Pressionada pela crise deflagrada e pela falta de trânsito com os parlamentares, a ministra de Relações Institucionais começará a semana sob ameaça de três partidos irem para a oposição ao Planalto no Congresso
Karla Correia, Gabriel Mascarenhas
Alvo das reclamações da maior parte dos parlamentares da base aliada, a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, é apontada na bancada governista como o principal combustível da crise instalada entre o Palácio do Planalto e sua base de sustentação no Congresso, mais até do que a conhecida hesitação do governo em liberar emendas parlamentares e nomear indicados políticos para cargos no primeiro e no segundo escalão. Descrita como "espalhafatosa" e "autoritária" por deputados e senadores da base, Ideli colecionou desafetos nos nove meses em que ocupa o posto responsável pela articulação política do governo de Dilma Rousseff.
Embora tenha ocupado a liderança do governo no Senado durante uma parte da gestão de Luiz Inácio Lula da Silva, Ideli Salvatti é vista por muitos dos antigos colegas de Legislativo como uma ministra de pouco trânsito entre os parlamentares, sobretudo na Câmara dos Deputados. O modus operandi da ministra acabou por afastar boa parte dos senadores que, inicialmente, viam nela uma representante do parlamento no Palácio do Planalto.
"Ela é garoto de recado, não tem autonomia, mas o maior problema é o tratamento. Em política, cada palavra tem peso, política é gesto. E ela ignora isso", avalia um líder do Senado, dando o tom do azedume que tem marcado os ânimos da Casa em relação à ex-senadora. É nessa situação que a ministra enfrentará uma semana decisiva no Parlamento, com três bancadas aliadas — o PR, na Câmara, mais PTB e PSC — decidindo se permanecem na base governista.
Parte da carga de rancores dirigidos a Ideli pode ser atribuída às características de sua função. Criada ainda durante o primeiro mandato da gestão Lula, a Secretaria de Relações Institucionais já teve oito titulares desde 2004. Nenhum deles chegou a passar dois anos no cargo. "É uma cadeira incômoda essa pasta. Quem senta lá, pendura um alvo nas costas. Tem que dizer "não" várias vezes no dia, muito mais do que "sim". E ela não é exatamente uma miss simpatia", alfineta um deputado.
Outro parlamentar magoado com as negativas da ministra vai mais longe: "Ela não tem o menor verniz, não sabe conversar. O episódio da saída do PR da base é uma amostra disso. Não se fala "não" para um aliado e dá as costas para ele. Tem que convencê-lo que o sacrifício de hoje é a mão estendida de amanhã".
Fama de brigona
O pulso firme de Ideli, hoje sentido pelo Congresso, vem desde os tempos de militância política em Santa Catarina. Quem acompanhou a trajetória da atual braço direito de Dilma afirma que a agressividade sempre foi característica marcante no perfil político de Ideli. "Ela é e sempre foi brigona. Nunca teve votação expressiva para cargos de governo ou prefeitura, justamente por ser combativa em excesso", resume um petista do diretório catarinense.
À frente do sindicato estadual dos professores, no início da década de 1990, Ideli participou ativamente da invasão do gabinete do então secretário de Educação, o hoje senador Paulo Bauer (PSDB-SC), durante uma das maiores greves no funcionalismo público catarinense. "Ela promoveu a paralisação junto com cerca de 600 professores e permaneceu acampada no meu gabinete por 11 dias. Um episódio emblemático marcou essa manifestação e virou folclore: "Eles fritavam ovos no hall de entrada do gabinete, e faziam festas de comemoração da ocupação dentro do prédio da secretaria", lembra Paulo Bauer. Como deputada estadual, teve papel fundamental na abertura da uma CPI contra um atual colega de cúpula: Paulo Afonso Vieira, ex-governador e hoje assessor do vice-presidente Michel Temer.
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE
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