quarta-feira, 21 de março de 2012

China e a balança:: Regina Alvarez

A preocupação com a desaceleração da economia chinesa afetou mais uma vez os mercados ontem. A redução da demanda do país por minério de ferro, mencionada em relatório da BHP Billiton, foi o mote para a queda do Ibovespa, que fechou em baixa de 0,64%, puxado pelas ações da Vale. A China é o nosso principal comprador de minério de ferro e as vendas do produto respondem por 16,3% das exportações brasileiras.

Não é de se estranhar então que a desaceleração da economia chinesa também cause preocupação por aqui, principalmente pelo peso que os produtos básicos têm na balança comercial. As exportações de minério de ferro caíram nos dois primeiros meses do ano, na comparação com o mesmo período de 2011, mas o que puxou a queda foi o valor das exportações, menos 19%; e não o volume, menos 4%.

O economista Marcos Lélis, coordenador da Unidade de Inteligência Comercial e Competitiva da Apex-Brasil, vê nesses números um indicativo de que a desaceleração chinesa não terá tanto impacto na performance da balança comercial em 2012. Os preços do minério de ferro estão caindo há meses no mercado internacional já influenciados pela expectativa do mercado financeiro de desaceleração da economia daquele país. E os sinais mais recentes são de acomodação desses preços.

- Já se percebe uma estabilização dos preços nesse patamar mais baixo. O mercado futuro antecipou o movimento de desaceleração da economia chinesa - observa.

Lélis lembra que, por enquanto, a queda nos preços do minério de ferro está sendo compensada pela alta do petróleo, o segundo maior peso na pauta de exportações. Se a desaceleração chinesa puxa para baixo os preços do minério de ferro, os problemas com o Irã e na região do Golfo estão puxando o preço do petróleo para cima, o que traz algum equilíbrio para a balança. Juntos, minério de ferro e petróleo respondem por 25% das exportações brasileiras.

Mas na visão do economista a alta não se manterá até dezembro e por isso a balança pode ter déficits mensais a partir do terceiro trimestre.

- Não dá pra afirmar que vamos ter déficit no ano, mas é possível que alguns déficits mensais ocorram no último trimestre - prevê.

Risco I. Se o aumento do preço do petróleo pode ajudar a equilibrar a nossa balança comercial, é motivo de preocupação pelo impacto que pode causar nas economias do mundo. Ontem, a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, alertou que a alta da cotação poderá colocar em risco a recuperação mundial.

O Barril do tipo brent passou de US$ 128 este mês, e as tensões no Irã, segundo Lagarde, poderão rapidamente elevar o preço entre 20% e 30%. Isso faria com que a principal fonte de energia do mundo batesse o recorde de US$ 147 o barril, atingido pouco antes da crise financeira de 2008. Os preços já subiram 17% este ano.

Risco II. O Bank of America também está preocupado com a alta do petróleo e subiu sua estimativa para o preço do produto este ano. O banco vê com maus olhos principalmente os efeitos sobre a renda do consumidor americano. O BofA prevê o barril do tipo brent com média de US$ 118 este ano, contra projeção anterior de US$ 110. Além das tensões no Irã, há outros focos de pressão: injeção de liquidez por parte dos bancos centrais; risco menor de ruptura na Zona do Euro e estoques em níveis baixos. Há cautela também sobre o que pode acontecer com Itália e Espanha, países que são grandes importadores de petróleo.

Quem paga a conta? O Ministério da Previdência e as centrais sindicais criticam, nos bastidores, a postura do Ministério da Fazenda, que decidiu, de forma unilateral, desonerar a folha de pagamento de alguns setores da indústria e negocia com outros o mesmo benefício. A queixa é que a equipe econômica ainda não concluiu a regulamentação que vai definir como será feita a compensação para a Previdência dessas desonerações.

Para alguns segmentos, como calçados, confecções e produtos de informática, desde dezembro a contribuição patronal para a Previdência de 20% sobre a folha foi substituída por uma alíquota entre 1,5% e 2,5% sobre o faturamento. O impacto estimado da renúncia fiscal nos três setores é de R$ 60 milhões por mês e na avaliação do pessoal da Previdência esses recursos farão falta lá na frente.

Segregados. As centrais sindicais reclamam que o comitê de acompanhamento prometido pela presidente Dilma para monitorar o impacto das medidas na Previdência e no emprego não saiu do papel. Já o Ministério da Previdência gostaria de participar da discussão sobre a desoneração da folha com a Fazenda. Acredita que é parte envolvida e tem contribuições a oferecer.

FONTE: O GLOBO

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