Enquanto elas não se alterarem, caminho no meu rumo. Se alguém me convencer, em um determinado momento, do contrário, obviamente tenho que avaliar - disse Aécio.

Essa, aliás, era a aposta de boa parte dos convidados à inauguração da sede do governo mineiro, parte das comemorações do centenário de nascimento de Tancredo, avô de Aécio. O evento foi prestigiado por seis governadores, o vice-presidente José Alencar - que representou o presidente Lula -, do além dos ministros Hélio Costa (Comunicações), Carlos Lupi (Trabalho), de grande número de senadores, deputados e prefeitos, do presidente do Supremo Tribunal Federal (Gilmar Mendes) e do ex-presidente Itamar Franco.

- Debaixo dessa ponte mineira ainda vai passar muita água até junho, vai passar o Rio Amazonas ou o Rio Nilo. Vice de Minas não é uma coisa descartada - disse o governador de Santa Catarina, Luiz Henrique, do PMDB que não está com Lula.

- As chances de Aécio ser vice só estarão encerradas quando a chapa de Serra estiver completa e apresentada - emendou o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM-BA).

Já o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), foi mais cauteloso:

- Tratar disso agora é pedir para arrumar confusão. Por enquanto, melhor comemorarmos que não há mais nenhuma dúvida de que Serra é o candidato.

Serra evitou entrevistas, mas não escapou de pequenos constrangimentos em sua passagem por Belo Horizonte. Convidado por Aécio a descer a rampa da nova sede ao seu lado - ao lado de Alencar, Itamar, Gilmar Mendes -, Serra foi recebido com palmas protocolares, misturadas com esparsas vaias em meio às 5 mil pessoas presentes. O público de Aécio interrompeu duas vezes a cerimônia com gritos de "Aécio presidente".

Serra fica perto de Ciro, um de seus maiores críticos

Após o almoço, no Palácio da Liberdade, Serra sentou-se de frente ao deputado Ciro Gomes (PSB-CE), um de seus mais ferozes críticos. Ciro estava entre os convidados de honra de Aécio.

- Cumprimentei o governador (Serra) cordialmente, como deve ser. Mas não trocamos idéias. Cada um ficou com as suas - ironizou Ciro.

A festa teve como mestre de cerimônia a atriz Cristiane Torloni. A cantora Fafá de Belém foi convidada para cantar o Hino Brasileiro. E Milton Nascimento cantou "Coração de estudante", enquanto era exibido um filme sobre Tancredo Neves.

* Enviada especial

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