DEU EM O GLOBO
O primeiro-ministro grego, George Papandreau, começa hoje a circular por Berlim, Paris e Washington atrás de apoio ao país, depois de anunciar esta semana seu terceiro pacote fiscal. Os dois primeiros não convenceram muito, nem as autoridades dos maiores países europeus a ajudar a Grécia, nem os mercados. Ao fim do périplo, talvez os gregos respirem aliviados.
O ministro da economia, George Papaconstantinou, comparou a manobra que o governo socialista está fazendo, para mudar o rumo dos acontecimentos econômicos e fiscais do país, com o esforço para desviar o Titanic do confronto desastroso. Posto assim, parece tarefa digna do famoso semideus da Grécia Antiga. Como nenhum dos dois Georges é Hércules, é melhor apostar em soluções menos olímpicas.
O terceiro pacote descontenta funcionários públicos, comerciantes, taxistas, fumantes, contribuintes em geral, mas apesar disso uma pesquisa indica que 60% dos gregos apoiam os esforços do governo para superar a crise causada pela herança maldita da farra fiscal do governo anterior.
O imposto sobre valor agregado subiu de 19% para 21%, espalhando o impacto nos preços em geral. Aumentou o imposto sobre cigarros, bebidas alcoólicas, carros de luxo e combustíveis. Os cortes de gastos públicos vão atingir as bonificações recebidas pelos funcionários públicos no Natal, na Páscoa e no verão. Juntos, esses extras cortados significam um mês de salário. Os aposentados terão suas pensões congeladas. O combate à sonegação exigirá recibo de todo mundo, até de taxista.
Tudo isso feito com um propósito: convencer os países europeus, especialmente a Alemanha, a dar um empréstimo de US$27 bilhões à Grécia para que o país possa pagar seus compromissos de curto prazo, que vencem em dois meses. Se rolar isso, o governo acha que conseguirá, com mecanismos de mercado, rolar o restante da dívida pública, que vence ao longo do ano, de mais 53 bilhões de euros.
Os europeus, Alemanha à frente, estão prisioneiros de dois medos: ajudar a Grécia e, desta forma, criar um moral hazard que leve todos os outros países com alta dívida, alto déficit e baixa capacidade de financiamento ? como Portugal, Espanha, Irlanda, Itália ? a apostar que a ajuda virá de qualquer maneira. Não ajudar, e ver o primeiro caso de um país cuja moeda é o euro a entrar em moratória. Por isso, o terceiro caminho que se busca é apertar as exigências sobre a Grécia para que o país faça todo o esforço fiscal possível, cortando na própria carne, e tendo uma meta de déficit público declinante, como pré-requisito para ter o apoio. Hoje em 12,7% do PIB, o déficit tem que cair para 8,7% no final do ano e ir até 2012 a 3%. Se o cerco não fosse feito aos gregos, todos os outros países em dificuldade iriam bater às portas da Alemanha para pedir ajuda sem disposição para fazer o esforço fiscal. Por isso, a Grécia está firmando o modelo de que a ajuda será possível se houver esforço interno para ajustar as contas.
O caso da Grécia mostra que o mundo não mudou. Países ricos estão com déficits e dívidas altas, mas continuam rolando suas dívidas a preços baixos; países que não fazem parte dessa elite do planeta não conseguem rolar suas dívidas a baixo preço. Tudo o que Papandreau está fazendo é para ter um objetivo, como disse à imprensa: "Quero rolar minha dívida ao mesmo preço que os outros países do euro." Ontem, três pacotes fiscais depois, muito protesto nas ruas e greves, ele conseguiu captar 15,5 bilhões de euros no lançamento de novos títulos, mas com juros de 6,4%, dois pontos percentuais acima do que é pago pelos portugueses e o dobro do que paga a Alemanha. A demanda foi boa porque os investidores estão contando que a ajuda ao país virá.
O mercado está convencido de que, no final das contas, os países da União Europeia vão fazer tudo o que estiver ao seu alcance para evitar que um dos seus membros declare moratória. Se houver dúvida sobre isso, o custo da dívida volta a disparar como nas últimas semanas. A Grécia tem um plano B que é pedir ajuda ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e entrar então naqueles velhos programas de austeridade fiscal fiscalizada, em troca de empréstimos cheios de condicionalidades, que conhecemos tão bem. O FMI já disse que está preparado para abrir negociação com a Grécia, mas que entende que os europeus queiram primeiro resolver entre eles a questão dos países com dificuldades fiscais. A conclusão dessa guerra helênica é uma só: de que é apressado e perigoso concluir que a austeridade fiscal, o controle do crescimento da dívida, são objetivos do velho e ultrapassado mundo ortodoxo. Há muita gente aqui no Brasil entendendo assim o que houve no mundo nos últimos dois anos. Como disse na semana passada o economista José Roberto Mendonça de Barros: "aqui, todos começaram keynesianistas e terminaram gastadores." O gasto excessivo continua sendo um perigoso desestabilizador das economias.
A crise grega é em si um problema para a proposta de uma moeda comum. Ela se sustentava na ideia construída pelo Tratado de Maastricht, de que todos tivessem o mesmo comportamento fiscal responsável. Agora se viu que vários dos 27 países não ficaram dentro dos limites fiscais. Isso não aconteceu apenas no tempo da gastança na época da crise. Mesmo antes, os governos já estavam gastando mais do que era necessário e prudente.
O primeiro-ministro grego, George Papandreau, começa hoje a circular por Berlim, Paris e Washington atrás de apoio ao país, depois de anunciar esta semana seu terceiro pacote fiscal. Os dois primeiros não convenceram muito, nem as autoridades dos maiores países europeus a ajudar a Grécia, nem os mercados. Ao fim do périplo, talvez os gregos respirem aliviados.
O ministro da economia, George Papaconstantinou, comparou a manobra que o governo socialista está fazendo, para mudar o rumo dos acontecimentos econômicos e fiscais do país, com o esforço para desviar o Titanic do confronto desastroso. Posto assim, parece tarefa digna do famoso semideus da Grécia Antiga. Como nenhum dos dois Georges é Hércules, é melhor apostar em soluções menos olímpicas.
O terceiro pacote descontenta funcionários públicos, comerciantes, taxistas, fumantes, contribuintes em geral, mas apesar disso uma pesquisa indica que 60% dos gregos apoiam os esforços do governo para superar a crise causada pela herança maldita da farra fiscal do governo anterior.
O imposto sobre valor agregado subiu de 19% para 21%, espalhando o impacto nos preços em geral. Aumentou o imposto sobre cigarros, bebidas alcoólicas, carros de luxo e combustíveis. Os cortes de gastos públicos vão atingir as bonificações recebidas pelos funcionários públicos no Natal, na Páscoa e no verão. Juntos, esses extras cortados significam um mês de salário. Os aposentados terão suas pensões congeladas. O combate à sonegação exigirá recibo de todo mundo, até de taxista.
Tudo isso feito com um propósito: convencer os países europeus, especialmente a Alemanha, a dar um empréstimo de US$27 bilhões à Grécia para que o país possa pagar seus compromissos de curto prazo, que vencem em dois meses. Se rolar isso, o governo acha que conseguirá, com mecanismos de mercado, rolar o restante da dívida pública, que vence ao longo do ano, de mais 53 bilhões de euros.
Os europeus, Alemanha à frente, estão prisioneiros de dois medos: ajudar a Grécia e, desta forma, criar um moral hazard que leve todos os outros países com alta dívida, alto déficit e baixa capacidade de financiamento ? como Portugal, Espanha, Irlanda, Itália ? a apostar que a ajuda virá de qualquer maneira. Não ajudar, e ver o primeiro caso de um país cuja moeda é o euro a entrar em moratória. Por isso, o terceiro caminho que se busca é apertar as exigências sobre a Grécia para que o país faça todo o esforço fiscal possível, cortando na própria carne, e tendo uma meta de déficit público declinante, como pré-requisito para ter o apoio. Hoje em 12,7% do PIB, o déficit tem que cair para 8,7% no final do ano e ir até 2012 a 3%. Se o cerco não fosse feito aos gregos, todos os outros países em dificuldade iriam bater às portas da Alemanha para pedir ajuda sem disposição para fazer o esforço fiscal. Por isso, a Grécia está firmando o modelo de que a ajuda será possível se houver esforço interno para ajustar as contas.
O caso da Grécia mostra que o mundo não mudou. Países ricos estão com déficits e dívidas altas, mas continuam rolando suas dívidas a preços baixos; países que não fazem parte dessa elite do planeta não conseguem rolar suas dívidas a baixo preço. Tudo o que Papandreau está fazendo é para ter um objetivo, como disse à imprensa: "Quero rolar minha dívida ao mesmo preço que os outros países do euro." Ontem, três pacotes fiscais depois, muito protesto nas ruas e greves, ele conseguiu captar 15,5 bilhões de euros no lançamento de novos títulos, mas com juros de 6,4%, dois pontos percentuais acima do que é pago pelos portugueses e o dobro do que paga a Alemanha. A demanda foi boa porque os investidores estão contando que a ajuda ao país virá.
O mercado está convencido de que, no final das contas, os países da União Europeia vão fazer tudo o que estiver ao seu alcance para evitar que um dos seus membros declare moratória. Se houver dúvida sobre isso, o custo da dívida volta a disparar como nas últimas semanas. A Grécia tem um plano B que é pedir ajuda ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e entrar então naqueles velhos programas de austeridade fiscal fiscalizada, em troca de empréstimos cheios de condicionalidades, que conhecemos tão bem. O FMI já disse que está preparado para abrir negociação com a Grécia, mas que entende que os europeus queiram primeiro resolver entre eles a questão dos países com dificuldades fiscais. A conclusão dessa guerra helênica é uma só: de que é apressado e perigoso concluir que a austeridade fiscal, o controle do crescimento da dívida, são objetivos do velho e ultrapassado mundo ortodoxo. Há muita gente aqui no Brasil entendendo assim o que houve no mundo nos últimos dois anos. Como disse na semana passada o economista José Roberto Mendonça de Barros: "aqui, todos começaram keynesianistas e terminaram gastadores." O gasto excessivo continua sendo um perigoso desestabilizador das economias.
A crise grega é em si um problema para a proposta de uma moeda comum. Ela se sustentava na ideia construída pelo Tratado de Maastricht, de que todos tivessem o mesmo comportamento fiscal responsável. Agora se viu que vários dos 27 países não ficaram dentro dos limites fiscais. Isso não aconteceu apenas no tempo da gastança na época da crise. Mesmo antes, os governos já estavam gastando mais do que era necessário e prudente.
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