A pergunta é fácil de se fazer, a resposta porém é de uma complicação...
Como um repórter, apenas com o apoio de sua equipe e da emissora, consegue flagrar e registrar cenas explícitas de corrupção e a polícia e a justiça, com todo seu aparelhamento e treinamento em investigação, raramente conseguem nas suas atividades tal eficácia?
A repercussão da reportagem do Fantástico da Rede Globo com a armação de processo falsos de compras emergenciais em uma unidade de saúde pública está sendo muito interessante. Inquéritos estão sendo abertos, compras estão sendo revistas, funcionários sendo demitidos, pessoas estão se declarando chocadas, e assim por diante.
É muito salutar que se mostre a ação dos corruptores, a outra ponta dos conluios da corrupção, além da sempre mostrada face da política e dos agentes públicos. Sem disfarce e aberta, sua desfaçatez e simplicidade estão escancaradas em frases antológicas: “É a ética do mercado, entendeu?”; “E o troço é muito discreto. “Nem parece que é dinheiro”. “Traz na caixa de uísque”; “Uma coisa que eu passo pros meus filhos, que eu aprendi... eu protejo meu contratante, meu contratante me protege”; “Dez por cento, é o (sic) praxe”; “Até iene. Quer iene?”
Mesmo depois dessas imagens e desses diálogos escatológicos espalhados em rede nacional, abertos os inquéritos e os processos judiciais deles decorrentes, quem se atreve a prever em quanto tempo haverá alguma conseqüência penal concreta?
Como a reportagem foi montada sobre situação inventada, digamos assim “uma armadilha”, pergunta-se:
Conseguirão nossas polícias reunir provas com validade legal que possam comprovar crimes reais praticados por essas empresas e seus prepostos?
Se conseguirem, como a ação prosseguirá e em quanto tempo a Justiça resolverá, em ultima instância, dar uma sentença?
Dada alguma sentença condenatória haverá possibilidade de recuperação de algum dinheiro desviado? Em quanto tempo?
Se tivéssemos segurança de ter do Estado brasileiro respostas objetivas e conclusivas a esses questionamentos talvez não fosse preciso fazê-los com tanta ênfase.
Urbano Patto é Arquiteto-Urbanista, Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional, Secretário do Partido Popular Socialista - PPS - de Taubaté e membro Conselho Fiscal do PPS do Estado de São Paulo. Comentários, sugestões e críticas para urbanopatto@hotmail.com
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