O PT sofreu pela primeira vez, em razão da CPI do caso Carlinhos Cachoeira, os transtornos de uma organização que tem duplo comando. É o chamado dilema da barata tonta. A quem atender quando os chefes divergem?
Assim que surgiram na imprensa as gravações que desmascararam o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), Lula estimulou o PT a pisar no acelerador e abrir uma comissão de investigação no Congresso.
Com "sangue nos olhos", como bem informou Mônica Bergamo, o ex-presidente viu uma oportunidade para acuar a oposição e equilibrar a balança da ética (ou melhor, da falta de ética) na opinião pública num ano eleitoral em que o julgamento do mensalão no STF tende a reavivar constrangimentos para o partido.
Dada a ordem de Lula, a ação foi imediata. Petistas se articularam com os aliados no Congresso e correram para anunciar a criação da comissão antes mesmo de conseguir coletar as assinaturas necessárias.
Bom, aí Dilma voltou do exterior e se deparou com o fato consumado. Contrariada, mas sem ter como engavetar a investigação, colocou um pé no freio a fim de tentar algum controle sobre a CPI. O PT agora corre para viabilizar suas exigências em relação à montagem da comissão e à amplitude da investigação.
A CPI é complicada para a presidente porque paralisa o Legislativo, dá mais força para políticos que ela tenta escantear (Renan Calheiros, Henrique Alves, Romero Jucá etc.) e, sobretudo, ainda tem potencial para respingar no próprio governo em razão do envolvimento da principal empreiteira do PAC com Cachoeira.
Dilma e Lula já conversaram para acertar os ponteiros. O PT como barata tonta não interessa a nenhum dos dois, pois abre uma brecha para a ação da fragilizada oposição. Mas, se não houver uma sintonia fina entre eles, outras divergências tendem a emergir por conta das prioridades de cada um. A de Dilma, claro, é o seu governo. A de Lula, a sua política.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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