DEU NA FOLHA DE S. PAULO
BRASÍLIA - Pelo país afora, as rádios ecoavam ontem o grito de guerra mineiro, na festa que seria para homenagear o passado, com Tancredo Neves, e obviamente badalou o presente e o futuro, com Aécio Neves. "Brasil pra frente, Aécio presidente", ouviu-se o dia inteiro, depois de um locutor atrás do outro registrar "o constrangimento" de José Serra em Minas.
Quem conhece José Serra imagina como ele se sentiu. A velha úlcera deve estar em cruel ebulição.
Mas o sangue calabrês de Serra tem se mostrado de uma frieza incrível. Observa, ouve, analisa, articula e resiste bravamente (ou teimosamente?) às pressões de tucanos, papagaios e periquitos para se lançar logo e botar o bloco na rua.
Deve ter suas razões, pesquisas e conselheiros para seguir essa trilha. Só que ninguém entende. Daí a versão, em ondas, de que vai abandonar o barco e cedê-lo a Aécio, como fez com Alckmin em 2006.
Não faz sentido, porém. Serra completa 68 anos no dia 19 e terá 80 depois de três novos mandatos petistas caso Dilma ganhe agora: quatro anos dela, mais oito com a volta de Lula. É agora ou nunca, pegar ou largar. Por temperamento e por sofreguidão, dificilmente irá largar.
Quanto a Aécio: ele está jogando como deve jogar. Valoriza seu passe e estuda o gramado, sem pressa. Quem tem pressa que tenha.
Mas recusar definitivamente a vice de Serra não é uma decisão simples. Seria segurar Minas, que ele já tem; ganhar o Senado, que não é mais um bom trampolim; patinar na oposição; e armar uma trombada com o candidato Lula em 2014.
Só faria sentido se Aécio estivesse trocando de time, articulando uma vaga com os adversários Lula e Dilma. É uma maldade dizer isso de um governador hábil e experiente, porque, na política, trocar de time não é tão fácil, nem tão lucrativo, como costuma ser no futebol.
Logo, nem Serra nem Aécio têm muito para onde correr. É entrar em campo para ganhar ou perder.
BRASÍLIA - Pelo país afora, as rádios ecoavam ontem o grito de guerra mineiro, na festa que seria para homenagear o passado, com Tancredo Neves, e obviamente badalou o presente e o futuro, com Aécio Neves. "Brasil pra frente, Aécio presidente", ouviu-se o dia inteiro, depois de um locutor atrás do outro registrar "o constrangimento" de José Serra em Minas.
Quem conhece José Serra imagina como ele se sentiu. A velha úlcera deve estar em cruel ebulição.
Mas o sangue calabrês de Serra tem se mostrado de uma frieza incrível. Observa, ouve, analisa, articula e resiste bravamente (ou teimosamente?) às pressões de tucanos, papagaios e periquitos para se lançar logo e botar o bloco na rua.
Deve ter suas razões, pesquisas e conselheiros para seguir essa trilha. Só que ninguém entende. Daí a versão, em ondas, de que vai abandonar o barco e cedê-lo a Aécio, como fez com Alckmin em 2006.
Não faz sentido, porém. Serra completa 68 anos no dia 19 e terá 80 depois de três novos mandatos petistas caso Dilma ganhe agora: quatro anos dela, mais oito com a volta de Lula. É agora ou nunca, pegar ou largar. Por temperamento e por sofreguidão, dificilmente irá largar.
Quanto a Aécio: ele está jogando como deve jogar. Valoriza seu passe e estuda o gramado, sem pressa. Quem tem pressa que tenha.
Mas recusar definitivamente a vice de Serra não é uma decisão simples. Seria segurar Minas, que ele já tem; ganhar o Senado, que não é mais um bom trampolim; patinar na oposição; e armar uma trombada com o candidato Lula em 2014.
Só faria sentido se Aécio estivesse trocando de time, articulando uma vaga com os adversários Lula e Dilma. É uma maldade dizer isso de um governador hábil e experiente, porque, na política, trocar de time não é tão fácil, nem tão lucrativo, como costuma ser no futebol.
Logo, nem Serra nem Aécio têm muito para onde correr. É entrar em campo para ganhar ou perder.
Um comentário:
É incrívelmente prazeiroso ler os comentários dessa excelente articulista, Eliane Catanhêde. Ela tem um poder de observação e síntese impressionantes. Quem lê esse artigo tem-se a impressão de que a jornalista conhece e vive a política de Minas há anos. Parabéns Eliane!
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