Se estiver dando para entender direito o que o PMDB anda dizendo sobre a CPI da vez, o partido tem um plano. Posa de bom conselheiro, na certeza de que o PT se enrola todo e acaba deixando o governo em maus lençóis.
Instalada a confusão, usa de sua influência e experiência para salvar a situação abatendo logo dois coelhos: enfraquece o parceiro que identifica como um bom amigo da onça e recupera prestígio no Palácio do Planalto.
Entraria em cena assim como uma espécie de guia genial dos povos.
Na teoria, como sempre, tudo corre bem. O problema dos planos muito bem elaborados é a desobediência da realidade e a insubordinação das consequências.
Em 2005 a oposição projetou o sangramento político do então presidente Luiz Inácio da Silva considerando desnecessário confrontar sua investidura no cargo com a confissão do publicitário Duda Mendonça sobre uso da caixa dois na campanha presidencial.
Em 2010 a mesma oposição planejou com capricho uma vitória e com o mesmo afinco ajudou Lula a construir uma derrota.
Há inúmeros exemplos da distância existente entre a projeção e a execução de empreendimentos.
Até engenheiros considerados muito competentes cometem erros de cálculo. Note-se o ex-presidente Lula agora no papel diverso do acima citado.
Por enquanto seus planos para Fernando Haddad como candidato a prefeito de São Paulo não têm saído conforme o roteiro original, embora essa ainda seja uma obra em aberto e pode haver modificações.
O que não se alteram são os relatos sobre a oposição da presidente Dilma Rousseff à ideia de Lula de incentivar a comissão de inquérito com o propósito de dar o troco em adversários e anuviar o ambiente de julgamento do mensalão.
O senador Delcídio Amaral, do PT, acha o gesto equivocado: "São coisas diferentes, tratadas em foros distintos e, além do mais, misturá-las só serve para enervar o Supremo e complicar em vez de facilitar a situação".
É a tal história dos planos: assim como ninguém garante que o PMDB possa controlar a situação e ficar de fora do que venha por aí, tampouco é possível assegurar que se houver seriedade nas investigações originadas nas relações do senador Demóstenes Torres com Carlos Augusto Ramos, não se tenham escarafunchadas as relações entre governos (federal inclusive) e empreiteiras.
Com repercussão direta e imprevisível sobre o PAC e demais obras públicas. Não é à toa nem por acaso que há anos se tenta sem sucesso e se evita com grande êxito sentar essas senhoras nos bancos de uma CPI.
Cerca Lourenço. De todas as cenas impróprias que a política produz dia sim outro também, entre as recentes a pior é a do deputado João Paulo Cunha, dublê de réu do mensalão e presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, em périplo aos gabinetes dos ministros do Supremo Tribunal Federal.
Por ora pediu audiências a cinco ministros e foi atendido por um, justamente José Antônio Dias Toffoli, assessor jurídico da Casa Civil à época do escândalo e depois advogado-geral da União.
A alegação de que teria ido entregar relatório sobre alterações no Código Penal não faz sentido, pois Cunha além de não ser o relator (era o deputado Sérgio Barradas Carneiro) não tinha delegação para tal.
A motivação óbvia é "sentir o clima" entre os ministros. Uma inconveniência, de parte a parte.
Bendita. Ao contrário do que diz o (a partir de hoje ex-presidente do Supremo Tribunal Federal) Cezar Peluso, Eliana Calmon deixará sim um legado importante como corregedora do Conselho Nacional de Justiça.
Ela pode não ter, como disse o ministro, "apresentado resultados concretos" sobre várias denúncias envolvendo magistrados. Até porque não é senhora do tempo da conclusão dos processos.
Mas contribuiu com atitude, pondo vários pontos em muitos "is". O que não é pouco no ainda obscuro ambiente da Justiça.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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