Apesar da crise, analistas preveem que Brasil crescerá mais com menos inflação no ano que vem
Henrique Gomes Batista, Mariana Durão
RIO, SÃO PAULO e BRASÍLIA - Longe das catástrofes projetadas nas previsões mais sombrias para 2012, o próximo ano deve ser de crescimento maior e inflação menor que em 2011 no Brasil. É o que esperam governo, economistas, bancos e analistas, mais otimistas com a economia nacional para 2012, apesar dos riscos no cenário internacional. As estimativas para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) no próximo ano vão de 3,1% a 4,2% - ante previsão abaixo de 3% neste ano - e a inflação medida pelo IPCA deve ser um ponto percentual inferior, mas ainda longe do centro da meta do governo (4,5%). O cenário de crise na Europa, porém, alimenta incertezas quanto à precisão dessas previsões.
Para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, apesar dos riscos de contágio, o aprofundamento da crise europeia poderá empurrar o Brasil para o posto de quinta maior economia do mundo, antes de 2015, ultrapassando a França. Mantega lembrou que o ritmo de crescimento do PIB brasileiro tem sido o dobro da média europeia:
- É inexorável que passemos a França e, no futuro, quem sabe, a Alemanha - disse ele ontem, após receber medalha de honra ao mérito conferida pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). - O FMI prevê que o Brasil será a quinta economia em 2015, mas acredito que isso ocorrerá antes.
Dilma cita medidas de estímulo
Segundo os analistas, 2012 deverá começar morno e só no segundo semestre haverá uma expansão mais plena. Em 2011, ao contrário, a economia começou superaquecida, a ponto de o governo anunciar medidas para frear o crescimento, como elevação dos juros e restrições a crédito e consumo. Mas a crise global intensificou esse movimento e o PIB chegou a ficar estagnado no terceiro trimestre. Com isso, medidas de incentivo ao consumo e à produção estão sendo criadas e a taxa básica de juros (Selic), atualmente em 11% ao ano, pode chegar em dezembro de 2012 a 9% ao ano.
Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, prevê que economias da zona do euro entrem em recessão em 2012, mas "os ruídos negativos gerados pelo sistema financeiro deverão diminuir", beneficiando o Brasil, cujo PIB deverá crescer 4,2%, acima das previsões do mercado, em torno de 3,5%.
- O investimento e a poupança provavelmente seguem baixos. E não somente para 2012, mas para um significativo período de tempo. Logo, teremos crescimento de país desenvolvido com problemas de país emergente - diz, lembrando que o desafio para o Brasil será reduzir a inflação, que ele projeta em 6% em 2012.
Aurélio Bicalho, economista do Itaú Unibanco, crê que em 2012 será retomado um crescimento maior da demanda interna, puxado por medidas de incentivo ao consumo e o aumento do investimento público:
- O cenário é positivo e os investimentos tendem a superar o crescimento do PIB. No próximo ano começaremos a sentir mais os investimentos ligados ao pré-sal e aos eventos esportivos.
O economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e ex-diretor do Banco Central (BC) Carlos Thadeu de Freitas diz que o comércio começará o ano timidamente, mas a partir do segundo trimestre reagirá às medidas de estímulo ao consumo recém-lançadas pelo governo. Ele projeta alta de 6,5% das vendas do setor, quase o dobro do PIB. O varejo será impulsionado pela combinação entre aumento do crédito (11,5%) e inflação menor (5,5%) que em 2011:
- Isso aumentará o poder de compra real do consumidor. O crédito será favorável à pessoa física porque a inadimplência não preocupa. Não há bolha de crédito no país.
Em sua última coluna semanal distribuída a jornais, a presidente Dilma Rousseff listou ontem as medidas que permitirão um 2012 próspero. Entre elas, o aumento do salário mínimo, o reajuste das faixas do Supersimples, a redução de PIS/Cofins de massas, pães, farinhas e do IPI da linha branca, além do crédito com custo menor.
"Com menos impostos e mais crédito, a economia brasileira vai crescer mais (em 2012)", disse ela.
- O meu cenário base pressupõe que 2012 será um ano de aceleração da economia brasileira, que deverá responder a várias medidas de estímulo, crescendo 3,7%. Podemos citar, além da queda de juros, a reversão parcial das medidas macroprudenciais, a retomada dos investimentos públicos, inclusive por causa da Copa do Mundo, o aumento dos financiamentos do BNDES, o incremento do salário mínimo e as medidas de isenção tributária para alguns setores. Esse maior dinamismo poderia gerar preocupações relacionadas aos preços, mas deveremos ter desinflação, ajudada pelo cenário global. Não vislumbramos IPCA no centro da meta, mas em patamar pouco acima de 5,0%. Nesse contexto, o Banco Central terá espaço para reduzir a Selic em até 9,5% - disse, por sua vez, o economista-chefe do Bradesco, Octávio de Barros
Roberto Padovani, economista-chefe da Votoratim Corretora, acha que a taxa de desemprego ainda tem espaço para cair a 5,8%, no fim de 2012, apesar de possíveis efeitos da crise global no mercado de trabalho.
- O mercado de trabalho continua aquecido e puxando o consumo doméstico - diz Padovani. - Mas essa demanda por outro lado pressionará preços como o dos serviços, que vão girar em torno de 8% no ano.
FONTE: O GLOBO
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