quinta-feira, 19 de abril de 2012

Brasil não é mais campeão de juros altos

Banco Central corta a taxa básica para 9% ao ano, como queria Dilma. Rússia assume o posto ocupado pelo país desde 2010

Victor Martins

Diante da necessidade de fazer o país crescer ao menos 4% neste ano — número considerado improvável pelo mercado, que estima avanço abaixo de 3% —, o Banco Central jogou, ontem, mais combustível na atividade econômica. Como prometido ao Palácio do Planalto, o presidente da instituição, Alexandre Tombini, conseguiu o apoio unânime de todos os seus colegas de diretoria e sacramentou o corte de 0,75 ponto percentual na taxa básica de juros, de 9,75% para 9% ao ano. Foi a sexta queda consecutiva desde agosto do ano passado — no total, a redução chega a de 3,5 pontos. Com isso, o Brasil deixou para trás o nada lisonjeiro título de campeão mundial dos juros altos, com taxa real (descontada a inflação) de 3,4%, fato que não se via desde janeiro de 2010. O país foi superado pela Rússia, com 4,2%.

Apesar de um comunicado simples, o Copom sinalizou a possibilidade de pelo menos mais uma baixa da Selic na reunião de maio, de 0,25 ponto, para 8,75% anuais. A porta aberta foi indicada pela visão de que os riscos de inflação, "neste momento, permanecem limitados". Também ressaltou que, "dada a fragilidade da economia global, a contribuição do setor externo tem sido desinflacionaria". Ou seja, o recuo das cotações da commodities (produtos básicos com cotação internacional) tem ajudado a aliviar o custo de vida no Brasil, sobretudo os preços dos alimentos.

O BC também pode fazer uma parada técnica para avaliar o ritmo da atividade e da inflação e, mais à frente, retomar o processo de diminuição da Selic. Por enquanto, as estimativas do mercado para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ainda não são confortáveis: 5,08% para este ano e 5,50% para 2013, bem acima do centro da meta, de 4,5%, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). "Imaginava que o BC faria exatamente isso. Não quis se amarrar dizendo que pararia de cortar os juros e, mais a frente, ser obrigado a reduzir porque a atividade econômica não respondeu a contento. Não quis correr o risco de se contradizer", avaliou Carlos Thadeu Filho, economista da gestora de recursos Franklim Templeton.

Tal avaliação foi endossada por Carlos Kawall, economista-chefe do Banco J. Safra. "O BC quis deixar os rumos da Selic em aberto. Agora, temos de esperar a ata da reunião, que será divulgada na próxima semana, para buscar alguma indicação mais clara do que ocorrerá", disse. Para Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco, a decisão foi acertada. Segundo ele, o cenário global de queda das commodities e a atividade doméstica em recuperação mais lenta do que o previsto deixam o Copom confortável para adotar a estratégia atual: manter os juros próximos do mínimo histórico — de 8,75%, que vigoraram entre junho de 2009 e março de 2010 — por um longo período.

José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, foi além. "Quando se está certo, não há porque mudar a trilha. Não vejo razão para que o BC cortasse menos que 0,75 ponto percentual", destacou. De qualquer forma, assinalou ele, como os juros reais estão muito abaixo do histórico, o melhor a ser feito pela autoridade monetária é parar para ver o que ocorrerá com a economia. Não se pode esquecer o efeito defasado da taxa Selic — entre seis e nove meses. Além disso, vem sendo dados estímulos à indústria e ao crédito, por meio de um forte pressão para que os bancos cortem spreads e juros aos consumidores e às empresas.

"O país vai crescer mais, de fato, ao logo do segundo semestre deste ano. Mas isso também é uma tendência para 2013", disse Homero Guizzo, economista da LCA Consultores. "É bastante possível um crescimento próximo de 5% no ano que vem", calculou Octavio de Barros. Segundo Newton Rosa, economista-chefe da Sul América Investimentos, a economia avançará no segundo semestre do ano a uma taxa anualizada de 5% a 6%, como espera o Ministério da Fazenda. "Isso deve pressionar a inflação", alertou.

Independentemente das indicações do BC, os economistas não descartam a possibilidade de a autoridade monetária levar os juros a 8,75% ou a 8% . "Nada pode ser descartado. Tudo dependerá do ritmo da atividade. Se a economia continuar fraca, teremos mais juros para baixo, com o limite dos 8% que obrigaria a ajustes na rentabilidade da caderneta de poupança", argumentou Barros. "Eu acredito que haverá mais corte, só não dá para saber em que ritmo", apostou Thadeu Filho.

No limbo

O Indicador de Atividade Econômica do Banco Central e estudos semelhantes do setor privado, como os do Itaú Unibanco, comprovam que a autoridade monetária tem acertado a mão. A atividade encolheu tanto em janeiro (0,13%) quanto em fevereiro (0,23%), comprometendo as metas de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano definidas pela presidente Dilma Rousseff.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

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