Inflação ameaçando ultrapassar o limite superior da meta, este ano, e gerando um clima de reindexação, no qual uma bateria crescente de preços passa a ter o piso de 6%. Gastos públicos federais no primeiro trimestre de 2011 maiores que os do mesmo período de 2010, na contramão da queda vendida à sociedade por intensa divulgação do corte de despesas no valor de R$ 50 bilhões (a rigor, promessa de redução de gastos, ainda maiores, previstos na proposta orçamentária deixada pelo governo Lula, após a explosão deles ao longo do ano passado). A responsabilidade desses irmãos gêmeos, inflação e gastos, em novos aumentos da taxa Selic (base de remuneração dos títulos públicos), que acentuam perdas de competitividade de nossos produtos – a externa e também a interna com avanço dos concorrentes estrangeiros. E baixa credibilidade das medidas do Palácio do Planalto para a inversão do quadro negativo – seja pela inconsistência delas (como a simultaneidade do anúncio do pacote do corte de despesas com o da decisão de um aporte pelo Tesouro de recursos mais vultosos para o BNDES), seja pela biografia pró-gastança da equipe do ministério da Fazenda. Estes problemas – e suas múltiplas implicações econômicas, políticas e sociais – são os maiores riscos ou desafios que a presidente Dilma Rousseff tem pela frente.
Riscos ou desafios que se evidenciam mesmo numa pesquisa tão favorável à nova presidente quanto a do Ibope divulgada no último fim de semana. Em que o índice de aprovação geral, de 56%, ao governo que começa (superior aos de fase equivalente do presidente Lula, 54%, e do antecessor FHC, 41%), é suplantado pelo de desaprovação do novo governo nas questões relativas a impostos, 53% a 36%, e às políticas de saúde, 53% a 41%, e de segurança pública, 49% a 41%. Desaprovação que, quanto aos impostos, deverá consolidar-se e crescer, inclusive nas camadas populares, com a persistência da pressão inflacionária. E que, com um mix desses três itens da pesquisa, indica que o governo Dilma terá de defrontar aguda resistência e pagar elevado preço político e social com tentativas, que venha a fazer em nome do atendimento a carências sociais, para novas ampliações da carga tributária (como a de recriação da CPMF ou de imposto semelhante para a área de saúde).
Essas carências, bem como as de grandes investimentos públicos e privados na infraestrutura e em outros campos também prioritários – num contexto de esgotamento da gastança generalizada do segundo governo Lula, que está sendo imposto pela ameaça de descontrole inflacionário - reclamam decisões de governo que precisam ir muito além das positivas mas bem limitadas mudanças de “estilo de gestão” postas em prática pela nova presidente. Por exigirem uma real reversão dos enormes gastos com o gigantismo da máquina governamental e reformas estruturantes, indispensáveis ao desenvolvimento competitivo de nossa economia e à consistência e ao avanço das políticas sociais, que Dilma só poderá desencadear libertando-se da forte dependência que a vincula ao populismo e ao centralismo estatizante lulistas e petistas.
Aécio Neves, no discurso que proferirá hoje no Senado e que será ouvido como o do novo líder da oposição, deverá centrar-se nos problemas da economia e na falta de respostas adequadas; na partidarização (petista) de ações governamentais e no relançamento de uma pauta de reformas. Trechos de reportagem da Folha de S. Paulo, de domingo sobre o discurso: “... os três ‘pilares’ da fala – o resgate da herança do governo FHC, a exploração das ‘contradições do PT no governo’ e os caminhos do seu partido, PSDB, para o futuro. Aécio fará a defesa das privatizações, exaltará o combate à inflação e dirá que o PSDB estabilizou a economia e permitiu o crescimento registrado no governo Lula. Como contradições do PT, ele pretende mostrar a diferença entre a situação atual – de corte de gastos e risco inflacionário – e o ‘Brasil cor de rosa’ apresentado por Lula na campanha eleitoral do ano passado. Por fim, ele apontará temas que devem concentrar a atuação do PSDB, como a defesa da ‘desestatização do setor privado’, uma crítica ao que chama de interferência indevida do governo em empresas privadas, como a Vale”.
Jarbas de Holanda é jornalista, pernambucano
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