Comércio e indústria em desaceleração e menos dias úteis contribuíram para reduzir as contratações, com 159,6 mil vagas em fevereiro
Célia Froufe
BRASÍLIA - O enfraquecimento do comércio e da indústria e o número menor de dias úteis tiveram forte impacto sobre o mercado de trabalho em fevereiro. Foram criadas 150,6 mil vagas com carteira assinada no País no mês passado, uma queda de 57% ante fevereiro de 2011, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgado ontem pelo Ministério do Trabalho. A desaceleração já está no radar do governo.
"Tivemos dois trimestres fracos de atividade por causa da crise externa e de efeitos defasados das políticas do governo, como elevação de juros e medidas para enxugar o crédito", lembrou o economista da LCA Consultores Fabio Romão. "Isso pegou na atividade e, agora, no mercado de trabalho", continuou.
A fraca contratação da indústria foi um dos pontos que mais chamaram a atenção. O setor registrou apenas 19,6 mil funcionários a mais do que os demitidos no mês passado. Ainda que o setor apresente volatilidade, o volume é bem inferior aos vistos no mesmo mês dos últimos anos.
O comércio não foi diferente. Usualmente, as lojas devolvem funcionários para o mercado logo após o fim das festas de fim de ano. Desta vez, porém, o movimento começou em dezembro e não parou. Em fevereiro, o saldo líquido de emprego ficou negativo em 6,6 mil, ante uma média positiva de contratações nesse mês entre 10 mil e 15 mil pessoas.
Por fim, o "efeito calendário" prejudicou os números do Caged. É que o carnaval foi em fevereiro este ano e, em 2011, em março. Com menos dias úteis, as contratações foram menores este ano. "Houve clara antecipação das contratações em fevereiro do ano passado", comparou Romão. Naquele mês, o Caged registrou a criação de 347 mil postos.
O resultado não foi mais baixo em fevereiro porque serviços (93,1 mil novos postos) e construção civil (27,8 mil) puxaram o resultado para cima. "Construção e serviços vieram bem, mas claro que preponderaram os pontos negativos", disse Romão.
Alerta. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, já mostrou que está alerta em relação ao mercado de trabalho. Na quinta-feira, ele disse que o governo apenas dará incentivo a setores produtivos que, em contrapartida, mantiverem ou ampliarem o seu quadro de funcionários. Até porque a desaceleração do mercado de trabalho não é nova, mas vem se aprofundando.
Um dado que chamou a atenção em fevereiro é que, pela primeira vez desde março do ano passado, o volume de admissões não é recorde para o período.
Até então, apesar de os saldos estarem menores, eles eram frutos de altos volumes de contratações e demissões. No mês passado, apenas os desligamentos registraram recorde para meses de fevereiro.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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