DEU NO JORNAL DO BRASIL
A campanha presidencial que reativou os velhos fantasmas da nossa democracia já faz parte do passado, que tem pressa em se aposentar.
A melhor prova é a aparente confiança implícita na formação do ministério, graças ao toque feminino que faltava à República. Um ato de toalete bastou. À medida que o presidente Lula recua sua presença ofegante para o fundo do palco, o ministério adquire feição própria, com traços genéticos dele e tiques de ser ou não ser social-democrata. É um Brasil que se diria irreconhecível se não fosse explicado por esse ator fora do comum, mas previsível, que não se preparou para governar e saiu melhor do que entrou (já com a intenção de voltar assim que possível). Daqui a um mês dirá até breve, com a mesma sem-cerimônia de não estar preparado para a nova etapa.
A presidente Dilma Rousseff emite sinais que, guardadas as diferenças de tempo e indumentária, lembram a rainha Vitória (isto é, alguém que também veio para durar e colher prosperidade).
Uma lembrança traz outras e, assim, não se evoca a Rainha Vitória sem ressuscitar Disraeli, seu primeiro ministro que trouxe para o primeiro plano da vida inglesa as classes médias, que tinham o direito de votar mas eram excluídas do direito gêmeo de serem votadas. Não diz tudo, mas ajuda a entender o humor britânico, que tanta falta faz ao presidente Lula. Por não ter aprendido a rir de si mesmo, não se habilitou a rir dos outros sem ressentimento.
Austeridade e dignidade – aqui como lá, boas fadas há – se identificaram com os ingleses localizados socialmente entre o pessoal de cima e o de baixo (que então se chamava de proletariado).
As classes médias não se beneficiaram, nem poderiam, de teorias conservadoras e revolucionárias que exacerbaram o Século 19. Ao contrário.
Só com o tempo, depois que um voto passou a valer um cidadão, a classe média prosperou politicamente.
(Quando a rainha Vitória morreu, a Inglaterra estava no apogeu).
O fato é que os dois atores principais, Lula e Dilma, enlaçados pela mesma vitória, vão passando as páginas e tirando do caminho o que era mercadoria para ser consumida na campanha eleitoral.
O eleitorado saciou, inclusive, a fome de votar com que Lula favoreceu, mediante bolsas bem nutridas, aqueles 26 milhões que, de uma refeição, saltaram para três a cada dia. E acabou convencido de que inventou a classe média, segundo o critério de aferir a localização social pelo número de refeições. Não chegou a entender que a cabeça do pequeno burguês propriamente dito, historicamente estabelecido, não é assunto a ser tratado nesse tipo de conversa.
No Brasil, por enquanto, ninguém se atreveu a ser padrinho da classe média, da qual o governo atual se lembrou na hora de sair, e mesmo assim para faturar politicamente uma faixa eleitoral que esconde uma fortuna em votos. Não faltou a JK o tino histórico de reconhecer a classe média na aspiração de consumo e progresso.
Não sendo possível num único mandato, e não havendo reeleição, deu-lhe a certeza de que – mais dia, menos dia – poderia ter o seu automóvel.
O pequeno burguês não perdeu a oportunidade e fez do automóvel o seu símbolo social preferido.
Ninguém reparou que o problema não era mais Lula, nem passou a ser a eleição de Dilma, depois daquelas cenas de qualidade inferior vistas na campanha presidencial. Deve ser a classe média, que tanto olha socialmente para cima como não deixa de olhar para baixo. Na cabeça do pequeno burguês tudo se resolve, por falta de alternativa, com a democracia mesmo. E democracia se aprende com a prática e com o tempo, isto é, continuidade.
O cidadão pode ficar tranqüilo, que a presidente – e foi por aí que a rainha Vitória veio ao caso – vai reforçar a classe média, a quem passará a responsabilidade de zelar pela democracia e acelerar seus resultados.
A campanha presidencial que reativou os velhos fantasmas da nossa democracia já faz parte do passado, que tem pressa em se aposentar.
A melhor prova é a aparente confiança implícita na formação do ministério, graças ao toque feminino que faltava à República. Um ato de toalete bastou. À medida que o presidente Lula recua sua presença ofegante para o fundo do palco, o ministério adquire feição própria, com traços genéticos dele e tiques de ser ou não ser social-democrata. É um Brasil que se diria irreconhecível se não fosse explicado por esse ator fora do comum, mas previsível, que não se preparou para governar e saiu melhor do que entrou (já com a intenção de voltar assim que possível). Daqui a um mês dirá até breve, com a mesma sem-cerimônia de não estar preparado para a nova etapa.
A presidente Dilma Rousseff emite sinais que, guardadas as diferenças de tempo e indumentária, lembram a rainha Vitória (isto é, alguém que também veio para durar e colher prosperidade).
Uma lembrança traz outras e, assim, não se evoca a Rainha Vitória sem ressuscitar Disraeli, seu primeiro ministro que trouxe para o primeiro plano da vida inglesa as classes médias, que tinham o direito de votar mas eram excluídas do direito gêmeo de serem votadas. Não diz tudo, mas ajuda a entender o humor britânico, que tanta falta faz ao presidente Lula. Por não ter aprendido a rir de si mesmo, não se habilitou a rir dos outros sem ressentimento.
Austeridade e dignidade – aqui como lá, boas fadas há – se identificaram com os ingleses localizados socialmente entre o pessoal de cima e o de baixo (que então se chamava de proletariado).
As classes médias não se beneficiaram, nem poderiam, de teorias conservadoras e revolucionárias que exacerbaram o Século 19. Ao contrário.
Só com o tempo, depois que um voto passou a valer um cidadão, a classe média prosperou politicamente.
(Quando a rainha Vitória morreu, a Inglaterra estava no apogeu).
O fato é que os dois atores principais, Lula e Dilma, enlaçados pela mesma vitória, vão passando as páginas e tirando do caminho o que era mercadoria para ser consumida na campanha eleitoral.
O eleitorado saciou, inclusive, a fome de votar com que Lula favoreceu, mediante bolsas bem nutridas, aqueles 26 milhões que, de uma refeição, saltaram para três a cada dia. E acabou convencido de que inventou a classe média, segundo o critério de aferir a localização social pelo número de refeições. Não chegou a entender que a cabeça do pequeno burguês propriamente dito, historicamente estabelecido, não é assunto a ser tratado nesse tipo de conversa.
No Brasil, por enquanto, ninguém se atreveu a ser padrinho da classe média, da qual o governo atual se lembrou na hora de sair, e mesmo assim para faturar politicamente uma faixa eleitoral que esconde uma fortuna em votos. Não faltou a JK o tino histórico de reconhecer a classe média na aspiração de consumo e progresso.
Não sendo possível num único mandato, e não havendo reeleição, deu-lhe a certeza de que – mais dia, menos dia – poderia ter o seu automóvel.
O pequeno burguês não perdeu a oportunidade e fez do automóvel o seu símbolo social preferido.
Ninguém reparou que o problema não era mais Lula, nem passou a ser a eleição de Dilma, depois daquelas cenas de qualidade inferior vistas na campanha presidencial. Deve ser a classe média, que tanto olha socialmente para cima como não deixa de olhar para baixo. Na cabeça do pequeno burguês tudo se resolve, por falta de alternativa, com a democracia mesmo. E democracia se aprende com a prática e com o tempo, isto é, continuidade.
O cidadão pode ficar tranqüilo, que a presidente – e foi por aí que a rainha Vitória veio ao caso – vai reforçar a classe média, a quem passará a responsabilidade de zelar pela democracia e acelerar seus resultados.
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