Após pressão da presidente Dilma para os bancos reduzirem os juros, o Itaú Unibanco e o Bradesco, as duas maiores instituições privadas do país, anunciaram o corte das taxas em diferentes modalidades de empréstimos para pessoas físicas e empresas, como financiamento de veículos, crédito pessoal e com desconto em folha. Os dois bancos também vão elevar o volume de crédito disponível, seguindo o caminho iniciado por Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. HSBC e Santander já haviam reduzido suas taxas. Segundo analistas, porém, os juros mais vantajosos não serão oferecidos a todos os clientes. Para o vice-presidente da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Miguel Oliveira, as reduções de taxas acontecem em linhas de crédito em que há competição. "É uma estratégia para não perder clientes", diz
Bancos privados jogam a toalha
Após pressão do governo, Bradesco e Itaú cortam juros e ampliam volume de crédito disponível
João Sorima Neto
Sob pressão da presidente Dilma Rousseff, o Itaú Unibanco e o Bradesco, os dois maiores bancos privados do país, anunciaram ontem redução de taxas de juros em diferentes modalidades de crédito para pessoas físicas e empresas. As duas instituições, que também divulgaram que vão elevar o volume de crédito disponível no mercado, seguiram o caminho iniciado por Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal (CEF), ambos bancos públicos, para aumentar a concorrência no setor e estimular o crescimento do país. HSBC e Santander também já haviam reduzido suas taxas. Analistas alertam, contudo, que os cortes mais vantajosos não serão oferecidos a todos os clientes.
- É difícil saber quanto da carteira de crédito dos bancos terá acesso às taxas mais baixas. O que se sabe é que nem todos os clientes serão beneficiados. Na ponta do lápis, os bancos nunca perdem dinheiro. Eles vão reduzir a receita num segmento, mas certamente vão ganhar em outro - diz o economista Pedro Galdi, da Corretora SLW.
Na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), a reação foi negativa. Os papéis preferenciais (PN, sem direito a voto) do Bradesco caíram 0,13%, enquanto as do Itaú Unibanco se desvalorizaram 0,60%. Os papéis do Banco do Brasil se desvalorizaram 7,6% desde o anúncio da redução de suas taxas, em 4 de abril.
O Bradesco informou que ampliou a oferta de crédito em cerca de R$ 14 bilhões neste ano, sendo R$ 9 bilhões para pessoas físicas e R$ 5 bilhões para empresas. O banco reduziu o juro em quatro modalidades: financiamento de veículos, crédito pessoal, crédito consignado ao aposentado e crédito para aquisição de bens. O juro mínimo dos cartões de crédito emitidos em parceria com grandes redes varejistas, por exemplo, passa a ser de 2,49% para compras até 24 meses. O Bradesco informou ainda que , para ter acesso às taxas, basta ser cliente do banco. Não é exigida nenhuma contrapartida, como receber o salário pela instituição. A taxa mínima do crédito pessoal caiu de 2,66%para 1,97% ao mês. Já nos financiamentos de veículos, o patamar inicial de juros é de 0,97%, contra 1,35% antes.
Taxas dependerão do perfil do cliente
O Itaú Unibanco divulgou que o volume de crédito disponível tanto para pessoa física quanto jurídica chega agora a R$ 200 bilhões. O banco também reduziu o juro para financiamento de veículos, que passará a ter taxa mínima de 0,99% ao mês. Mas, neste caso, o cliente deve ter conta há mais de um ano, dar 50% do bem de entrada e pagá-lo num prazo máximo de 24 meses. O banco reduziu a taxa do crédito consignado para aposentados do INSS (que vai variar entre 0,89% e 2,2%) e criou benefícios para quem recebe o salário necessariamente numa conta da instituição. Essa parcela de clientes terá redução no juro do cheque especial e no rotativo do cartão de crédito. Para empresas, houve redução na taxa mínima do cheque especial, capital de giro e desconto de duplicatas e cheques, além de antecipação de recebíveis de cartões. Nos dois bancos, os cortes valem a partir do dia 23.
O vice-presidente da Associação Nacional de Executivos de Finanças (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira, avalia que tanto o Bradesco como Itaú fizeram reduções em linhas de crédito onde há bastante competição entre os bancos, como o crédito consignado para aposentados e financiamento de veículos.
- É uma estratégia para não perder clientes - diz Oliveira.
Ao vincular a queda de juro do cheque especial e do cartão ao recebimento do salário numa conta da instituição, o Itaú busca atrair novos clientes, afirma Oliveira. Além disso, comenta, as taxas mais vantajosas dependerão do relacionamento com o banco.
O Santander também anunciou ontem uma conta com juro do cheque especial mais baixo para quem recebe o salário pela instituição.
- Reduzimos o juro para pessoa jurídica e há 90 dias vínhamos treinando o pessoal das agências para oferecer o benefício. Hoje (ontem), anunciamos a conta com juro mais baixo para pessoas que receberem o salário pelo Santander. Queremos que as pessoas tenham opção - disse Pedro Coutinho, vice-presidente comercial do banco.
Tanto o Bradesco como Itaú negaram que tenham baixado juro após a pressão do governo, com reclamações do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e da própria presidente Dilma Roussef, que disseram publicamente que os bancos cobram juro muito alto e havia espaço para reduções.
"Anunciamos essas inovações graças a modelagem que nos permite precificar com bastante exatidão os riscos de crédito de cada cliente" disse em nota o presidente do Itaú, Roberto Setúbal, enquanto o Bradesco disse que sua decisão estava "em consonância com os objetivos de estímulo ao crescimento econômico".
Mas analistas que acompanham a discussão sobre a redução dos spreads (diferença entre a taxa de captação e a cobrada dos clientes) dizem que os bancos decidiram dar o primeiro passo após o mal-estar da semana passada. O presidente da Federação Nacional dos Bancos (Febraban), Murilo Portugal, foi a Brasília e pediu ao governo a redução de tributos e dos compulsórios embutidos no custo dos empréstimos, que respondem por 26% do spread.
- Pegou mal os bancos fazerem exigências sem levar nenhuma contrapartida - afirmou um analista.
De acordo com Luís Miguel Santacreu, analista de bancos da consultoria Austin Asis, só será possível saber como a redução do juro terá impacto nas margens dos bancos no segundo e terceiro trimestres, quando as instituições divulgarem seus balanços.
FONTE: O GLOBO
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