quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Sete quedas:: Míriam Leitão

Um, dois, três... sete. Da foto tirada no primeiro dia do ano, do ministério da presidente Dilma Rousseff, já caíram sete. Só um ministro saiu por outro motivo que não as denúncias de escândalos e "malfeitos". Essa foi uma das boas surpresas com a presidente. Ela não assumiu a palavra "faxina", mas o termo se popularizou. O primeiro ano de governo tem mais altos do que baixos.

Nenhuma cachoeira por mais água que tenha - nem mesmo a caudalosa Sete Quedas se ainda existisse - seria capaz de lavar a corrupção no Brasil. Nenhum governante sozinho vai resolver o problema. Não há salvadoras da pátria. Por isso é preciso, primeiro, fortalecer as instituições. Como em qualquer grande tarefa há idas e vindas, avanços e retrocessos, gestos que parecem redentores, mas que são apenas pequenas mudanças para manter tudo como está.

As quedas dos ministros podem ser o começo do fim da piora. Se parar de piorar já terá sido um grande passo. Mas a corrupção vai além do Governo Federal, espalha-se pelos poderes, por diversos níveis federativos, contamina as empresas e as relações privadas. A corrupção é cada vez mais disseminada no Brasil. A boa novidade foi ver a presidente reagindo quando os fatos se acumularam de forma ostensiva, em vez de tratar cada denúncia como parte de uma conspiração contra seu governo.

Nesse primeiro ano de mandato, Dilma foi uma governante mais do esforço de gabinete do que das acrobacias de palanque. Falou pouco, mas passou recados importantes através dos jornalistas que escolheu ou dos pronunciamentos que fez. Essa forma de comunicação deu uma marca bem diferente ao seu governo do que a que o país estava acostumado nos oito anos anteriores.

A inflação passou mais tempo acima do teto da meta do que no intervalo permitido de flutuação, mas o governo conseguiu conter a escalada que ficou pior no momento em que a taxa acumulada subiu além dos 7%. O país como um todo tem demonstrado que aprendeu com os erros do passado e, apesar de declarações fora do tom de alguns economistas do governo, a população está convencida de que inflação controlada é essencial.

No primeiro ano do governo Dilma, o mundo fez tudo para atrapalhar. As crises deixaram os Estados Unidos, Japão e Europa crescendo pouco ou em recessão. O temor de um novo colapso como 2008 rondou o tempo todo a economia global. O terremoto no Japão evoluiu para um desastre nuclear.

O Brasil teve queda forte de crescimento, mas a redução é menos dramática do que parece. O PIB de 7,5% em 2010 foi em parte pelo efeito da comparação com o ano recessivo de 2009. Desta vez o crescimento de cerca de 3% é o resultado da comparação com base alta.

Em resumo: no primeiro ano de governo, a presidente Dilma conseguiu evitar a explosão inflacionária, manteve algum crescimento mesmo diante de um agravamento da crise global, iniciou um trabalho, ainda que discreto, para conter a corrupção, implantou um estilo próprio de governo e debelou o temor de que fosse ser uma sombra do ex-presidente Lula. Não é pouco.

Todavia, cometeu erros. A fórmula de aumento do salário mínimo tem a vantagem de afastar o debate sobre o reajuste que todo ano virava uma fonte de pressão sobre o governo. Só que o aumento em 2012 somará a alta inflação de 2011 com o alto crescimento de 2010. Isso terá um impacto forte nas contas públicas pela elevação dos gastos previdenciários. O BNDES continuou a sua defasada política de escolha de algumas empresas para receberem nacos maiores de empréstimos ou de capital. Vários desses campeões estão dando prejuízo. Alguns setores tiveram o privilégio da renúncia fiscal, mas a sociedade como um todo pagou mais impostos; a carga tributária subiu de novo.

O governo demorou a entrar no debate do Código Florestal e o assunto ainda está em pendência. A dúvida é o tamanho do retrocesso que será consolidado ao fim do processo de votação. A obra da usina de Belo Monte foi tocada dentro da lógica do correntão, ou seja, transformar tudo em fato consumado para afogar as críticas e dúvidas.

No acerto com o passado, o governo criou a Comissão da Verdade, mas a filha do deputado Rubens Paiva não discursou na cerimônia porque considerou-se que isso afrontaria os militares. A prisão e o desaparecimento de Rubens Paiva ocorreu há 40 anos e o governo ainda hoje se deixa constranger pelos militares. Um espanto.

A política externa entregou um avanço menor do que prometeu. Houve evolução em alguns discursos e entrevistas, mas o país continuou hesitante na hora de condenar alguns regimes de força. O Brasil se absteve na condenação à Síria; demorou a reconhecer o novo governo da Líbia. Tomara que não abandone a crítica feita pela presidente Dilma às ameaças contra a iraniana Sakineh Ashitani, que voltaram a ser feitas.

Ao contrário dos seus antecessores, Dilma Rousseff não aproveitou o primeiro ano para aprovar reformas. O presidente Fernando Henrique mudou o capítulo da Ordem Econômica na Constituição acabando com o monopólio da telefonia, do petróleo e a discriminação contra empresa estrangeira. Lula aprovou a reforma da Previdência do setor público, apesar de ter abandonado o projeto depois. Dilma apenas tocou a agenda do Congresso, não a liderou.

Com tudo isso, a primeira mulher a presidir o Brasil chega ao fim do primeiro ano do governo com um índice maior de aprovação do que seus dois antecessores. Não é pouco.

FONTE: O GLOBO

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