A maior incerteza de 2012 não é a previsão do fim do mundo de acordo com certas interpretações do calendário maia. A maior incerteza é o que vai acontecer com o euro.
Quando tudo estava sendo montado, os pais do euro foram advertidos sobre a fragilidade dos seus fundamentos. Os países que o partilhariam não constituíam uma área monetária ótima - tal como definida por Robert Mundell, Prêmio Nobel de Economia de 1999, pioneiro no tema. No entanto, a decisão final foi tocar para a frente o projeto da união monetária, levando-se em consideração que suas eventuais deficiências seriam cobertas politicamente mais adiante.
Mas os tratados assinados para garantir a solidez do euro foram desrespeitados. Deliberadamente ou não, os Estados-membros deixaram de observar limites rígidos acordados para o déficit público e para o endividamento. Hoje, o bloco está ameaçado de desintegração. Só não se desfez até agora porque o custo do retorno às moedas nacionais parece mais insuportável do que a situação atual.
Ao longo dos dois últimos anos, a ação política originalmente prevista para virar o jogo ruim não veio. Os dirigentes permaneceram paralisados e perplexos. Não foram além da aplicação de remendos insuficientes e mal costurados. E foram incapazes de avançar na direção de uma unidade fiscal, que é o que dá solidez a uma federação monetária.
Tampouco houve preocupação em nivelar as diferenças de origem. Cada país manteve seu orçamento, seu sistema tributário, seus esquemas previdenciários, suas leis trabalhistas - cada um de um jeito. Essas instituições nacionais díspares também estão na origem de enormes diferenças de produtividade entre os integrantes da área do euro.
O presidente da França, Nicolas Sarkozy, tem repetido que a zona do euro funciona a duas velocidades simultâneas: a mais rápida é formada por Alemanha, Áustria, Holanda, Finlândia e, incluído lá por ele, também a França.E a parte lenta e rastejante são as demais economias, sobretudo Grécia, Portugal, Espanha, Itália e Irlanda. É uma carroça atada ao mesmo tempo a bois e cavalos e que não é nem uma carreta nem uma carruagem.
O problema é que essa diferença de ritmos, que acentua as diferenças, multiplica por si só o potencial desintegrador de um bloco que não conta com mecanismos automáticos de transferências de recursos.
Já há suficiente consciência de que, para sobreviver, o euro terá de contar com uma unidade política - passo que os Estados-membros não têm coragem de dar. Como também não têm coragem de recuar para as moedas nacionais. Prevalece a precariedade da Europa das pátrias.
Até agora, a atitude das autoridades foi ganhar tempo. Mas fazer isso sem uma estratégia de superação em mente acabará conduzindo a um beco sem saída. Tudo se passa no bloco como se as coisas devessem piorar e piorar muito para, só então, começar a melhorar. Até lá, a incerteza vai crescer.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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